Benfica sem classe e... 'todos por Messi, Messi por todos'
Não há nenhuma equipa do Mundo que projecte a imagem de ‘não egoísmo’ como o faz exuberantemente o Barcelona. O conceito de ‘família’ e de ‘não agressão’ (em causa própria) torna o clube catalão num ‘caso de estudo’.
Há quem não goste do jogo do Barcelona. Há quem o ache monótono e pouco divertido. Confesso sem reservas: gosto. E gosto, sem reservas, porque o futebol do Barcelona assenta nos princípios basilares do futebol e no domínio desses princípios: dominar a bola (tempo de recepção), passar a bola (tempo de posse), recuperar a bola (tempo de recuperação) e meter a bola na baliza do adversário (eficácia ligada ao grande objectivo do jogo: concretizar). Notável Barcelona este, que fomenta questões muito importantes no jogo como são a solidariedade e o profissionalismo: todos por Messi; Messi por todos. E não há fissuras, invejas, ‘medição de pilinhas’, e outras coisas mais, muito típicas em balneários de ‘estrelas’. O Barcelona é, ao mesmo tempo, uma equipa clássica e uma equipa moderna. Meteu o chip e as virtualidades dos computadores na ‘antíqua’ bola de couro. O Barcelona é muito mais do que uma equipa de futebol. É o modelo. É um grande exemplo de competitividade e uma inspiração para o futuro. Mas isso não invalida que percebamos que o Benfica perdeu ‘luz’ e identidade. Sem ‘focos’ de ‘classe’, a qualidade é menor. E isso também interessa alcançar. | |
O Benfica-Barcelona reduziu muito o impacto da vitória do Sp. Braga na Turquia, mas permitam-me começar este artigo por adjectivar o comportamento dos minhotos no terreno do Galatasaray: excelente!
O Sp. Braga é um dos outsiders desta ‘Champions’: começou mal, em ‘casa’, frente ao Cluj, perante o adversário que, em tese, teria menos dificuldades em superar; uma derrota, em ‘casa’, nestas condições, poderia ter sido o ‘canto do cisne’ para os ‘arsenalistas’, mas na bela e multifacetada cidade de Istambul a equipa de José Peseiro provou que é possível vencer, mesmo quando não se tem a bola a maior parte do tempo (no caso do Sp. Braga, nesta sua deslocação à Turquia, 39%).
A ‘posse de bola’ é, pois, o tema e daquilo que ora se fala, depois da vitória do Barcelona na Luz e das declarações de Jorge Jesus, a propósito disso, no final do encontro. O Benfica teve 29% de posse de bola, bastante menos do que o Spartak de Moscovo na sua recente deslocação a Camp Nou (35%) e um pouco menos do que a média dos adversários do ‘Barcelona europeu’ nas duas últimas épocas: 31,8%.
Nunca saberemos se o Benfica, com a equipa completa do começo da época, isto é, com Luisão, Javi Garcia, Witsel e Cardozo, teria outro comportamento em campo com o mesmo Barcelona, e nem isso agora é muito relevante. Parece indiscutível, no entanto, que o Benfica perdeu a luz, perdeu aquela centelha de classe que as ausências daqueles jogadores traduzem. Nas últimas duas épocas europeias, o Barcelona defrontou respeitáveis adversários (Chelsea, Milan, Manchester United, Real Madrid e Arsenal) e o pior registo que conseguiu, em ‘posse de bola’, foi 60% , em dois jogos com o Milan (‘casa’ e ‘fora’).
Não se trata, pois, de uma ‘matriz’ episódica. O Barcelona tem um padrão de comportamento táctico. O seu jogo não muda todas as épocas. Guardiola acentuou as linhas programáticas desse jogo e o Barcelona é, hoje, um caso único no Mundo, porque apostou numa identidade, cuja fórmula de sucesso tem perdurado no tempo, que Tito Vilanova vai tentar preservar.
Há quem não goste do jogo do Barcelona. Há quem o ache monótono e pouco divertido.
O Sp. Braga é um dos outsiders desta ‘Champions’: começou mal, em ‘casa’, frente ao Cluj, perante o adversário que, em tese, teria menos dificuldades em superar; uma derrota, em ‘casa’, nestas condições, poderia ter sido o ‘canto do cisne’ para os ‘arsenalistas’, mas na bela e multifacetada cidade de Istambul a equipa de José Peseiro provou que é possível vencer, mesmo quando não se tem a bola a maior parte do tempo (no caso do Sp. Braga, nesta sua deslocação à Turquia, 39%).
A ‘posse de bola’ é, pois, o tema e daquilo que ora se fala, depois da vitória do Barcelona na Luz e das declarações de Jorge Jesus, a propósito disso, no final do encontro. O Benfica teve 29% de posse de bola, bastante menos do que o Spartak de Moscovo na sua recente deslocação a Camp Nou (35%) e um pouco menos do que a média dos adversários do ‘Barcelona europeu’ nas duas últimas épocas: 31,8%.
Nunca saberemos se o Benfica, com a equipa completa do começo da época, isto é, com Luisão, Javi Garcia, Witsel e Cardozo, teria outro comportamento em campo com o mesmo Barcelona, e nem isso agora é muito relevante. Parece indiscutível, no entanto, que o Benfica perdeu a luz, perdeu aquela centelha de classe que as ausências daqueles jogadores traduzem. Nas últimas duas épocas europeias, o Barcelona defrontou respeitáveis adversários (Chelsea, Milan, Manchester United, Real Madrid e Arsenal) e o pior registo que conseguiu, em ‘posse de bola’, foi 60% , em dois jogos com o Milan (‘casa’ e ‘fora’).
Não se trata, pois, de uma ‘matriz’ episódica. O Barcelona tem um padrão de comportamento táctico. O seu jogo não muda todas as épocas. Guardiola acentuou as linhas programáticas desse jogo e o Barcelona é, hoje, um caso único no Mundo, porque apostou numa identidade, cuja fórmula de sucesso tem perdurado no tempo, que Tito Vilanova vai tentar preservar.
Há quem não goste do jogo do Barcelona. Há quem o ache monótono e pouco divertido.
Confesso sem reservas: gosto. E gosto, sem reservas, porque o futebol do Barcelona assenta nos princípios basilares do futebol e no domínio desses princípios: dominar a bola (tempo de recepção), passar a bola (tempo de posse), recuperar a bola (tempo de recuperação) e meter a bola na baliza do adversário (eficácia ligada ao grande objectivo do jogo: concretizar).
Parece simples, mas não é. Porque, se fosse simples, já muitas equipas teriam tentado copiar a ‘fórmula de sucesso’ e não se vê por aí nem sequer um ‘sucedâneo do Barcelona’. Não é fácil, porquê? Acima de tudo, porque dá muito trabalho e os clubes não estão organizados (como está o Barcelona) para dar tempo aos jogadores e treinadores. A volatilidade do futebol, as suas imensas variáveis, tornam muito difícil apostar em projectos duradouros. No Barcelona, há estabilidade. Há estabilidade e rigor. E um apego extraordinário ao trabalho, que é possível identificar em cada jogo. O Barcelona vem resistindo, com alguma heroicidade, às ‘fórmulas’ imediatistas e facilitistas. Isso merece ser creditado a seu favor e é, extraordinariamente, meritório.
Há um aspecto do jogo do Barcelona que não tem sido valorizado, quanto a mim um dos aspectos em que assenta o êxito dos catalães: muitos olham ao processo de construção, quando o Barcelona tem a bola, e é disso que falam. Façam o exercício ao contrário. Atentem naquilo que acontece quando o Barcelona... perde a bola. Isto é: o tempo de recuperação da bola, que é muito pequeno, por ser muita rápida essa recuperação. E porquê? Porque o Barcelona, quando perde a bola, pressiona muito forte para a recuperar. Essa é uma das grandes virtudes do jogo catalão. Não dão tempo ao adversários para se (re)organizar e, pressionados, acabam por perder a bola, repetidamente, para o Barcelona. É um processo fantástico! É uma epifania! É alquimia na oficina!
Por isso, costumo dizer que quem gosta de futebol tem de gostar do futebol do Barcelona: a troca de bola entre jogadores das linhas mais atrasadas, que estão na base dos comentários menos abonatórios, é uma espécie de preparação do assalto às linhas mais avançadas. É um processo interessantíssimo, do ponto de vista táctico, que envolve toda a equipa.
Outro aspecto sensacional e único no futebol do Barcelona: o ‘efeito-camaleão’ das suas unidades. A transformação permanente dos avançados em médios e dos médios em avançados é algo para ser estudado. Parece um processo quase químico, osmótico, que faz com que, por exemplo, o Barcelona não precise de jogar com um ponta-de-lança típico. A movimentação de Messi é algo que parece computorizado. Ele sai amiúde da posição de ponta-de-lança para aparecer, entre linhas, a fazer o pique que lhe permite romper ou o passe que lhe permite muitas vezes fechar o ciclo dinâmico de triangulações. Mas é Messi quem faz isso de forma mais visível, porque ele é o génio (máximo) da lâmpada, mas há outros jogadores que operam aquela transformação muito bem, como são os casos de Xavi, Iniesta, Alexis, Pedro e Fabregas. Eles são, simultaneamente, médios e avançados, e vejam o envolvimento deles no processo da recuperação da bola.
Notável Barcelona este, que fomenta questões muito importantes no jogo como são a solidariedade e o profissionalismo: todos por Messi; Messi por todos. E não há fissuras, invejas, ‘medição de pilinhas’, e outras coisas mais, muito típicas em balneários de ‘estrelas’. O Barcelona é, ao mesmo tempo, uma equipa clássica e uma equipa moderna. Meteu o chip e as virtualidades dos computadores numa bola de couro.
Sei que Jorge Jesus esperava este jogo com o Barcelona com alguma ansiedade. Jorge Jesus é um táctico por excelência e adora estes desafios. Estreitou linhas, tentou aumentar a intensidade nos momentos de pressão, e optou por achar Bruno César para fazer um pouco de tudo, na ligação do meio-campo com o ataque. Bruno César era a ‘pedra táctica’ de Jesus. Fazia todo o sentido. E começou bem, activo, concentrado, empenhado. Teve um pequeno momento de (fugaz) quebra na primeira parte e o ‘amarelo’ que lhe foi exibido pelo árbitro contribuiu para que o treinador do Benfica optasse por substituí-lo ao intervalo. Jesus foi humilde nas explicações: ‘tive medo de ficar a jogar com menos um frente ao Barcelona’. Foi sem dúvida a decisão mais difícil e, agora que o jogo já passou, fica a sensação que Bruno César deveria ter ficado em campo, por ser, no Benfica, o elemento desequilibrador (no remate, nas assistências, na pressão sobre o portador da bola na sua zona de acção). E agora, ao não desequilibrar efectivamente, até fica a ideia de que Aimar deveria ter jogado de início. Deveria?...
Parece simples, mas não é. Porque, se fosse simples, já muitas equipas teriam tentado copiar a ‘fórmula de sucesso’ e não se vê por aí nem sequer um ‘sucedâneo do Barcelona’. Não é fácil, porquê? Acima de tudo, porque dá muito trabalho e os clubes não estão organizados (como está o Barcelona) para dar tempo aos jogadores e treinadores. A volatilidade do futebol, as suas imensas variáveis, tornam muito difícil apostar em projectos duradouros. No Barcelona, há estabilidade. Há estabilidade e rigor. E um apego extraordinário ao trabalho, que é possível identificar em cada jogo. O Barcelona vem resistindo, com alguma heroicidade, às ‘fórmulas’ imediatistas e facilitistas. Isso merece ser creditado a seu favor e é, extraordinariamente, meritório.
Há um aspecto do jogo do Barcelona que não tem sido valorizado, quanto a mim um dos aspectos em que assenta o êxito dos catalães: muitos olham ao processo de construção, quando o Barcelona tem a bola, e é disso que falam. Façam o exercício ao contrário. Atentem naquilo que acontece quando o Barcelona... perde a bola. Isto é: o tempo de recuperação da bola, que é muito pequeno, por ser muita rápida essa recuperação. E porquê? Porque o Barcelona, quando perde a bola, pressiona muito forte para a recuperar. Essa é uma das grandes virtudes do jogo catalão. Não dão tempo ao adversários para se (re)organizar e, pressionados, acabam por perder a bola, repetidamente, para o Barcelona. É um processo fantástico! É uma epifania! É alquimia na oficina!
Por isso, costumo dizer que quem gosta de futebol tem de gostar do futebol do Barcelona: a troca de bola entre jogadores das linhas mais atrasadas, que estão na base dos comentários menos abonatórios, é uma espécie de preparação do assalto às linhas mais avançadas. É um processo interessantíssimo, do ponto de vista táctico, que envolve toda a equipa.
Outro aspecto sensacional e único no futebol do Barcelona: o ‘efeito-camaleão’ das suas unidades. A transformação permanente dos avançados em médios e dos médios em avançados é algo para ser estudado. Parece um processo quase químico, osmótico, que faz com que, por exemplo, o Barcelona não precise de jogar com um ponta-de-lança típico. A movimentação de Messi é algo que parece computorizado. Ele sai amiúde da posição de ponta-de-lança para aparecer, entre linhas, a fazer o pique que lhe permite romper ou o passe que lhe permite muitas vezes fechar o ciclo dinâmico de triangulações. Mas é Messi quem faz isso de forma mais visível, porque ele é o génio (máximo) da lâmpada, mas há outros jogadores que operam aquela transformação muito bem, como são os casos de Xavi, Iniesta, Alexis, Pedro e Fabregas. Eles são, simultaneamente, médios e avançados, e vejam o envolvimento deles no processo da recuperação da bola.
Notável Barcelona este, que fomenta questões muito importantes no jogo como são a solidariedade e o profissionalismo: todos por Messi; Messi por todos. E não há fissuras, invejas, ‘medição de pilinhas’, e outras coisas mais, muito típicas em balneários de ‘estrelas’. O Barcelona é, ao mesmo tempo, uma equipa clássica e uma equipa moderna. Meteu o chip e as virtualidades dos computadores numa bola de couro.
Sei que Jorge Jesus esperava este jogo com o Barcelona com alguma ansiedade. Jorge Jesus é um táctico por excelência e adora estes desafios. Estreitou linhas, tentou aumentar a intensidade nos momentos de pressão, e optou por achar Bruno César para fazer um pouco de tudo, na ligação do meio-campo com o ataque. Bruno César era a ‘pedra táctica’ de Jesus. Fazia todo o sentido. E começou bem, activo, concentrado, empenhado. Teve um pequeno momento de (fugaz) quebra na primeira parte e o ‘amarelo’ que lhe foi exibido pelo árbitro contribuiu para que o treinador do Benfica optasse por substituí-lo ao intervalo. Jesus foi humilde nas explicações: ‘tive medo de ficar a jogar com menos um frente ao Barcelona’. Foi sem dúvida a decisão mais difícil e, agora que o jogo já passou, fica a sensação que Bruno César deveria ter ficado em campo, por ser, no Benfica, o elemento desequilibrador (no remate, nas assistências, na pressão sobre o portador da bola na sua zona de acção). E agora, ao não desequilibrar efectivamente, até fica a ideia de que Aimar deveria ter jogado de início. Deveria?...
O Benfica perdeu com toda a naturalidade. Antes dos jogos, fazem-se mil conjecturas, porque ninguém consegue adivinhar as incidências de cada partida. O Benfica não perdeu perante uma mera equipa de futebol. O Benfica perdeu frente ao modelo. O Barcelona, na sua parte desportiva, gere o futebol como deve ser gerido. Sobre um modelo de desenvolvimento inabalável. Por isso, gosto do Barcelona. Sem reservas. Não esquecendo que o futebol tem um lado ‘industrial’ e, nesse aspecto, também não há lugar nem a romantismos nem a ingenuidades.
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