A confusão das finais europeias
Autor: DANIEL OLIVEIRA/ 23 ANOS/ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO
De uma coisa não há dúvida, o Benfica tem mérito no seu percurso até à final da Liga Europa 2012/2013 e tem mérito na qualidade com que disputou essa final. Há que valorizar a campanha na Liga Europa e o modo como a equipa disputou a final.
Nesta edição da LE os jogadores, treinador, restante staff e direcção mostraram um bom trabalho e uma evolução na qualidade e consistência da equipa relativamente aos últimos 15 anos. Este valor, este bom trabalho, não gera dúvidas a ninguém.
O que me incomoda enquanto adepto do desporto e do clube é o sentimento de que estou a ser enganado, é o sentimento de que ninguém valoriza realmente o desempenho e trabalho do clube nesta competição mas sim o desempenho e trabalho do clube noutra coisa qualquer.
Ninguém diz que o Benfica foi à final da Liga Europa. A única coisa que oiço é sobre este mito das finais europeias. Só se ouve e lê sobre a chegada a mais uma final europeia, sobre a glória em estar em mais uma final europeia. Mas afinal que conceito é este de final europeia?
Antes do jogo dei por mim a assistir a vários programas desportivos onde mostravam imagens de finais das Taças dos Campeões Europeus nas quais o Benfica participou, onde exibiam imagens desses momentos históricos e marcantes da vida do clube. Imagens que começavam a preto e branco, passavam para imagens a cores e culminavam com a mensagem de que mais uma final se iria juntar a esse lote. Eu assisti a esse espectáculo com um misto de sensações: a emoção de rever momentos tão gloriosos do meu clube e a confusão sobre a contextualização em que colocavam a final que o Benfica estava prestes a realizar.
Como se pode falar com tanta convicção sobre finais europeias se uma final da Champions e uma final da Liga Europa são coisas dão distantes? Como se pode valorizar tão entusiasticamente o termo “final europeia” se temos meias-finais europeias e quartos de final europeus tão mais valiosos que uma destas finais europeias?
Incomoda-me a onda que se criou à volta de um mito. Uma onda que me tem feito sentir enganado, uma onda que me deixa abalado com este sentimento de que alguém me está a tentar iludir.
Atiram-me com estas imagens, vídeos, mensagens e declarações que me transmitem o feito histórico e o voltar ao passado glorioso do meu clube, que me fazem sonhar e vibrar com algo tão grandioso e único conseguido pelo meu clube. Mas depois paro para pensar e só me apetece gritar “calma!”.
Cheguei mesmo a deparar-me com várias opiniões de que o Benfica estaria prestes a alcançar a melhor época da sua história. Quanto desprestigiante é esta afirmação para com a história tão rica deste clube? Para mim chega mesmo a ser uma falta de respeito para com os maiores ídolos da evolução do Sport Lisboa e Benfica.
Esta afirmação simplesmente baseava-se na possibilidade do triplete inédito, do triplete construído com Taça de Portugal, Campeonato e Competição Europeia. Não interessava que competição europeia era, valorizou-se uma Liga Europa ao nível de uma Taça dos Campeões Europeus.
Porque é que as pessoas não podem viver e vibrar com aquilo que conseguem? Porque é que há uma necessidade de transformar o bom verdadeiro num óptimo imaginário? Porque é que não podemos dizer que fomos à final da Liga Europa em vez de repetirmos que chegámos a mais uma final europeia?
Esta ilusão de grandeza que constantemente se forma à volta dos feitos do meu clube é algo que me deixa apreensivo, é algo que tanto a direcção como os adeptos já deviam ter aprendido a não aceitar, pois eles melhor que ninguém sabem o quanto insucesso traz ilusão a mais, o quanto insucesso gera entusiasmo descabido.
Uma final da Liga Europa tem valor no momento. A boa qualidade de jogo do finalista vencido só tem importância durante o jogo e nos momentos imediatos que lhe seguem. Ao vencedor vale-lhe o título e a presença na Supertaça Europeia, mas em termos de relevância para a história do desporto pouco acrescenta.
Alcançar a final da LE e conseguir um desempenho tão bom contra uma equipa como a do Chelsea é sinónimo de bom trabalho, é um sinal positivo para a ambição de feitos realmente marcantes e históricos. Mas não passa disto.
Finais europeias são um mito de quem quer mascarar o que de bom conseguiu por algo ainda melhor. Chegámos à final da Liga Europa, festejemos isso e trabalhemos sobre isso.
Sem comentários:
Enviar um comentário