quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

O FUTEBOL COMO OBRA DE ENGENHARIA


Não há forma de dar um contributo original na análise do jogo interrompido no Estoril. Qualquer dos grandes, a perder ao intervalo, se pudesse arrancar uma vitória na justiça desportiva, não arriscaria voltar ao relvado, muito tempo depois, para jogar a parte que falta.
A parte que falta não é a segunda parte do jogo interrompido. É um novo desafio, de apenas 45 minutos, contra uma equipa que arranca o pontapé de saída sem desgaste acumulado. Sem o sangue menos oxigenado a dificultar as melhores decisões, a tolher os músculos.

Portanto, estes são três pontos para decidir, não pelos jogadores e treinadores, nem por árbitro e vídeo-árbitro. Entram agora em campo os engenheiros. Depois entrarão os juristas. Como dizia o sábio instantista, Paulo Futre, ontem, na CMTV, a discussão deste caso passa agora mais pelo programa ‘Rua Segura’ do que pelo ‘Pé em Riste’. Os engenheiros do LNEC estão entre os melhores do Mundo. Difícil será destrinçar – assim parece a este leigo que vos escreve – se as fendas visíveis no avesso da bancada já lá estavam ou terão sido resultado do sismo sentido na manhã do jogo. Como estamos no domínio do futebol, seja ela qual for, a decisão dos engenheiros será sempre polémica. Já aquecem os juristas.
O Estoril vence, neste intervalo mais longo de que há memória, por um a zero, graças a um bom golo, numa bola que merecia a superação do jovem guarda-redes do FC Porto. José Sá estava mal colocado. Só lhe restou ficar bem na fotografia.
Também Bruno Varela falhou na baliza do Benfica. O erro é mais nítido e merece mesmo o carimbo de frango. Aqui ficou escrito há uns meses que Benfica e FC Porto deveriam apostar nos seus jovens guardiões e ter paciência.
Também este modesto escriba tem buscado essa qualidade tão querida dos orientais. Mas vai sendo tempo de dizer a Bruno Varela que tem de melhorar o jogo com os pés – é preciso trabalho, muito trabalho – e não mudar a decisão quando abandona a baliza para sair a um centro. Se acha que não chega lá, não sai. Se sai, tem de chegar à bola, leve quem levar à frente.
Bruno Varela está finalmente a ter uma verdadeira oportunidade para mostrar a sua imensa valia. Os dois defeitos, que aqui se apontam, são facilmente corrigíveis. O jogo com os pés melhora-se com muito trabalho de campo (lembre-se o exemplo do grande Bento, que ficava a trabalhar quando todos os outros já tinham tomado duche). O tempo de saída da baliza é mais uma questão mental. Varela tem de conhecer os limites do seu alcance. Identificar as causas do erro. Quando decide a saída não pode mais hesitar. Como maior desastre nesse domínio, o Benfica já teve o Roberto.
Octávio Ribeiro, in Record

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