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quinta-feira, 30 de novembro de 2017

CEMITÉRIO DE ELEFANTES


"Júlio César, guarda-redes do Benfica, decidiu colocar ponto final na sua relação com os encarnados. Aos 38 anos, tricampeão em Portugal (81 jogos de I Liga disputados), depois de ter sido pentacampeão de Itália ao serviço do Inter de Milão (228 jogos realizados na Série A), clube com que se sagrou campeão europeu, sendo eleito melhor guarda-redes da UEFA em 2009/10 e contando no currículo com 87 internacionalizações A pelo Brasil, Júlio César terá entendido não estar nas melhores condições para prosseguir a sua aventura na Luz.
O futebol português deve estar agradecido a uma grande figura do panorama internacional, como Júlio César, pelo que de bom mostrou entre nós, especialmente na primeira temporada, e pela visibilidade externa que deu ao nosso campeonato. Júlio César despede-se de Portugal, como fizeram no passado monstros sagrados das balizas como Ferenc Meszaros, Joseph Mlynarczyk, Peter Schmeichel, Michel Preud'homme, num caminho que também estará a ser trilhado por essa lenda do futebol mundial que dá pelo nome de Casillas. Na simbologia do cemitério de elefantes, Portugal teve muito gosto em recebê-los. Embora a busca dos nossos clubes esteja essencialmente virada para promessas susceptíveis de serem potenciadas, não será demais lembrar a importância que grandes jogadores em fim de carreira têm assumido no futebol nacional, de Teófilo Cubillas a Salif Keita, passando pelo incontornável Pablo Aimar. Não é por este tipo de contratações que os clubes lusos se têm dado mal. O problema é quando contratam jogadores estrangeiros indiferenciados, por razões abstrusas..."

José Manuel Delgado, in A Bola

JONAS EM ENTREVISTA SOBRE OS 100 GOLOS

                                           

PARASITAS E CÁGADOS ASSASSINOS


Quem gosta de futebol sabe que, entre o nosso olhar de fora e as decisões dos treinadores, há sempre enormes discrepâncias. Os treinadores lidam com coisas que nem imaginamos. Equilíbrios políticos nos balneários. Lesões e falsas lesões. Negócios ínvios. Afirmações de poder. Depois, por vezes, inventam mais do que Deus dá. Os excessos de pressão levam a isso. Os excessos de auto-estima, também. Não vou recordar mais do que o desastre decidido por um técnico de qualidade extra, Jorge Jesus, ao colocar David Luiz, na esquerda a marcar Hulk. Lembram-se?

Estamos, hoje, na véspera de um escaldante FC Porto-Benfica. Tem toda a razão Rui Vitória, quando evoca o triângulo virtuoso: jogadores, treinadores, árbitros. São estes agentes, e apenas estes, que podem arrancar o futebol das garras dos parasitas que o têm sequestrado nas últimas décadas. Para o entregar à sua razão final – os adeptos.
Não esperemos que, nas palavras de hoje, Sérgio Conceição ou Rui Vitória sejam brandos ou vácuos. A missão dos líderes técnicos, na véspera de um grande jogo é deixarem ideias no ar. A pairar luz sobre o seu exército e a cair tempestade sobre as forças adversárias. Quanto melhor, mais assertivo, for o discurso de cada um dos técnicos, mais promete o duelo sobre a relva, aprazado para amanhã.
Cada um dos técnicos tenderá a incluir no seu discurso figuras de estilo, destinadas à interpretação da terceira equipa em campo. O terceiro vértice do triângulo definido por Rui Vitória. Triângulo, cuja descodificação, Sérgio Conceição subscreveria na íntegra, não estivesse em véspera de um grande duelo.
Todos os homens do futebol sabem que tudo, num grande clássico, se deveria passar entre o triângulo confinado por jogadores, treinadores e árbitros. Com as paixões a pulsar nas bancadas do estádio e nas televisões de todo o Mundo em Português.
São os parasitas, os cágados, regurgitantes em torno deste maravilhoso fenómeno, o futebol, que o estragam e tornam azedo. Irão matá-lo, se deixarmos.
Muito pior do que um técnico, ou um jogador que não aguenta a pressão, e assim fica negativamente na história de um clássico; muito pior do que um árbitro medroso, que por isso grava o seu nome a negativo na memória colectiva – mesmo na dos vencedores –; muito pior do que tudo o que possam fazer quaisquer agentes do triângulo virtuoso definido por Rui Vitória; muito, muito piores, do que tudo isso, são a ações dos senhores de cinzento, que estão no futebol, nas suas tribunas ou túneis, como poderiam estar no boxe ou no póquer, só para poderem vender resultados condicionados. E com isso julgam achar que ganham a vida.
Mesmo que com isso matem lentamente a paixão. E, com ela, a dimensão mágica do jogo.
Octávio Ribeiro, in Record

"CLÁSSICO É MAIS IMPORTANTE QUE QUALQUER EMAIL, TWITTER OU FACEBOOK"

                                         


Técnico do Benfica fez a antevisão da partida com o FC Porto.
Rui Vitória garante que o empate do FC Porto na última jornada não muda a estratégia do Benfica quer quer trazer os três pontos da deslocação ao Dragão.
O técnico do Benfica não considera que o FC Porto deste ano seja melhor que o do ano passado, no entanto, sublinhou a eficácia do azuis e brancos, tanto a atacar como a defender.
"O FC Porto é sempre difícil, no ano anterior também foi. Sempre teve belíssimas equipas. É uma equipa que tem sido eficaz. É uma equipa que se torna difícil e também vai ser difícil para o FC Porto. É uma equipa que luta pelos pontos. É uma equipa que esteve bem no campeonato e tem sido eficaz a defender a atacar".
Estratégia
"Se o FC Porto tivesse ganho na semana passada, a forma de abordar seria a mesma. Queremos ganhar. O querer ganhar não é estar de forma obsessiva ao ataque. Temos que saber os momentos que são para sofrer. Faz parte de tudo aquilo que é a estratégia de jogo. Não mexe em nada do que é a nossa forma de pensar. Quer há uma semana atrás quer agora. Sei que do outro lado há uma equipa que nos quer ganhar a nós", começou por dizer.
Bom resultado
"Um bom resultado num jogo destes é sempre importante, nós motivamos-nos porque estar neste clube é ganhar permanentemente. Estar neste clube é lutar contra as adversidades. Há jogos que são mais mediáticos. São jogos que são interessantes de seguir. A grande riqueza do Benfica é esta. Nós nunca sabemos qual é o jogo importante e decisivo. (...). São jogos que gostamos muito de participar. A adrenalina vai vir ao de cima e que seja transportada para a competitividade. E que toda a gente vá para casa tranquila".
Nas oito deslocações à casa dos portistas, o técnico alcançou somente dois empates.
O treinador do Benfica garante que há um objetivo comum entre as duas equipas no Clássico. É um clássico do futebol português com duas grandes equipas com qualidade e que qualquer uma pode ganhar. Na conferência de imprensa de antevisão do Clássico com o FC Porto, o treinador das 'águias' garante ter muita ambição.
"As duas vão tentar ganhar. Em relação a favoritismos, não há favoritismos neste tipo de jogos. É uma frase dita muitas vexes neste tipo de jogo. Há uma ambição comum por parte das duas equipas. Posso dizer que vamos com muita ambição. Nós queremos ir ao Porto ganhar tal como o FC Porto nos quer ganhar a nós”.
Sobre a diferença de pontos, Rui Vitória afirmou que o campeonato ainda só vai na 13ª jornada e que ainda falta muito para o fim. O técnico admitiu que o FC Porto esteve mais forte no arranque da temporada porque seguia em primeiro, mas que há muito jogo por disputar.
“ Não me custa nada admitir que o FC Porto esteve melhor e na frente do campeonato. Somou mais pontos. Ponto final sobre isso. Vamos na 13ª jornada e ainda faltam muitas jornadas para o fim. O FC Porto esteve na frente e já esteve mais longe de nós, mas é como digo: ainda falta muito. Amanhã vai ser um jogo com muita qualidade”.
Questionado sobre se vão haver interferências de fora, Rui Vitória assegurou que o jogo é muito mais do que os casos de fora.
"O que eu quero é que se desfrute do jogo e que quem vá ao estádio possa ir para casa bem. O nosso desejo é que os benfiquistas saiam satisfeitos. É um adversário de qualidade. Nada mais do que isso. São duas equipas com qualidade e isso é muito mais importante do que qualquer email, Twitter e Facebook".
O Benfica vai visitar o FC Porto no Estádio do Dragão na 13ª jornada da Primeira Liga. Os 'encarnados' seguem com menos três pontos do que os 'azuis e brancos' que são lideres da Primeira Liga.
O clássico entre FC Porto e Benfica está marcado para esta sexta-feira a partir das 20h30, no Estádio do Dragão.
Convocados:
A chamada de Rafa é a grande novidade nos eleitos de Rui Vitória para o Clássico com o FC Porto. O extremo volta a merecer a confiança do técnico, agora para o jogo grande da 13.ª jornada.
Em sentido contrário, destaque para a saída de Douglas dos eleitos, ele que tinha sido chamado para o jogo com o Vitória de Setúbal. O jovem norte-americano Keaton Parks mantém-se nos eleitos.

Também de fora do ‘clássico’ estão o central Rúben Dias, que foi operado a uma apendicite aguda, e o médio brasileiro Filipe Augusto, a contas com um traumatismo no pé direito, segundo o boletim clínico das ‘águias’. Gabriel Barbosa volta também a ficar de fora das opções de Rui Vitória.
O FC Porto, primeiro classificado, com 32 pontos, recebe esta sexta-feira, às 20:30, o Benfica, terceiro, com 29, no Estádio do Dragão, para a 13ª jornada da I Liga, num encontro para o qual ainda não foi revelada a constituição da equipa de arbitragem.
Convocados do Benfica
A chamada de Rafa é a grande novidade nos eleitos de Rui Vitória para o Clássico com o FC Porto. O extremo volta a merecer a confiança do técnico, agora para o jogo grande da 13.ª jornada.
Em sentido contrário, destaque para a saída de Douglas dos eleitos, ele que tinha sido chamado para o jogo com o Vitória de Setúbal. O jovem norte-americano Keaton Parks mantém-se nos eleitos.
Também de fora do ‘clássico’ estão o central Rúben Dias, que foi operado a uma apendicite aguda, e o médio brasileiro Filipe Augusto, a contas com um traumatismo no pé direito, segundo o boletim clínico das ‘águias’. Gabriel Barbosa volta também a ficar de fora das opções de Rui Vitória.
O FC Porto, primeiro classificado, com 32 pontos, recebe esta sexta-feira, às 20:30, o Benfica, terceiro, com 29, no Estádio do Dragão, para a 13ª jornada da I Liga, num encontro para o qual ainda não foi revelada a constituição da equipa de arbitragem.
Guarda-redes: Svilar e Bruno Varela
 Defesas: Eliseu, André Almeida, Grimaldo, Luisão, Jardel e Lisandro López
 Médios: Fejsa, Salvio, Pizzi, Samaris, Zivkovic, Krovinovic, Cervi, Diogo Gonçalves, Keaton Parks, 
Avançados: Raul Giménez, Jonas, Rafa e Seferovic.

UM JOGO TÃO ESPECIAL


Clássico é clássico e sempre diferente de todos os outros, mas numa época em que a guerra aberta entre os três grandes faz títulos a cada minuto que passa, o FC Porto-Benfica de amanhã é muito especial. Isto porque se trata de uma excelente oportunidade para todos os que amam o futebol mostrarem que estão à altura dos acontecimentos. De jogadores a treinadores e adeptos. Não falo de dirigentes pois as desilusões aí têm sido em regime diário e não vale a pena termos ilusões.
Em confronto vão estar duas das melhores equipas portugueses, espera-se que apitadas por um árbitro de elite, também ele capaz de dar um recital de competência. Gostava de acreditar que Sérgio Conceição e Rui Vitória vão pedir o máximo às suas equipas, mas sem recorrerem a estratagemas para driblar as leis e que o VAR vai funcionar do princípio ao fim e brindar-nos com 90 minutos em que saberá intervir quando for caso disso. Sem vontade de agradar a gregos e troianos. Nunca funciona.

O melhor que podia acontecer era assistirmos a um jogo competitivo, de luta, intenso, mas sem casos decisivos que nos levassem à discussão ad nauseam um pouco por todo o lado. Não precisamos de um jogo assético e sem vida. Pelo contrário. Mas que no final se fale de bola. Por muito utópico que pareça.
Bernardo Ribeiro, in Record

SPORTING E BENFICA INTOCÁVEIS ATÉ PERTO DO INTERVALO


Após a realização de 12 jornadas, os rivais da Segunda Circular estão praticamente lado a lado na perseguição ao líder FC Porto, já que apenas 1 ponto separa leões e águias, com vantagem para a formação de Alvalade. Contudo, as semelhanças entre o desempenho das duas formações não se ficam por aí, sendo de destacar que têm exatamente o mesmo número de golos sofridos (8) com a particularidade de somente terem encaixado 1 no decorrer da primeira parte. Mais: em ambos os casos o golo dos adversários aconteceu ao minuto 43!
Dito de outra forma, Sporting e Benfica são praticamente intocáveis até ao descanso, isto apesar das águias, paradoxalmente, terem visto o Sp. Braga marcar-lhes um golo na primeira metade logo da ronda inaugural (Hassan). O jogo, contudo, terminaria com o triunfo dos lisboetas (3-1). Mais sorte teve Rafael Costa, do Moreirense, o único a bater Rui Patrício antes do intervalo, na jornada 7. É que esse golo valeu 1 ponto aos cónegos, já que o encontro fechou com uma igualdade (1-1).
FC Porto, Marítimo, Rio Ave e Boavista também apresentam defesas bastante sólidas na primeira parte, já que somente encaixaram 2 golos. Curiosamente, tanto estes quatro emblemas como Sporting e Benfica sofrem mais golos na segunda parte, período em que o melhor registo pertence a FC Porto e Sp. Braga (3 golos sofridos).
Os rivais lisboetas (a exemplo de Marítimo e Rio Ave) já encaixaram 7 golos na segunda metade, com a particularidade dos leões sofrerem todos na derradeira meia hora (6 no último quarto de hora). Mas, verdadeiramente inesperado é perceber que neste período Sporting e Benfica não perdem só para FC Porto e Sp. Braga, mas também para o... Feirense.
A equipa de Santa Maria da Feira (que foi batida 13 vezes na etapa inicial, o pior desempenho da Liga a par do V. Guimarães) só concedeu 4 golos após o descanso, num registo deveras improvável. O Estoril, com 15 golos sofridos na segunda parte, é a formação que mais vacila após o reatamento, sendo que V. Setúbal (14) e Portimonense (13) não estão consideravelmente melhor.

SABIA QUE...

» O Estoril vai em 6 jogos sem marcar? Apesar do nulo fora diante do Marítimo, a equipa continua débil na finalização. 

» Jonas foi o sétimo jogador a conseguir faturar num mínimo de 10 jornadas seguidas na história do campeonato ? Antes do goleador brasileiro do Benfica, também Peyroteo (1937/38 e 43/44), Julinho (49/50), António Teixeira (53/54), Edmur (57/58), Azumir (61/62) e Fernando Gomes (84/85) tinham cometido tal proeza.

» O Portimonense terminou um jogo sem sofrer golos? Os algarvios conseguiram fechar a baliza no triunfo caseiro perante o Tondela (2-0).

» O V. Setúbal vai em três rondas seguidas com jogadores expulsos ? Nuno Pinto foi a última vítima, depois dos também defesas Vasco Fernandes e César.

» Esta foi a terceira jornada sem penáltis? Antes, nas rondas 1 e 7, também se verificara o mesmo cenário.
Luís Avelãs, in Record

ANÁLISE AO BENFICA E À IMPRENSA DESPORTIVA - BENFICA TV - 30-11-2017

                                           

LANÇAS APONTADAS BENFICA TV HD :: 29 NOVEMBRO 2017

                                           

PRIMEIRAS PÁGINAS


O ADEUS DO "IMPERADOR"


"Júlio César foi um jogador diferente.

Não são necessárias muitas palavras para honrar a passagem de Júlio César pelo futebol. Aquele a quem foi ao longo dos anos atribuído o cognome de “o imperador” despediu-se ontem de uma actividade que fica a marcar a sua vida, saindo pela mesma porta por onde tinha entrado, ou seja, a porta grande.
Permaneceu em Portugal durante quase quatro anos, deixando sempre para as gentes do futebol a imagem de um cavalheiro que se respeitou e soube respeitar os outros.
Por isso, choveram ontem durante toda a tarde e noite mensagens dirigidas ao guarda-redes, provenientes dos mais diversos quadrantes e personalidades, e que só confirmam que a sua carreira nos deixa a imagem de um homem e de um jogador diferente.
Não vale a pena recordar aqui o extenso rol de sucessos que foi acumulando nos diversos clubes e países por onde passou.
Campeão europeu pelo Inter de Milão no tempo de José Mourinho, campeão nacional por diversas vezes, titular indiscutível do escrete canarinho, Júlio César teve momentos empolgantes, e também alguns pelos quais não gostaria de ter passado.
Neste caso, recorda-se, por exemplo, a final do Campeonato do Mundo disputado no Brasil vai para quatro anos, em cuja final sofreu sete golos frente à selecção da Alemanha.
Ninguém sabe se Júlio César vai ou não continuar ligado do futebol, embora tudo pareça apontar que a sua continuidade não passe de uma miragem.
Isso não invalida, no entanto, que aqui lhe deixemos um aceno especial por esta sua passagem por uma modalidade que lhe fica a dever não somente grandes serviços como jogador, mas também, e sobretudo, uma imagem como homem que todos gostaríamos de ver sempre decalcada pelos seus pares."

A BOA NOTÍCIA: O CAMPEONATO VOLTOU ( A 1ª JORNADA do 2º TERÇO)


"O Benfica chega a esta jornada com os mesmíssimos pontos do ano passado e mais quatro do que há dois anos.

Depois de mais uma jornada europeia de tão má memória para o Benfica, voltou-se a jogar para o Campeonato Nacional. Confesso que, três semanas volvidas, tenho de puxar pela memória para me recordar dos resultados e classificações. Mas, neste campeonato de regime gota-a-gota, e antes que venha nova interrupção natalícia obrigatória por cá, realizou-se a primeira de mais um curto período de três jornadas consecutivas.
Com os resultados alcançados, temos os três candidatos a dependerem deles próprios para serem campeões. Mesmo o Benfica, a quem jornalistas e comentadores já haviam feito o funeral para esta época. Tudo fruto de um desaire relativo do FC Porto nas Aves, onde - diga-se de passagem - a única equipa que merecia ter vencido o jogo foi a de Lito Vidigal. O Sporting venceu num campo difícil, ainda que com alguma felicidade. Já o Benfica cilindrou o Vitória de Setúbal, num jogo bem conseguido e psicologicamente reabilitador. Dirão alguns, que foi fácil demais. O certo é que há uma semana, para a Taça, não foi assim e o Benfica melhorou bastante, sobretudo pelo facto de Pizzi ter voltado aos níveis a que jogou na época passada e Krovinovic ser cada vez mais nuclear no jogo encarnado. Enfim, no campeonato, duas saborosas vitórias de Vitória contra os dois Vitórias (agregado 9-1). E na Luz, seis jogos, seis vitórias, 19 golos marcados e dois sofridos.
Reconheço que a actual classificação e distâncias entre os grandes está agora mais de acordo com a justeza das 12 jornadas já passadas. O FCP merecidamente em primeiro lugar, o Sporting em segundo (com pontos arrancados a ferro, vide V. Setúbal, Estoril e SC Braga em casa, Feirense e Rio Ave fora...) e o Benfica em terceiro, mas a depender apenas de si próprio. Mesmo que em alguns jogos tenha estado abaixo do que seria exigível, o Benfica chega a esta jornada com os mesmíssimos pontos do ano passado e mais quatro do que há dois anos. E, em ambos os casos, foi campeão...
Na sexta-feira joga-se o FC Porto-Benfica. Um teste importante para ambas as equipas, ainda que mais fulcral para o Benfica. Será importante que Rui Vitória estabilize o modelo, a dinâmica e a constituição da equipa. Visto de fora, é difícil entender o ioiô de jogadores que oscilam entre serem titulares e nem sequer se sentarem no banco em jornadas seguidas ou vice-versa. Por outro lado, seria bom perceber por que razão excelentes jogadores como Zivkovic e Cervi andaram postos de lado e tantos jogos e Filipe Augusto é quase sempre preferido face a Samaris.
Como bem escreveu José Manuel Delgado na segunda-feira, bom será que os pirómanos costumeiros não poluam, por antecipação, o que deve ser uma luta leal no relvado entre duas equipas favoritas ao ceptro de campeão. «Metem baixa», referiu. Que médico a conceda, adianto.

Um mistério
Um castigo aplicado a um jogador tem a sua eficácia, facilmente comprovável pela sua ausência num ou mais jogos. Um castigo aplicada a um treinador, embora seja também verificável pela sua ausência no banco, já é menos escrutinável. Quer dizer, não pode orientar directamente a equipa ou estar no balneário antes e no intervalo de um jogo, mas, sobretudo com as novas tecnologias (e em Portugal...) poderá estar em contacto com que o substitui no comando no relvado. Isto, evidentemente, se o castigo for de suspensão, pois, não rato, se limita a umas multinhas esmolares. Por fim, um castigo a um dirigente de um clube, máximo o seu presidente, é um bico-de-obra para se saber onde começa ou acaba a punição. Desde logo, bom seria saber se se aplica ao presidente de um clube ou ao também presidente da administração da SAD de mesmo clube, o que, a ser assim, levará à total ineficácia de qualquer castigo. É a sempre invocada salamização de funções no nosso país, desde logo na politica, com a habitual escapatória de que fulano ou sicrano não está a falar como ministro, mas antes a título partidário, senão mesmo pessoal, em que tudo vale como se a pessoa fosse divisível e de manhã fosse uma, à tarde outra, e à noite uma terceira. Ora, voltando à bola, o presidente castigado pode invocar que está a falar como responsável da SAD umas vezes, ou como presidente do clube, se lhe for mais conveniente. Mas a balbúrdia e contrafacção cada vez mais espúrias de tudo isto têm a ver com os limites da acção de quem é punido. Por exemplo, não pode representar o clube, estar no banco de suplentes, etc., mas poderá opiniar sobre tudo e mais alguma coisa nas redes sociais ou dar entrevistas públicas, ainda que em canais cativos? E, já agora, quem paga a multa pecuniária? O clube ou o dirigente pessoalmente? Admito que não estou de posse de todos os meandros jurídicos desta parafernália sancionatória, mas, vista de fora, estamos diante de uma palhaçada que só descredibiliza quem pune e não é capaz de repor a ordem por que se regem os agentes desportivos. É, por esta e outras razões, que, por cá, tudo é permitido, mesmo o que é proibido. Se tudo isto se passasse no contexto da UEFA ou da FIFA outro galo cantaria. E, assim, alegremente, o rei vai nu ou, na melhor das hipóteses, vestido, mas andrajosamente.

Lisboa, capital do desporto
Uma boa notícia, ainda que pouco falada, talvez ofuscada por não ser regional e politicamente correcta. Lisboa foi escolhida pela ACES Europe como a capital europeia do desporto para 2021, assim batendo a candidatura holandesa de Haia. Outras capitais e cidades como Madrid, Copenhaga, Estocolmo, Milão, Varsóvia, Dublin, Istambul já haviam sido anteriormente escolhidas para anfitrãs desta iniciativa. Em 2017 é Praga que detém este estatuto.
É um justo reconhecimento de uma cidade crescentemente aberta ao desporto e aos desportos. Segundo o município de Lisboa, «223 mil pessoas praticam regularmente actividade física desportiva nas instalações da cidade» apoiando 118 clubes e associações desportivas no ano passado. Está previsto um investimento de 26 milhões de euros em equipamentos desportivos até 2021.
«É uma candidatura que representa o reconhecimento e a consciência da cidade de Lisboa para importância da actividade física e do desporto como factores determinantes na construção da cidade humana, inclusiva, moderna e sustentável», lê-se no site da candidatura agora premiada.
Os meus parabéns aos autarcas de Lisboa e à cidade. E que se aproveite 2021 para se dar um salto qualitativo na promoção do desporto e do desportivismo.

Contraluz
- Palavra: Absurdo
desrespeito pelo telespectador de novo na BTV. Há semanas foi a interrupção do Benfica - FC Porto em basquetebol com um resultado disputadíssimo a 60 segundos do fim, para transmitir os primeiros momentos de uma conferência de antevisão do futebol. No passado sábado, o mesmo, agora com o disputadíssimo Benfica - ABC em andebol, secundarizado para um liliputiano ecrã lateral onde nada se via para dar primazia a mais uma conferência de futebol igual a tantas outras e que bem poderia esperar mais três ou quatro minutos. Lastimável e pouco adequado ao ecletismo estatutário do SLB.
- Frase: «Em Itália, nada é mais definitivo do que o provisório» (Corriere della Sera, 29/11)
propósito de o belíssimo Fratelli d'Italia só agora se tornar oficialmente o hino de Itália, passados 71 anos (desde 1946!). Em muitas coisas, que não no hino, somos muito parecidos. Basta recordar os impostos provisórios que se eternizam definitivamente...
- Número I: 101
Os golos alcançados por um fantástico profissional: Jonas. Aos 33 anos de idade, continua a ser um futebolista de eleição e quão decisivo tem sido para o Benfica desde que lá chegou recambiado do Valência!
Parabéns Jonas.
- Número II: 80
A fazer fé no publicado nos media, este é o valor em euros de ingresso para parte dos adeptos benfiquistas no jogo de sexta-feira no Dragão e na arquibancada nascente (os portistas pagam para a mesma zona, 20 euros!). Aqui se cruzam a exploração do sempre invocado futebol para o povo com a esperteza de espremer a carteira de espectadores que transportam o pecado original de serem adversários desportivos. E a Liga a dormir, como de costume..."

Bagão Félix, in A Bola

LUZ FORTE APIMENTA CLÁSSICO!


Ao Sporting, qualquer resultado interessa...
O inesperado empate do líder na Vila das Aves – a arbitragem teve influência no resultado de um jogo em que o FC Porto não esteve tão coeso e firme como habitualmente, expulsão de Corona à parte – agitou fortemente as intenções dos rivais lisboetas. E sendo verdade que o Sporting passou o obstáculo chamado Paços de Ferreira com as dificuldades que lhe são normais quando ali se desloca, o Benfica deu a imagem que, por exemplo, devia ter dado a meio da semana em Moscovo e mesmo antes de ficar em vantagem numérica já tinha arrasado por completo os alicerces de um Vitória sadino, que na Taça de Portugal tinha sido muito melhor. Uma resposta forte, pois, do tetracampeão – que, quer o treinador queira, quer não, fez aliviar a pressão que vinha sentindo – e deixa água na boca para o importantíssimo clássico de sexta-feira. Bem apimentado, pois, o jogo do Dragão pode ser, como todos desejamos, um grande espetáculo. De preferência sem polémicas, com bom árbitro e melhor VAR, onde apenas se deseja o brilho dos jogadores e a estratégia dos técnicos. Com o Sporting à espreita… servindo-lhe, agora, qualquer desfecho.
José Manuel Freitas, in CM

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

DAVID E GOLIAS


"1. Já aqui elogiei Sérgio Conceição, mas desta vez tenho de fazer-lhe um reparo. Não lhe fica bem dizer que o Aves festejou o empate com os dragões como se tivesse ganho a Champions. O Aves precisa de pontos e de confiança que advém de conseguir roubá-los frente a um dos grandes, sobretudo frente a um FC Porto que na Liga só tinha sido travado pelo Sporting. Foi, portanto, justificada a explosão de alegria. Sérgio Conceição também já treinou clubes pequenos e sabe bem o sabor de algo assim. Convém não perder a perspectiva quando deixamos de ser David e passamos a ser Golias. Eu quando acabar de pagar a minha casa, um dia, também vou festejar, e nessa altura não gostarei que algum milionário me diga que pareço estar a festejar a compra de uma penthouse na Trump Tower, em Nova Iorque.
2. Em resposta à decisão do Supremo Tribunal, que condenou o clube a pagar mais de 300 mil euros ao ex-funcionário Maurício do Vale, despedido na era Bruno de Carvalho, o Sporting decidiu colocar os antigos presidentes e dirigentes em tribunal, pretendendo responsabilizá-los pela indemnização a pagar. É o mesmo que derrubar o caixa de esmolas da igreja e culpar o carpinteiro que a fez...
3. O presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, diz que o Benfica deve estar acima do ruído e ignorar os medíocres. Totalmente de acordo. Então porque não acaba com o ruído e os medíocres na sua própria casa? Não quer ou não consegue) O masoquismo encarnado no Twitter (e não só) parece-se cada vez mais com a relação do Sporting com o Facebook. Doentia.
4. A anunciada greve dos árbitros, que parecia ser um produto premium no combate ao estado de sítio do futebol português, não passou, afinal, de uma promoção de black friday. Ridículo.
5. A carreira de Júlio César não merecia que se tornasse de um novo Paulo Lopes, com todo o respeito. Separação natural e com elegância."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

BENFICA MANTÉM-SE INVICTO NO CAMPEONATO


Vitória sobre o HC Braga (1-5) na antecâmara da receção ao OC Barcelos.
O Benfica venceu, esta quarta-feira, o HC Braga por 1-5, em jogo da 6.ª jornada do Campeonato Nacional de Hóquei em Patins.
No Pavilhão das Goladas, no Minho, excelente primeira parte do Benfica que foi para o intervalo a vencer por 0-2, com golos de Diogo Rafael e Miguel Rocha.
No segundo tempo, Jordi Adroher, João Rodrigues e Miguel Vieira confirmaram a vitória que permitiu aos encarnados manterem-se invictos no Campeonato Nacional, agora com seis vitórias e 18 pontos.

Antes do final da partida, António Rodrigues marcou o golo de honra do HC Braga (1-5), na sequência de um livre direto a favor dos minhotos.
Cinco inicial: Guillem Trabal, Miguel Vieira, João Rodrigues, Diogo Rafael e Valter Neves.
Na próxima jornada, a formação orientada por Pedro Nunes recebe o OC Barcelos. A partida está marcada para as 17h00 de sábado, 2 de dezembro.

BENFICA VENCE A OLIVEIRENSE


Encontro em atraso da 2.ª jornada da Liga Portuguesa de Basquetebol.
O Benfica venceu, esta quarta-feira, a Oliveirense por 76-73 em partida em atraso da 2ª jornada do campeonato nacional de basquetebol.
Com este triunfo, os encarnados têm oito vitórias em outros tantos jogos e lidera o campeonato com dois pontos de avanço sobre a formação de Oliveira de Azeméis.
As águias isolam-se na liderança!

FINAL: UD Oliveirense-SL Benfica, 73-76

Final 3.º Período: UD Oliveirense-SL Benfica, 56-50
Intervalo: UD Oliveirense-SL Benfica, 38-33
Final 1.º Período: UD Oliveirense-SL Benfica, 19-16
Cinco inicial: João Soares, Tomás Barroso, A. Robinson, Jesse Sanders e Raven Barber

DE QUE SABER É O MÉTODO?


Se bem penso, já há muito venho dizendo que os treinadores portugueses não sabem mais do que os bons treinadores doutros países. Afadigam-se alguns articulistas em tentar provar que os êxitos dos nossos treinadores, no estrangeiro, se devem à sua preparação científica, incomparável em relação à preparação científica dos treinadores doutros países, designadamente europeus. Na relação entre as pessoas (e portanto na relação treinador-jogadores) não há só necessidade de ciência, mas também de respeito, de arte, de valores. Temos uma identidade que nos faz um povo de fácil convívio, de comunicação atraente, de rápida compreensão de culturas e tradições alheias (o nosso povo o diz: “cada povo, com seu uso; cada roca, com seu fuso”). Não é porque sabemos mais que somos melhores treinadores, mas porque não copiamos figurinos estranhos à nossa maneira-de-ser, porque somos genuinamente nacionais, não escondemos a solidez e a fundura das nossas raízes e, daí, a nossa simpatia e generosidade e compreensão – que nem todos os povos têm, com tamanha nitidez, como aliás a filosofia e a antropologia nos ensinam. Para não fatigar quem tem a bondade de ler-me, cito o Padre João Ferreira, no seu livro Existência e Fundamentação Geral Do Problema Da Filosofia Portuguesa: “O temperamento português já foi repetidas vezes analisado por etnólogos e caracteriologistas nacionais e estrangeiros, como: Mendes Correia, Jorge Dias, Gonzague Reynold, Paul Descamps e também por alguns escritores, como Ramalho Ortigão, Joaquim de Carvalho, Cruz Costa, Afonso Botelho, Cunha Leão, etc. Segundo os estudos feitos, convém-se em anotar que o português é essencialmente dotado duma alma feminina, poética; é humano e doce (…), mais sensível do que racional (…), sentimentalista, idealista, galã, sociável, de fácil adaptação, etc.” (p. 148).
No futebol (e no desporto em geral) por força do cartesianismo, até há cinquenta ou sessenta anos atrás, a mente e o corpo consideravam-se como duas substâncias realmente distintas, podendo existir uma sem a outra. Assim, para o estudo do corpo, a fisiologia, a biologia bastavam. Quem falava do corpo como produto cultural e social? Muito poucos! O corpo, aliás, surge aos olhos dos estudiosos com um estatuto paradoxal: ora é um objeto entre os outros, o corpo-instrumento; ora é o lugar concreto onde a vida subjetiva se manifesta. Maurice Merleau-Ponty distingue o “corpo objeto” do “corpo vivido”. O “corpo objeto” é o organismo, o corpo tal como o estudam e analisam os cientistas; o “corpo vivido” é o corpo-sujeito, que as ciências descuidam, frequentemente. Vale a pena ler o poema “Lágrima de Preta” de António Gedeão, para entender-se rapidamente o que pretendo dizer: “Encontrei uma preta / que estava a chorar, / pedi-lhe uma lágrima / para a analisar. / Recolhi a lágrima / com todo o cuidado / num tubo de ensaio / bem esterilizado. / Olhei-a de um lado, / do outro e de frente: / tinha um ar de gota / muito transparente. / Mandei vir os ácidos / as bases e os sais, / as drogas usadas / em casos que tais. / Ensaiei a frio, / experimentei ao lume, / de todas as vezes / deu-me o que é costume. / Nem sinais de negro, / nem vestígios de ódio. / Água (quase tudo) / e cloreto de sódio”. De facto, uma lágrima não se resume ao que a análise laboratorial nos diz. Para além da água e do cloreto de sódio, pode haver, numa lágrima, amor, ódio, alegria, saudade, oração, êxtase, admiração, dor, sofrimento. Enfim, um número incontável de sentimentos que não cabem nas análises que nos chegam dos laboratórios. Os cientistas de pendor positivista não deverão esconder que há mais mundo, para além da biologia.
É moda, no nosso tempo, falar pouco do ser humano e mais e muito mais de normas, de regras e de conjuntos significantes. Por isso, na antevisão dos jogos de futebol, há quem não precise mais do que o 4x4x2, ou o 4x3x3, ou o 4x3x2x1, ou o 3x5x2, para um prognóstico de um jogo de futebol. Lembrando Péguy, “digamos a verdade, toda a verdade, só a verdade, brutalmente a verdade brutal, fastidiosamente a verdade fastidiosa, tristemente a verdade triste”. Com efeito, para mim, a única noção precisa e coerente de cientificidade, no Desporto, não é a que decorre dos métodos das ciências naturais, Não há, aqui, um modelo de cientificidade “a priori”. O ser humano é a unidade de uma complexidade. Há, nele, diversidade e complementaridade. Há, nele, e sirvo-me agora do que aprendi, em Edgar Morin: o princípio da unidade complexa, próprio de qualquer sistema; o princípio da inseparabilidade da ordem e da desordem, da organização e da desorganização, já que os eco-sistemas não se alimentam apenas de ordem; o princípio da complexidade lógica, ou o princípio da conceptualização complexa, que nos impõe o recurso a macro-conceitos, tais como: ordem-desordem, todo-partes, uno-múltiplo, causa-efeito, indivíduo-espécie, indivíduo-sociedade, sujeito-objeto, etc., etc.; o princípio da incerteza, pois que a incerteza é típica do pensamento complexo, tantos são os dados indispensáveis a ter em conta. Muito mais há a dizer sobre esta extensa problemática. Permito-me agora, fundamentado ainda em Edgar Morin, adiantar os quatro grandes princípios orientadores do treino desportivo: formar pessoas capazes de organizar os seus conhecimentos, mais do que armazenar as ordens emitidas pelo treinador, quero eu dizer: o treinador diz o que é preciso fazer, mas é a maneira-de-ser do jogador que as faz (e aqui o treinador não chega); ter sempre presente, em todas as situações, a condição humana, como dizia Rousseau: “o nosso verdadeiro estudo é o da condição humana”; aprender a viver, através da prática desportiva, pois que, na alta competição desportiva os problemas clássicos da vida são observados de forma amplificada e agravada; é a metodologia específica das ciências hermenêutico-humanas a metodologia do treino desportivo.
De que saber é o método? No que ao Desporto diz respeito, o saber é o de uma ciência hermenêutico-humana. É portanto, no meu modesto entender, pré-científico, ou pseudo-científico, interpretar o atleta em termos unicamente físicos, ou biológicos. A humanidade da pessoa ultrapassa muito (muitíssimo) a sua animalidade, não a suprimindo embora. É diminuta a diferença entre o aparelho cognitivo do chimpanzé e o do homem. A diferença encontra-se no número de neurónios e na reorganização do cérebro. Reside, aqui, a emergência das qualidades humanas irredutíveis, que se conhecem por pensamento e por consciência. É porque tem uma desconhecida dimensão espiritual que o fenómeno humano surge, como um novo fenómeno, no planeta Terra. De facto, para o bem e para o mal. Com maligna impertinência, o mal aí está, ilimitado e com defensores exaltados e acriminiosos. Mas o bem também nos rodeia. Também há sábios, heróis e santos, na História. Também há mentalidades superiormente aparelhadas, capazes de implementar e conceber instituições, como a Ciência, a Cultura e o Desporto nos revelam. O “homo ludens” não o descobrimos unicamente, nas várias formas de Jogo e de Desporto. Joga o cientista, quando investiga e o filósofo de ampla inteligência teorizadora e o literato novelista e romancista. Criar, para o “homo sapiens” é sempre jogar – jogar com o mítico e o racional, com a tradição e a utopia, com o mágico e o simbólico. É da síntese de tudo isto que o novo surge, tantas vezes inesperado, tantas vezes maravilhoso. Assisti, pela televisão, ao Valência-Barcelona da última jornada do campeonato espanhol. E não esqueço o passe do Messi ao Jordi Alba, que fez o golo do Barça. Foi um passe de 30 ou 40 metros, que chegou ao seu destino, ao Jordi Alba, com uma precisão milimétrica. É preciso saber jogar, para executar um passe tão perfeito. Só que não há jogos, há pessoas que jogam. Quanto mais humanos formos, melhor entenderemos o jogo.
Manuel Sérgio, in a Bola

PRIMEIRA MARATONA OLÍMPICA


"A primeira Maratona Olímpica foi realizada passados 2.386 anos, do feito heróico e remoto do soldado Filípides (530-490 a.C.) na Antiguidade Clássica. Para comemorar essa lenda o historiador, linguista e filósofo francês Michel Bréal (1832-1915), membro da delegação francesa e amigo de Pierre de Coubertin (1863-1937), teve a ideia no Primeiro Congresso Olímpico, realizado de 16 a 23 de Junho de 1894, no anfiteatro da Sorbonne em Paris, de instaurar uma corrida como recordação daquele gesto lendário do soldado Filípides e pensando que não se devia seguir à risca o antigo modelo grego, propôs a realização da prova não prevista nem planeada e que seria o fecho e o apogeu dos primeiros Jogos da Olimpíada unindo-se assim a história moderna e a idade antiga, tendo até sido definido um Troféu de Ouro para o seu vencedor.
A ideia foi aceite com júbilo e em 10 de Abril de 1896, correu-se a primeira Maratona moderna no mesmo percurso que a antiga, desde a planície de Maratonas até ao Estádio Panatenaico, também chamado Calimármaro.
Anteriormente ocorreram duas provas no percurso proposto para os Jogos (Ferreira, 1984). A segunda prova foi oficialmente definida como Maratona de qualificação para os Jogos Olímpicos, com um total de 38 corredores. Curiosamente viria a estar presente um jovem de 24 anos, de nome Spiridon Louis (1873-1940) que alcançou o 17º lugar.
Segundo António Fernandes (2010) no livro “Cem Anos de Maratona em Portugal”, da Editora Xistarca, menciona que perante a ideia dos juízes escolherem os 16 primeiros para a Maratona Olímpica, o major (coronel?) Papadiamantopulos (1810-1898), conhecedor das capacidades atléticas de Spiridon Louis, quando este serviu o exército entre 1893 e 1895, sob o seu comando na companhia militar, fez uma enorme força para que fosse escolhido, como maratonista de invulgares recursos atendendo que provinha de uma cidade, Maroussi, também conhecida por Armareussis, situada a nordeste de Atenas, cujos seus habitantes eram conhecidos pela sua tenacidade.
Assim nos primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna foi incluída a corrida evocadora do lendário soldado da Maratona, homenageado com a realização da prova precisamente no próprio percurso desde o campo de batalha em Maratonas até Atenas (Cogan, 1980).
Entre os concorrentes um camponês, com a profissão de guardador de rebanhos, habituado ao silêncio e ao ar finíssimo da montanha, que dias antes da prova via passar pela estrada atletas que se treinavam, perguntou o que faziam e disseram-lhe que se preparavam para a Maratona, imitando-os de seguida.
Uma semana antes da prova, vinte e cinco atletas viajaram para Maratonas para efectuarem a corrida, mas só dezassete começaram a prova entre doze gregos, dois franceses, um australiano, um norte-americano e um húngaro.
Papadiamantopoulos foi o responsável por dar o tiro de partida na prova dos 40 quilómetros junto ao túmulo levantado em Maratonas, recordando os 192 Atenienses mortos pelos Persas.
Começou a provas às duas horas da tarde e teve como vencedor Spiridon Louis, com o tempo de 2:55,20 horas.
O francês Albin Lermusiaux (1874-1940) que ficara na 3ª posição nos 1.500 metros, foi quem marcou ao princípio o andamento e com 22 quilómetros percorridos ia à frente com uma vantagem de três quilómetros e assim se manteve até chegar a uma vertente pronunciada, pouco depois dos 32 quilómetros, tendo sofrido uma cãibra e abandonou. Comandou então o australiano Edwin Flack (1873-1935), mas antes de efectuar outros 5 quilómetros também não resistiu ao esforço e teve de ser levado para Atenas numa ambulância. Entretanto Spiridon Louis adiantou-se tendo o seu valor como corredor não ter sido muito apreciado, já que deve ter sido muito tentador seguir o ritmo do francês e o de Flack, uma tentação em muitos grandes corredores que desistiram desde logo. Outra vítima da corrida foi norte-americano Artur Blake (1872-1944), segundo nos 1.500 metros, que começou a sofrer alucinações e caiu numa valeta.
Ao chegar à aldeia de Ampelokipi, Spiridon Louis começou a acelerar com descontracção, seguido pelo grego Charilaos Vassilakos (1877-1964) e o húngaro Gyula Kellner (1871-1940). Vitoriado por várias pessoas, dirigiu-se para o Estádio cuja multidão grega na maioria, havia sido mantida ao corrente do desenrolar da corrida e desanimada ao princípio quando os estrangeiros tomaram a iniciativa, estava agora a ponto de ver realizado o seu sonho, uma vitória de um atleta grego, sendo uma emoção incrível.
Desistiram sete, um foi desclassificado e nove foram classificados. Somente se conhecem os tempos dos três primeiros tendo o segundo, um grego Charilaos Vasilakos, realizado o tempo de 3:06,03 horas e o terceiro, o húngaro Gyula Kellner, que se treinou especialmente com vistas à Maratona, com mais 32 segundos. Kellner, tinha ficado em 4º lugar, mas protestou junto do júri por ter visto o grego Belokas apear-se de um veiculo o qual não pôde nega-lo.
O conhecimento pormenorizado que tinha do percurso, permitiu-lhe esconder um veículo num dos parques, que depois utilizou. A desclassificação foi automática e a sua camisola com as cores nacionais, azul e branca foi-lhe arrancada e feita em pedaços. Assim Kellner recebeu a medalha de bronze e um relógio de ouro como compensação.
O primeiro classificado, de 1,60 m de estatura, da pequena aldeia de Armareussis, não se tinha treinado para esta corrida, mas ao que se conta, passara o dia inteiro da véspera a rezar, pedindo a Deus, em nome de não se sabe que motivos, que lhe concedesse o alto favor da vitória (Michel, 1964).
Como não tinha roupas de atleta para correr utilizou o trajo grego com que constava de um saiote, camisa de mangas largas e colarinho, colete, coturnos altos e sapatões.
Sessenta e nove mil espectadores encheram o Estádio para assistir à chegada daquela prova e choraram de emoções quando viram entrar à frente um grego que foi recebido com todas as honras. Na sua entrada todo o recinto se achava já num estado de grande excitação sendo o júbilo muito grande quando se viu entrar este atleta em primeiro lugar. Uma banda a cavalo entrou no Estádio atrás dele e os dois Príncipes reais da Grécia, Constantino e Jorge, ambos com mais de 1,85 metro de estatura, correram ao lado de Spiridon até à linha de chegada sendo aclamado como um herói. 
Esperavam o Rei da Sérvia, o grande Duque Miguel, a Arquiduquesa Teresa assim como o Rei George I que da sua tribuna, lhe entregou pessoalmente o troféu de prata que conquistara com 15 cm de altura e não em ouro como previsto anteriormente.
Recebeu prendas de recompensa, dada pelo milionário George Averoff (1815-1899) que lhe ofereceu refeições até ao final da sua vida, bem como de outras pessoas, um vale de 365 refeições gratuitas, serviço de engraxamento de sapatos por toda a vida, um lote de terreno, dinheiro, jóias que as mulheres lhe lançavam, assim como barba feita para o resto da vida pelos barbeiros da região. 
Segundo Fernandes (2010), foi escorraçado do Movimento Olímpico, pois Coubertin era intransigente quanto ao amadorismo. De facto, não é de estranhar que devido ao decreto sobre profissionalismo de Coubertin, Spiridon Louis, nunca mais voltou a competir.
Este jovem modesto esteve ausente de noticiários da imprensa por muitos anos, nunca mais correu após a sua vitória olímpica, levando uma vida de prática de agricultura e posteriormente como oficial da polícia.
A sua última aparição em público foi nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, já com a idade de 63 anos. Foi o porta-bandeira da Grécia na Cerimónia de Abertura, quando do desfile das missões participantes e ainda andou com a chama olímpica no estádio.
Foi recebido por Adolfo Hitler (1889-1945) e entregou-lhe um ramo de oliveira de Olímpia, simbolizando a paz. Faleceu a 27 de Março do ano de 1940.
Charles Maurras (1868-1952), jornalista e poeta monarquista francês, inimigo declarado dos Jogos, voltou-se para o Barão Pierre de Coubertin, debaixo da emoção daquele momento da chegada e disse-lhe: “Vejo que o seu internacionalismo no desporto não mata o espírito nacional, mas reforça-o”. Por obra daquela única vitória grega, na prova da Maratona, desapareceu a oposição aos Jogos.
O nome do vencedor da primeira Maratona Olímpica é usado em Portugal associado à mais antiga revista desportiva (Spiridon) dedicada à corrida, cujo primeiro número saiu em Novembro de 1978 do século passado, e conta já com 234 números saídos em 39 anos e mais de 10.000 páginas editadas de artigos de grande interesse sendo o “treinador pessoal” de muitos que praticam a corrida com prazer."

AGÔN HOMO SPORTIVUS - ESTRATÉGIAS £t ESTRATAGEMAS


"Em epígrafe, o título do livro de Gustavo Pires e António Cunha que tive a honra e o prazer de apresentar. Este livro consubstancia, além dos investimentos específicos de cada um dos autores, a síntese dos profícuos diálogos entre estes dois profundos conhecedores da coisa desportiva.
Contudo, antes de falar da obra tenho de falar dos obreiros. Falar de António Cunha (AC) é falar de um homem do desporto a quem estou ligado não só profissionalmente, mas também emocionalmente. A nossa relação teve choques e apaziguamentos, mas permaneceu sempre indelével um elo de respeito e admiração que nos permite, hoje, momento em que as guerras estratégicas da vida se refugiam nas caves calmas da memória, manter uma amizade que é o viático mais importante para todos os primeiros dias do resto das nossas vidas. AC foi meu professor, em 1974-1975, fase revolucionária em que nós, alunos, púnhamos tudo e todos em causa. AC, e é esta a primeira vez que lho estou a dizer, mais que nosso professor de andebol que o foi e bom, foi o companheiro mais avisado que nos evitou alguns dislates fortuitos que poderiam ter feito perigar a dignidade da nossa formação académica. Embora, pouco mais velho que muitos de nós, sempre teve uma espécie de presciência acerca do que estava bem e estava mal. Essa precoce sabedoria relacional e comportamental veio-lhe, de certeza, da sua condição de treinador que ele assumiu desde muito cedo. Na sua ascensão como treinador de elite de andebol, várias vezes pediu a minha colaboração. Estive ligado, superficialmente mas com muito prazer, à aventura mais desafiante e gratificante que AC teve na sua vida – o ABC. Após o primeiro título nacional deste novel clube recebo, com muita surpresa, o agradecimento formal do ABC assinado pelo presidente do clube. É isto, sim. A gratidão é a matriz mais forte da personalidade de António Cunha.
Que dizer de Gustavo Pires (GP)? GP colabora com a nossa faculdade há muito tempo, mas somente há uma dúzia de anos é que começamos a ter contacto mais directo. Ouvi-o num seminário e gostei do que ouvi e, a partir daí, nunca deixei de o ler. Porquê? Porque mesmo os escritos mais singelos estão perpassados por uma inteligência arguta denunciadora de profundo estudo e reflexão. GP é um emissor profuso de locuções inteligentes e profundamente respaldadas na realidade, mesmo que episodicamente estejamos desencontrados dele numa ou outra das suas ideias. É um filósofo arguto e inquieto, na linha de outros grandes pensadores da coisa desportiva que emergiram a partir do 25 de Abril. GP é um dos vértices do triângulo dourado que marcou o mais elevado pensamento sobre o desporto após a revolução de Abril – Manuel Sérgio, Jorge Olímpio Bento e Gustavo Pires. Não me digam que há outros, pode haver, mas estes são as minhas referências e tenho direito à minha taxonomia.
Falemos agora da obra.
Uma obra escrita pode ser dissecada por três tipos de leitura: leitura literal, leitura sintomal e leitura hermenêutica. Esta obra dispensa a leitura hermenêutica pois não tem sentidos escondidos, é cristalina como a água da montanha correndo límpida por entre pedras.
Entrei nela através de uma leitura literal, inocente, permeável ao fluxo das ideias e gozando o prazer de revisitar tempos e lugares que foram genésicos para minha formação. Foi tanto o deleite da leitura que me perdi na perscrutação da obra e aí fui eu até ao fim, numa digressão de puro prazer que só terminou na última linha. Por isso, tive de fazer uma segunda leitura, a leitura sintomal, tentando descortinar lógicas e sentidos, erros ou omissões, fraquezas ou potencialidades.
Antes de mais, a obra de GP e AC permitiu-me revisitar campos de interrogação que me formaram e estavam imersos no limbo da memória. Regresso vívido e transformador ao passado.
O livro tem partes e capítulos muito fortes e outros menos bem conseguidos. Posso afirmar que, para mim, o livro é ouro em 90% e simples prata nos restantes 10%. Isso é óptimo dizeis vós todos, pois essas percentagens são raras de obter em qualquer obra literária, mas eu digo, está mal porque estes homens têm a obrigação de escrever sempre tocados pela aura da infalibilidade. Como são escassas, passemos às partes menos bem conseguidas. Um certo repeticionismo de autores ou situações que nos obrigam a reencontrar 100 linhas abaixo o que a montante já tinha sido bem expresso. A recorrência a autores menores ao lado das grandes luminárias do pensamento humano (não cito os autores menores pois podem ser maiores para outros e seria estultícia da minha parte arvorar-me em definidor do que deve estar inscrito nas tábuas da lei) e a ausência de um sentido crítico mais apurado de algumas personagens e situações. O que mais gosto em GP é a sua tendência polemista, a sua verticalidade analítica, a sua coragem política e sociológica, a sua ingente luta pela verdade. Neste livro, tomou do seu mestre Manuel Sérgio a tolerância e a bondade e ficou-se por leves afloramentos críticos, o que talvez deva ser apanágio de uma obra pedagógica como esta. Este livro é um tratado de Pedagogia do Futebol, do Desporto, da Vida e, talvez se não justificasse um pendor crítico mais acentuado. GP e AC, neste livro, são mais professores e menos mineiros da realidade. Denunciaram, sem magoar, muitos dos miasmas que corrompem o desporto português. Deixaram falar primacialmente a sua costela pedagógica, abrindo muitas portas abertas para outros investimentos heurísticos. E é essa uma das qualidades supremas desta obra. O impulso que nos leva a querer estar com eles na aventura de decifrar a realidade do desporto. E digo bem alto e perdoem-me o plebeísmo, porra, eu queria ter estado ao lado deles nesta aventura cultural. Eu tinha querido acrescentar ao seu diálogo o aporte de mais de 50 anos a viver o desporto como finalidade existencial e, principalmente, a riqueza das vivências que tive em 20 anos no futebol. Este livro convoca-nos, a todos nós homens e mulheres do desporto, a, em cada capítulo, acrescentarmos a súmula das nossas mais vívidas experiências.
Eu, poderia estar aqui a discorrer um ano seguido sobre o efeito revolucionário que este livro provocou em mim, porque a construção do caminho encetado por GP e AC vai paralelo e por vezes cruza-se com o caminho que construí para mim. Somos compagnons de route, na aceção nobre e não política do conceito. Somos companheiros de caminho porque desde muito jovens assumimos como referência existencial o aforismo de Machado: “Caminante no hay caminho, se hace caminho al andar”. A sua história pessoal dá boa nota acerca dos muitos caminhos que tiveram de desbravar. 
Quais as ideias mais fortes que sobressaem deste livro? Porque o tempo escasseia vou fixar-me somente em três.
- A competição desportiva é uma metáfora da guerra.
- A prática é o critério supremo da teoria.
- O pensamento estratégico prepara o presente, baseado no passado e procurando inteligir o futuro. 
Cada uma destas macro ideias consubstanciam mundos maravilhosos por perscrutar ou recuperar. 
Deste livro sobressai clara a similitude entre guerra e a competição desportiva. A génese do desporto tem a guerra como referência. Quando em 776 a. C., supostamente a data dos primeiros jogos olímpicos, o cozinheiro Coroebus de Elis, ganhou a corrida de estádio, a dimensão religiosa dos jogos era preponderante. Menos de 80 anos depois já a expressão desportiva dos jogos assimilava muita da lógica militar e belicista da preparação da juventude que devia estar preparada para, no campo de baralha, defender a honra e os interesses da sua polis. Mas, se quisermos ir mais longe na história biológica do Homem, podemos verificar a prática da corrida como predominantemente instrumental nas lutas de sobrevivência contra os predadores e domínio de território. Podemos por isso afirmar que a excelência motora determinou a evolução da espécie humana, a sua fixação a um território, o ganho e domínio de novos territórios, e a afirmação étnica dos vários grupos pré-humanos e proto-humanos. Por isso, as guerras explícitas ou subliminares que derivam do choque de interesses entre Porto, Benfica e Sporting, nada mais são que o regresso a um guião biológico que tem sede nas zonas hipotalâmicas do nosso cérebro e que pouco são tocadas pela roupagem cultural que o homem sócio histórico foi progressivamente vestindo.
GP e AC, tenho a certeza, tiveram longas conversas sobre Prática e Teoria. Este é um dos temas recorrentes no areópago dos teorizadores das competências. Os autores evidenciaram bem o contraste, o choque mesmo, de opiniões. E a solução, como um imperativo absoluto, não existe. A prática é o critério supremo da teoria, só que existem várias competências práticas. Eusébio, segundo Humberto Coelho, tinha um afinadíssimo computador dentro da cabeça. Analisava e antecipava jogadas que o tornavam num felino económico que estava sempre no sítio certo no momento certo sem grande dispêndio de energia. Esta competência prática alcandorou-o a deus dos estádios, mas não lhe deu expertise suficiente para vingar como treinador. Existem várias competências práticas e várias competências teóricas e por isso, o conflito teóricos-práticos é um logro que esconde, talvez, mesquinhos interesses corporativos.
Para terminar, abordo o pensamento estratégico como antecipador da realidade, que os autores tão bem desenvolveram. Fica-me, como mensagem a ambiguidade do futuro. Tal como nos ensina Popper, existem tantos mundos em aberto quantos a nossa imaginação puder criar, por isso, todo o pensamento estratégico tem de estar, desde o início, contaminado com o vírus da incerteza. É essa a arma que devemos possuir quando queremos abordar sistemas dinâmicos que não se deixam prender em lógicas fixistas.
O parto deste livro foi custoso e demorado; logicamente que a profundidade que revela não era compatível com pressas e afloramentos. Está aqui muito pensamento, e o pensamento cansa. Só desejo que os autores recuperem depressa e nos permitam continuar a receber o s frutos dos seus investimentos."