sábado, 13 de maio de 2017

AS RELAÇÕES DE CONVENIÊNCIA


"Os casamentos por conveniência são o que são. Não têm amor. Neles não existe paixão, apenas interesse - de uma ou de ambas as partes. E por derem de conveniência têm destino traçado: acabam quando deixam de interessar - a uma ou a ambas as partes. Admito que uma vez por outra a conveniência até possa dar lugar ao amor, mas é raro. E não será, de certeza, o caso do reatar da ligação, mais ou menos sentimental, entre Sporting e FC Porto, que decidiram agora juntar-se depois de anos separados. A ideia - ou melhor, a base da ideia que nos é apresentada para oficializar a coisa, a pacificação do futebol português - até tem valor.
Mas não sejamos anjinhos. O reatar de relações institucionais entre leões e dragões serve (até pelo timing escolhido se vê isso) apenas como uma união de facto (porque falar em casamento seria de mais...) com um interesse comum: atacar a hegemonia do Benfica, à beira de se sagrar tetracampeões. Condenável? Nada disso. São estratégias, e no futebol português já percebemos que para ganhar todas as estratégias são válidas.
A questão é saber se terá efeito. Porque no fundo, aquilo que Sporting e FC Porto acabam por admitir - além da extraordinária admissão dos dragões de que os leões têm afinal mais quatro títulos de campeão nacional, uma luta que Bruno de Carvalho não dá por perdido - é que sozinhos não conseguem contrariar a máquina que Luís Filipe Vieira construí na Luz. Talvez uma aliança possa ajudar a resolver a questão. Talvez sim.
Mas há, nesta relação concreta, um problema que lhe vaticina um fim prematuro: mesmo que consigam acabar com a hegemonia do Benfica, Sporting e FC Porto não podem ganhar ao mesmo tempo - e nem Bruno de Carvalho nem Pinto da Costa estão em condições de adiar o título por muito mais tempo. Ou seja, quando (se) o primeiro objectivo for cumprido, vão começar as primeiras discussões.
E um casamento sem amor, já se sabe, não lhes resiste."

Ricardo Quaresma, in a bola

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