quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O POEMA E O CESTO












D. Palhaço julga-se um mamífero culto.Pois está regiamente enganado.Burla meia-dúzia de parolos alarves com a sua falácia,mas a verdade é que roça o analfabetismo como se comprova pela errada utilização dos verbos.Ouçam-no bem,embora seja repugnante ouvi-lo:D. Palhaço fala com erros de ortografia!Mas sabe um poema.Ou melhor:sabe uns bocados de um poema que tritura à bel talante.Pobre poeta que  escreveu.Dará hoje,pela certa,pulos na cova por se ver vítima de tamanhos vilipêndios...Perguntarão vocês:mas como sabe ele um poema se até a ler lhe custa sem auxílio?Há uma expressão comum na estudantada quando é preciso saber de cor e salteado matéria na véspera dos exames:encornar.
Há quem diga que D. Palhaço encorna muito e bem.E de tudo um pouco.Já o poema,coitado do poema,passo-lhe ao lado.Troca rimas,desfaz métricas,mas continua a dizê-lo naquela voz monocórdica e chocarreira própria de quem possui um cérebro caliginoso.
Quem o vê declamar o cântico julga que foi ele quem o escreveu se escrever soubesse.Ah! E que dizer daquelas pobres almas basbaques de queixada caída de admiração perante a figura grotesca do seu pai espiritual?Ou daquelas pobres almas fardadas aspirando o seu bafo fétido?E então não é umpoema que grita,é a expressão autêntica da sua ordinarice.D. Palhaço acha-se dono do mundo como se acha dono do poema.E trata ambos da mesma maneira,o poema e o mundo: corrompe-os,manobra-os,vilaniza-os.Ao longe,assistimos a essa infecta degradação.Só um Pais manso suporta comportamentos tão rascas,exibições tão gratuitas de violência e de incivilidade.E por nada,ou quase nada.
Por apenas um cesto.


TEXTO DE AFONSO DE MELO

FONTE : JORNAL O BENFICA

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