quarta-feira, 10 de maio de 2017

BRUNO DE CARVALHO AGORA COMO BUDA DA PAZ


"1 - Na passada semana, o futebol português acordou com uma notícia esperançosa: Bruno de Carvalho, esse Grande Pacificador, o Papa das boas relações do desporto, o Buda do futebol Zen, sim, esse mesmo, veio pedir a realização de uma cimeira ao mais alto nível para colocar um final definitivo no ambiente de hostilidade em que vive o futebol português neste final de campeonato. E fê-lo após um jogo com o SC Braga em que o Presidente dos minhotos se insurgiu contra uma arbitragem tendenciosa de Nuno Almeida no jogo Braga-Sporting. Nesta sua nova pele pacifista, até parece que nunca Bruno de Carvalho, este ano ou em anteriores, fez algo que contribuísse para esse ambiente de hostilidade do futebol, quer contra árbitros ou entre os próprios clubes.
2 - A "matriz pirómana diária" (expressão utilizada no louvável pedido de cimeira feito pelo Presidente leonino) nunca foi, segundo agora parece, atiçada por Bruno. É como se Kim Jong-um, líder coreano, depois de andar um ano a testar mísseis nucleares, apelasse à ONU para realizar a cimeira pela paz para o Mundo. Cimeira essa que contaria, entre outros, com Putin e Trump. A paz estaria garantida e o mundo poderia respirar em segurança.
3 - O certo é que Pedro Proença já veio publicamente dizer que aceita a proposta de Bruno de Carvalho para a realização da desejada cimeira do futebol. E - coincidência - Fernando Gomes, Presidente da FPF, veio referir que o sistema de videoárbitro entrará em vigor para todos os jogos já na próxima época. Ora, com esta predisposição pacifista de Bruno de Carvalho (que coincide com o facto de, neste final de campeonato, o Sporting não estar a lutar por nada, tendo o 3º lugar garantido) e com as novas tecnologias ao serviços dos árbitros, o futebol português tem, finalmente, assegurada a sua "pax aeterna". No entanto, o meu pessimismo, já confessado em crónicas anteriores, não me deixa partilhar esta opinião. Os climas de hostilidade são crónicos sempre que se aproxima o fim dos campeonatos. Sempre foi assim e continuará a ser. Faz parte da nossa cultura e o futebol é um dos fenómenos sociais que espelham essa nossa predisposição. Além disso, o nosso futebol, alicerçado nos ditos "3 grandes" potencia isso mesmo: os comentadores são dos "3 grandes", as análises dos jogos são dos jogos dos "3 grandes", os árbitros têm critérios especiais para os "3 grandes", etc...,etc...
4 - Por outro lado, estes "3 grandes" precisarão sempre de um "bode expiatório" quando não conseguirem alcançar os seus objectivos. O filósofo René Girard propõe a teoria do "bode expiatório" para explicar o aparecimento do fenómeno religioso. O bode expiatório serve sempre como catalisador da violência colectiva, como processo de apaziguar e estabilizar uma determinada comunidade. A lógica do bode expiatório é uma lógica sacrificial que se converte "num mecanismo de auto-regulação social com a finalidade de preservar o equilíbrio e a finalidade do sistema, o seu total fechamento (René Girard)". Com o videoárbitro estaremos, apenas, a arranjar mais um bode expiatório para "os do costume" do futebol português."

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