quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

O FUTEBOL PORTUGUÊS É UM "REALITY-SHOW"


O ministro da Educação acha que o futebol não pode ser um reality-show e que se o caminho for esse é necessário tomar medidas.
Sucede que o futebol em Portugal já é, entre outras lamentáveis singularidades, um verdadeiro reality show. Pior: é em muitos casos uma lixeira a céu aberto com a conivência, ainda não tenho a certeza se apenas por incapacidade e incúria, da Liga de Clubes a quem compete proteger e até promover a principal competição.
O último FC Porto-Benfica é paradigmático. O jogo não foi brilhante e a arbitragem foi péssima com clara influência no resultado, penalizando muito mais uma equipa que a outra. O Porto teve razões de queixa, os seus responsáveis falaram, o tema deve ser tratado nos programas de análise e comentário, o árbitro deve ser escrutinado. Tudo certo. Sucede que a medida é sempre a errada, pelo exagero.
Entre sexta feira da passada semana e esta terça feira - cinco longos dias - ex-árbitros, jornalistas, analistas, entre eles antigos jogadores e adeptos (alguns) aos gritos engalfunhram-se horas a fio nas TV's e, com imagens ampliadas, imagens para trás e para a frente, imagens em 3D, debateram à exaustão o clássico.
Falou-se vagamente de futebol, das opções dos treinadores, da condição das duas equipas.
Falou-se desmesuradamente do árbitro, das suas decisões, intenções, do VAR, do protocolo, da mão que para uns é peito, da entrada que não deu cartão e devia (ou não) ter dado expulsão, do outro penalti que foi ou não foi.
Falou se para lá do limite razoável do que aconteceu fora do relvado com a situação terceiro mundista de um adepto que entra no campo e, neste domínio, se percebe como são perversos os "programas de adeptos" onde se vê gente, que até temos como séria, e que aparece a defender o indefensável.
A arbitragem em Portugal tem os seus problemas - e se outros têm estão em investigação - mas, em muitas ocasiões, não é pior do que noutros países. Tem é um grau de exposição que a fragiliza e faz com que os erros sejam amplificados desta maneira irracional.
A preocupação do ministro, na recente entrevista ao DN e TSF, foi demasiado genérica . O problema não são apenas os programas de televisão - estes são apenas o espelho do clima de guerrilha instalado. O estado do futebol pede um envolvimento do poder político. Mudanças na lei, castigos mais pesados.
Tiago Brandao Rodrigues fez uma declaração de intenções numa altura em que as palavras estão gastas.
Os agentes do futebol, mesmo com alguém de excepcionais qualidades como é Fernando Gomes na liderança da Federação, não estão à altura para resolver o imbróglio dada a dimensão do mesmo.
Na última sexta entrou um adepto no campo, não aconteceu nada de grave, mas é um sinal. E outros houve nas divisões secundárias.
Não nos queixemos.
CONCEIÇÃO E OS NERVOS DE AÇO
Conhecido por ferver em pouca água Sérgio Conceição estava a dar indicações que atingira, com a chegada ao FC Porto, outra maturidade. Talvez não. Nas últimas semanas Sérgio derrapou perigosamente e esses sinais coincidiram com uma pequena quebra de rendimento da equipa que o perturbaram. Lembremos o jogo com o Portimonense.
Não confundamos no entanto o essencial com o acessório: Tendo razões objectivas de queixa da arbitragem o treinador do Porto fez bem em denunciar o que aconteceu nas Aves e no Dragão contra o Benfica. Mais, fez bem em ser directo na crítica neste país de paninhos quentes. Sucede que, num tempo tão crispado, a Sérgio Conceição também se pede ponderação. É um equilíbrio instável, mas tem que o conseguir atingir.
Ser capaz de controlar as emoções, sem perder a sua natureza, é uma das chaves do êxito do FC Porto esta época. O trabalho feito, o espírito da equipa e o apoio dos adeptos dão lhe um crédito merecido.
BRUNO VARELA Ao contrário de muitos profetas da desgraça sempre defendi Bruno Varela e a sua capacidade para ser o guarda-redes do Benfica. Depois de ter sido miseravelmente afastado da equipa, após o deslize no Bessa, Varela parecia condenado ao degredo. Svilar entrou, os elogios sucederam-se, os erros foram todos fruto da juventude e o tema parecia arrumado. Note-se que nada me move quanto ao jovem belga que tem óbvias qualidades. Sucede que, neste exacto momento, Varela dá mais garantias. Veremos se Rui Vitória é justo na decisão.
DE GEA A assombrosa exibição de David De Gea na baliza do Manchester United veio lembrar que, mesmo nos guarda redes, a qualidade é mais importante que a idade. Claro que De Gea está hoje numa fase madura mas, mesmo quando chegou à Premier League em 2011, já estava sinalizado como um guarda redes de enorme potencial e grande futuro. Nos muitos elogios que se leram sobre ele esta semana o mais impressivo talvez seja o de que parece, pelos seus movimentos, um personagem do filme Matrix.
Nuno Santos, in Record

1 comentário:

  1. «... a arbitragem foi péssima com clara influência no resultado, penalizando muito mais uma equipa que a outra. O Porto teve razões de queixa...».
    O quê? E o Benfica não teve razões e queixa? Dar eco a um artigo de um tipo que não fala das inúmeras razões de queixa que o Benfica tem daquela arbitragem? É demais para a minha compreensão!

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