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sábado, 30 de julho de 2016

O SENHOR DAS TRINCHEIRAS


O termo foi eternizado por Jorge Jesus: "nota artística". De facto, a memória seletiva do adepto de futebol comum prefere guardar momentos de magia, como dribles e golos de belo efeito, quando a equipa "sai à rua com o seu melhor fato". Mas enquanto os ataques ganham jogos, as defesas ganham campeonatos. Por isso é tão importante aprender o processo de desmaquilhagem, como tão bem sabe o "mestre" Ljubomir Fejsa.

Pensei em "homem invisível", "carro-vassoura" e "senhor das trincheiras", mas o título acabou mesmo por ser outro. São muito distintas as formas de como os amantes de futebol podem encarar o médio defensivo sérvio, mas a característica essencial de Fejsa transversal a todos é (ou deve ser) apenas uma: o facto de ser absolutamente decisivo para a equipa em que atua. Contudo, como não está tão intimamente ligado à tal "nota artística", a importância de Ljubomir Fejsa acaba sempre por passar despercebida ao adepto menos atento.

Com lápis, rimel e batom, Franco Cervi, Andrija Zivkovic, Andre Carrillo ou Toto Salvio são capazes de pintar belas jogadas de futebol, pertencendo a sua finalização ao toque de classe de Jonas. Mas é sobre a frieza deste "guarda-costas" que gira todo o equilíbrio de uma equipa. Sem Fejsa, a equipa do Benfica parte-se e a falta da sua omnipresença concede espaço aos adversários para criarem perigo. É impressionante o sentido posicional deste ex-Olympiacos e a forma assertiva de como atua em campo, desarmando com inigualável determinação e dando o primeiro passe em frente na saída, sem correr riscos graças à concentração nirvânica que revela. Com uma noção muito precisa das suas limitações - e até são algumas - o que é certo é que este homem vale por dois quando se pede para varrer o tão importante espaço entre as linhas defensiva e média.



Considerando o facto de as águias partirem à frente de leões e dragões no pontapé de saída para esta temporada, não tenho quaisquer dúvidas de que este é, para já, o maior trunfo que qualquer um dos clubes poderia ter. Sim, no meio de tanto talento, qualidade técnica, imprevisibilidade e criatividade com que as equipas "se maquilham", o "coração tático", no futebol de hoje em dia, quase sempre bate forte na posição 6. E não é à toa que, onde estiver Fejsa, a probabilidade de a equipa se sagrar campeã é altíssima, isto sem desprestigiar, como é óbvio, todos os jogadores que compõem um coletivo.

Na sombra das linhas avançadas, elejo Fejsa como um dos potenciais homens do campeonato, por sobre ele recair tanta responsabilidade e por tão eficazmente lidar com a mesma. Para já, poderá ser este o homem que fará a diferença no fim de contas. Porque a maquilhagem é muito exuberante, atrativa e chamativa para o espectador, mas é na arte de desmaquilhar o adversário que pode estar o segredo do sucesso. Às vezes, é preciso jogar bonito; noutras, é preciso jogar... Fejsa.

1 comentário:

  1. Nunca me esqueço do primeiro jogo que vi dele na Luz, contra o Paços de Ferreira.
    Entrou na primeir parte e não só ganhou todos os lances divididos como encheu por completo o meio-campo.
    Fiquei tão impressionado que disse logo a quem estava ao meu lado que nunca tinha visto ninguém no Benfica a defender como ele na posição 6. E não estava enganado.
    Sem lesões, Fejsa é garantia que o título estará sempre mais perto.

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