terça-feira, 31 de outubro de 2017

JOGAR PIOR


Há duas temporadas, no primeiro ano de Rui Vitória, quando o Benfica alcançou uns inéditos 88 pontos, à décima jornada, a equipa tinha 19 pontos, três derrotas e um empate, ocupava o quarto lugar e estava a sete pontos do líder Sporting, cinco do FC Porto e a um do Sp. Braga. Hoje, após a mesma jornada, temos 23 pontos e ocupamos o terceiro lugar. Talvez esta seja a melhor forma de colocar as coisas em perspetiva e um sinal, apesar de tudo, auspicioso do que pode estar para vir.

É um facto que o Porto lidera o campeonato, joga um futebol de grande intensidade e a sua máquina de propaganda, com o entusiasmo próprio das primeiras experiências, reconhece que "a sensação de estar em primeiro sem ajudas é inexplicável" (sic). Mas quando observamos a confiança superlativa com que Sérgio Conceição fala em outubro, podemos ficar com a ligeira impressão de que já estamos em abril, na reta final do campeonato. Os benfiquistas sabem bem – até por experiência própria – onde pode levar a soberba.
Quer isto dizer que há razões para otimismo quanto à possibilidade do Benfica voltar a erguer o caneco? Sim, mas desde que se mantenha a distância atual para FCPorto e Sporting até à reabertura do mercado e, entretanto, se corrijam os problemas físicos, anímicos e táticos que a equipa continua a demonstrar.
Talvez a questão passe mesmo por aí. O Benfica tem exibido um futebol paupérrimo e, invariavelmente, acaba os jogos pior do que começa. Aliás, no que ameaça tornar-se um enigma, o Benfica até tem entrado bem nas partidas e marcado cedo, para logo depois entrar numa espiral depressiva, onde apatia defensiva se combina com marasmo atacante. Bem pode Luisão dar um grito de comando e recolocar a bola no centro do terreno após os golos; até ver, a vontade do capitão de nada tem servido.
Que fazer? Provavelmente o melhor é assumir que o Benfica, para já, não tem condições (físicas!) para jogar um futebol positivo e ofensivo, pelo que o melhor mesmo é jogar pior. Isto é, equilibrar a equipa, assumir o controlo dos jogos com menos iniciativa atacante, mas, também, sem sofrimento a defender.
Insisto na tecla: em fases como a que o Benfica atravessa, até para proteger os elementos mais criativos, é preferível alterar o sistema, fortalecer o meio-campo e abdicar do ataque torrencial que caracterizou o Glorioso que conquistou o tetra. Um meio-campo a três, com o reforço de Krovinovic e apenas Jonas na frente (porventura contra a vontade do brasileiro) é, neste momento, preferível ao duplo pivô defensivo pouco criativo e que deixa demasiados metros até aos avançados, tanto mais que as alas estão quase inoperantes. Sem que se vislumbre um processo atacante, melhor mesmo é ir buscar inspiração num sistema à Trapattoni. Afinal, como lembra a fugaz passagem do italiano por Portugal, jogar pior pode bem ser uma forma de regressar a uma senda vitoriosa.
Pedro Adão e Silva, in Record

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