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domingo, 26 de agosto de 2012

O PALHAÇO SOLTOU O GENERAL

O General voltou.Já ninguém se lembrava dele e,de repente,ei-lo que regressa às páginas dos jornais.Saiu à rua num dia triste no qual o cheiro a podre tomou conta da atmosfera deste País sem futuro.É dia de festa!,ladram alguns.O General está menos estático e mais decrépito.Os anos passaram sobre a sua figura macabra de cadoz -barba desleixada e mal semeada - arredia de principios e dignidade.Não sei se mete pena se mete nojo.O General não tem comando,é apenas um peão.De há muito tempo a esta parte que passou a ser um boneco articulado nas mãos do Palhaço.De tempos a tempos,quase de anos a anos,o Palhaço solta o General.E, e tilitando de medalhas feitas de caricas de garrafa,o General avança em passo de ganso num ridículo quase prussiano.E fala.E General fala! É bem possível que nem todos acreditem que ele fala já que o seu rosnar é imperceptível.As palavras saem-lhe a custo e com um sotaque rústico,quase demente.Mas são palavras de elogio.O General gosta de corruptos,de trafulhas,de mentirosos e de ladrões.Gosta.portanto,do Palhaço.O Palhaço é o seu mentor.Consta que,em tempos que lá vão,o apresentou a um comendador rico disposto a patrocinar as ambições do General.E o General tornou-se o ditador grotesco de um país ridículo.Com o Palhaço por cima,sempre por cima.O General anda por aí outra vez,comemorando,de chapéu de papel de jornal na cabeça,o aniversário corrupto da corte do Palhaço.Estão felizes,um e outro.Revolvem-se na lama porca das canalhices do Palhaço.Retouçam como leitões de mama na imundice de um terreiro infecto.E,quando a noite cai,o Palhaço estende-se num colchão de palha na qual se multiplicam as pulgas e o General,obediente,chocalha as medalhas enquanto dá uma volta sobre si mesmo e se enrola submisso aos pés do dono.


TEXTO DE AFONSO DE MELO

FONTE : JORNAL O BENFICA

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