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quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

O NORMAL, O ANORMAL, O INSTÁVEL E O TOQUE NO MEIO DISTO TUDO


Agora sim, vamos a meio do campeonato de futebol. É altura para fazermos mais um balanço e constatar o seguinte: quem estava bem está melhor; quem estava assim-assim está bem; e quem estava muito bem ficou bem pior
Não somos bem como os americanos, que veem o desporto como um sítio onde tem de haver quem ganhe e quem perca. Não gostam que haja algo no meio, um empate, nem vão à bola com males menores ou com duas equipas levarem os mesmos pontos para casa. Eles gostam que haja um melhor e um pior e com o futebol deles ou o beisebol criaram formas em que as regras não deixam que duas forças empatem. Nós não somos assim. Além de termos caído no caldeirão em pequeninos e não precisarmos de uma poção mágica para adorarmos futebol, gostamos de campeões antes de o serem.
Por isso vivemos num país que há anos e anos chega ao Natal e assinala um campeão. Mesmo que a altura da mesa cheia, dos presentes, do bolo rei e da fartura em família não seja na esquina que divide a reta de uma época. A altura de balanços e resumos e de ver o que foi feito é agora, duas jornadas volvidas. Chegámos a meio do campeonato, se bem que as coisas mudaram muito pouco.
O NORMAL (QUE VOLTOU TARDE)
Quando tínhamos o peru e o bacalhau à frente e as filhoses à espera, a equipa que ia em primeiro jogava de uma forma - rápida a ir para a frente, com pressa em dar um fecho às jogadas com bola, e muito zelosa a ir para trás. O Benfica das 13 vitórias, três empates e uma derrota em 17 partidas jogou, quase sempre, com gente na frente que prefere pensar a correr e não enquanto passa a bola, com calma. Gente como Cervi, Salvio e Guedes, velocistas de olhos na bola e cabeça pouco levantada, que tornaram a equipa de Rui Vitória imprevisível para os adversários e para ela própria.
Porque jogar rápido e com vertigem para a baliza dos outros cansa e, se não dá resultados - um cruzamento perigoso, um remate à baliza, um golo -, pode desorganizar mais quem ataca do que quem defende. O treinador saberia isto, tão bem como ciente estava de que era assim que podia ter a equipa enquanto ela não voltasse a ter o único homem que clica no botão de pausa quando todos os outros carregam no 'fast forward'. Sem Jonas, o Benfica perdeu apenas sete pontos em 12 jornadas. Bom, e pouco, para uma equipa feita para jogar com um tipo na área, para fixar centrais e marcar golos, e com outro, atrás dele, para se mexer, ser o centro de tudo e o cruzamento de todas as jogadas.
Os quatro médios e dois avançados com que Rui Vitória os habitou a jogar, por causa de Jonas, aguentaram e deram resultados sem ele. Os golos que, na época passada, eram distribuídos mais por dois ou três, foram sendo divididos por onze carteiros (Jiménez, Mitroglou, Pizzi, Salvio, André Horta, Carrillo, Semedo, Cervi, Grimaldo, Guedes, Lisandro). A equipa habituou-se a tentar marcar, resolver, recuar e defender cedo em todos os jogos, porque, sem Jonas, perdeu a capacidade a dominar os adversários com a bola e a controlar-se a ela própria. O brasileiro voltou - no Natal, por sinal -, já marcou duas vezes e está a devolver a calma ao proclamada campeão de Natal, ou de inverno, que está a meio caminho de um tetracampeonato que nunca conseguiu.
O ANORMAL (QUE NÃO ESTABILIZA)
O FC Porto, esta época, não é um caso normal. Olhamos para ele e vemos uma equipa que, sem a bola, defende-se bem, reage rápido e sofre como ninguém - ou seja, pouco, porque Iker Casillas apenas viu sete bolas entrarem-lhe na baliza, em 17 jogos. Mas é a mesma equipa que já acabou quatro partidas sem fazer golos, que tem demasiados dias em que a relação com a baliza dos outros é como a de um cão pisteiro com o nariz entupido, e que depende quase sempre da mesma pessoa para as bolas entrarem.
Essa pessoa é um miúdo, que tem 21 anos e já marcou 11 golos (André Silva), que tem ao lado outro, com apenas 20 (Diogo Jota). São duas partes de uma equipa que apenas tiveram alguém com mais de 25 anos para lá da defesa a partir do momento em que outro miúdo (Otávio, 22 anos) se magoou e o treinador quase foi obrigado a libertar o tipo mais habilidoso e perigoso que tem (Brahimi, 26 anos). Esta é a equipa que deixou 13 pontos na derrota e em cinco empates (três consecutivos) no campeonato e tem a menor média de idades entre os três grandes.
Juntando as coisas, não seria normal que esta equipa estivesse em segundo lugar e com apenas quatro pontos a menos que o líder. Mas o FC Porto que Nuno Espírito Santo (NES) teve de construir sem o dinheiro de outros tempos para ir às compras até tem, como ele tanto gosta de dizer, uma “fortaleza”. Com oito vitórias e um empate, os dragões têm o melhor registo caseiro no campeonato. E, com Brahimi e Corona nas alas e com NES já a tentar poupar André Silva em certos jogos, a equipa tem atacado mais rápido e dando menos a entender ao adversário.
O anormal é que esta equipa que o treinador arranjou forma de tentar normalizar teve de ser mexida, outra vez. Brahimi foi para a Taça das Nações Africanas com a Argélia e pode lá ficar até 5 de fevereiro, falhando mais três jogos (Rio Ave, Estoril e Sporting). Nos dois que já falhou, os dragões empataram e ganharam. E voltaram a ser mais lentos, previsíveis e pouco dinâmicos a usar a bola, além de falharem muitas das não tantas oportunidades que criam - o que é, talvez, o maior problema do FC Porto esta época. Mas, na jornada que marcou a esquina do campeonato, ganharam pontos a Benfica e Sporting, algo que não acontecia desde 2013.
OO INSTÁVEL (POR TODAS AS RAZÕES)
A época passada, por esta altura do campeonato, o Sporting estavam em primeiro, jogava muito, tinha 44 pontos e mais quatro do que o segundo. Parecia embalado pelo que viria a lutar até ao fim, taco-a-taco, mas não conquistou. Agora, vai com menos 10 pontos dos que tinha à mesma jornada última temporada, está oito pontos aquém do líder e apenas vê os dois rivais se olhar para cima. O que não é nada normal, sabendo nós quem manda ali.
Uma equipa grande de Jorge Jesus - ou seja, entre Benfica e Sporting - nunca tinha estado tão mal com 17 partidas feitas no campeonato. Os 34 pontos, 29 golos marcados e 16 sofridos são o pior que os jogadores treinados por ele já fizeram em oito temporadas. Os leões que, na época anterior, tabelavam muito, jogavem bem por dentro, não paravam e tinham um ritmo intenso, amolecerem e marcam pouco. Quem pressionava, fechava e reagia no momento certo e no sítio certos, ou seja, rápido e lá à frente, defende hoje sem tino e longe de ser um bloco.
A equipa ganha pouco, depende em demasia de um só tipo para marcar (Bas Dost tem 13 dos 29 golos) e parece que ainda não se adaptou bem ao estilo que ele tem comparado ao que Slimani tinha. As três derrotas e os quatro empates deixaram fugir 17 pontos e nunca o Sporting os teve em tão pouco número, a meio do campeonato, desde que Bruno de Carvalho é presidente.
Fora as contratações que Jesus pediu a dedo e não rendem o que deviam (Markovic, Elias, André, Alan Ruiz ou Castaignos), quem preside também parece que não tem facilitado as coisas. No final do empate em Chaves que impediu o Sporting de ganhar pontos ao líder, Bruno de Carvalho terá ido ao balneário, questionado os jogadores e feito um ambiente que, dizem os rumores, levou os capitães e Bas Dost a baterem-lhe o pé. E acabou com Adrien e William, no dia seguinte, a fazerem de meninos que falam perante o resto da turma porque o professor os obrigou, ao falarem à Sporting TV sobre o episódio - quando a equipa, supostamente, estava em 'blackout'. Enfim, contradições.
É a este Sporting que Jorge Jesus, que custou milhões, gasta milhões e de quem se espera milhões, tem de dar a volta e aproximá-lo ao que era na época transata: decisivo, pressionante, impressionante, estável. Porque os leões apenas melhoraram no facto de, nesta altura, o campeonato não ser a única competição interna pela qual lutam. Hoje, ainda há a Taça de Portugal.
O TOQUE DE JORGE
Além da vida de cada um dos três grandes, há duas equipas que ainda não chegaram a meio do campeonato, porque apenas jogam esta segunda-feira, às 20h. Uma delas é o Sporting de Braga, que pode dobrar a esquina em terceiro lugar caso vença a outra, que é o Tondela. E cada uma nos diz algo sobre o que já vimos a ser jogado até aqui.
Há pouco mais de uma semana, os tondelenses ficaram sem Petit, o décimo segundo treinador a sair de um clube esta época. Entrou Pepa, que já tinha sido um deles, e isto diz-nos que Portugal continua a ser país com pouca paciência para homens que não fazem logo o que se espera deles à frente de uma equipa de futebol. É demasiado, mas há modas que persistem e são difíceis de ultrapassar.
Um problema que tem ligação ao Braga, que quis ficar sem José Peseiro e teve de ir buscar o homem ao qual queríamos chegar - Jorge Simão. O treinador acaba a primeira volta do campeonato no clube minhoto, onde vem tentar prolongar o toque de Midas que esava a ter no Desportivo de Chaves. Os flavienses são, até ver, a surpresa das boas no campeonato, por serem uma equipa acabada de ser promovido, que joga de peito feito, quer bater o pé a quem for e já ter estragado a vida a Sporting e FC Porto. O sexto lugar é sinal disso.
O problema, para eles, é que Jorge Simão, para não perder o toque, foi buscar Paulinho e Battaglia a Chaves, um médio e um lateral direito que puxavam muito pela equipa e agora o vão fazer para Braga. O treinador puxou o cobertar para tapar a cabeça que tem no Minho e destapar os pés que já não estão em Trás-os-Montes. Entre um e outro sítio, Jorge Simão apenas perdeu dois encontros neste campeonato (contra o Benfica e o Braga, ainda em Chaves) e não parece que vá perder o toque tão cedo.

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