sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

AS BRUXAS DE RUI VITÓRIA


O Benfica saiu da Taça. Enquanto espectador de futebol, vi dos melhores 45 minutos, na primeira parte, dos encarnados nesta temporada. Num jogo com duas equipas que não beberam dos cânones da estratégia cínica da escola italiana, pelo contrário, entregaram-se ao combate com ambição, com a baliza sempre na mira, dando um grande espectáculo.
Também é certo que o Rio Ave é das equipas mais apaixonantes que passeia pelos nossos relvados. Já o ano passado, com Luís Castro, não o esqueçamos, tinha inúmeras notas artísticas, mas, este ano, António Silva Campos, acertou na "mouche" com um tiro quase no escuro, pois ainda não havia evidências de Miguel Cardoso a liderar um projecto. Sabia-se da sua enorme experiência e competência mas ainda não conhecíamos a sua ideia de jogo.

Logo, a queda do Benfica não pode só ser explicada por erros próprios, pois temos de fazer uma vénia à qualidade e categoria do Rio Ave. Cássio dá enorme tranquilidade a um quarteto defensivo liderado por um Marcelo que já merecia outros ares. Pélé e Tarantini são um bloco fortíssimo que sabe pisar aqueles terrenos onde tudo acontece, João Novais está em grande forma, Ruben Ribeiro é um artista e Xico Geraldes, que precisa de ganhar dimensão física para ser genial, tem classe, pés de veludo e faz a diferença no último passe. Como aríete, um autêntico guerreiro, Hélder Guedes que não vira a cara à luta. No banco, Miguel Cardoso, um mestre samurai que tem como código de honra o futebol ambicioso, bonito e positivo.
Rui Vitória que tinha visto lenços brancos contra o Basileia, voltou a ser apupado. Está num momento complicado. Claro que não é só ele que tem culpas no cartório. Qualquer benfiquista mais fanático consegue ver que houve erros na construção do plantel e as saídas de Ederson, Nélson Semedo, Lindelof e Mitroglou não foram devidamente compensadas. As saídas evidentes já em Janeiro de Douglas e Gabigol são o símbolo do disparate feito. E quando o motor da última época está gripado, a qualidade de jogo é sofrível. A versão desta temporada de Pizzi está como uma cópia oriunda de Lilliput.
Depois, há diversos equívocos, mudanças de sistemas, alternância de jogadores em múltiplas posições que retiram solidez a quem precisa de equilíbrio. Do 4-4-2 para o 4-4-3 já com a época a decorrer; entradas abruptas de Svilar, sem se dar mais moral a Bruno Varela, e Diogo Gonçalves que depois já não voltaram a calçar; demora em ver o talento de Krovinovic; Rafa e Zivkovic, dois enormes talentos e investimentos, de quem não se retira o melhor potencial; e ainda subsistem as contínuas lesões musculares. Não sei se o famoso bruxo Nhaga ainda colabora com a Luz, sei é que Rui Vitória não pode vir dizer que «não acreditamos em bruxas, mas às vezes parece que existem». O sobrenatural não explica tudo, ele que olhe para os próprios erros.
Rui Calafate, in Record

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