sexta-feira, 14 de julho de 2017

EI-LOS QUE PARTEM


"A música de Manuel Freire transformou-se numa ode à coragem dos imensos portugueses que decidiram procurar sustento noutras paragens nos anos 60, fugindo muitas vezes à miséria rural da ditadura. Nos últimos tempos, quando atroika laborava em pleno em Portugal, foram muitos os que tiveram de voltar a fazer-se ao caminho da vida longe de casa. Entre as muitas reportagens que li, talvez a mais tocante tenha sido a de uma filha única que, ao despedir-se da mãe, lhe deixou uma jura para a vida: «Nunca de deixarei morrer longe de mim».
É costume considerar que o futebol é um mundo à parte na sociedade. Não, não é. É verdade que tem regras e idiossincrasias próprias, gera imenso dinheiro, cria ídolos e destrói-os mas, na prática, os futebolistas quando procuram uma vida (ainda) melhor têm de sair do país. Cá no burgo, os futebolistas ganham muito bem para a média dos trabalhadores - sem qualquer dúvida. No entanto, quando vão para o estrangeiro vão auferir salários duas ou três vezes superiores e é quase impossível segurá-los.
O último é Nélson Semedo, que tem o Barcelona como destino. Dos 23 jogadores convocados por Fernando Santos para a Taça dos Confederações, excluindo o já ex-benfiquista, só três ainda não jogaram, já profissionais, no estrangeiro: Rui Patrício, José Sá e Adrien... o leitor pode não se lembrar, mas William Carvalho esteve no Cercle Brugge e Danilo no Parma.
O sucesso dos jogadores portugueses no estrangeiro, aliado aos dos treinadores, tem sido indiscutível, óbvio. Para equilibrar a balança comercial do país, Portugal tem de exportar. Vendemos muita coisa, mas talvez o negócio mais rentável seja a comercialização do talento. Pena que nas outras áreas, quem acolhe os portugueses, não pague a quem os deixa sair. Certamente, estaríamos bem melhor."

Hugo Forte, in a bola

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