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terça-feira, 17 de janeiro de 2017

PAZ AOS ÁRBITROS À CUSTA DO BENFICA


Em condições normais, quando há Mitroglou (com Jonas) Guedes deve sentar-se no banco e quando há Cervi e Zivkovic falta espaço para Rafa.
É inegável que houve início de jogo atípico a todos os "níveis", como comentou Rui Vitória a propósito do inesperado e surpreendente empate com o Boavista. Foi atípico pelo frenesim que o caracterizou, o tal início, no ritmo, na intensidade, nos disparates do árbitro, no número de golos boavisteiros e na forma como foram apontados e , ainda, no apagão defensivo encarnado, do qual, pela terceira vez em curto período, resultou uma revoada de golos encaixados. Aconteceu em Nápoles, na Turquia e no último sábado, diante dos axadrezados.
Foi atípico, no sentido de sair da normalidade, porque tudo correu mal ao "grande" e bem ao "pequeno", em meia hora de suplício para os adeptos da águia.
Pela segunda ocasião na presente temporada, responderam à chamada, quase lotaram a Luz e como retribuição pela sua infinita lealdade receberam murros no estômago, por causa dessa "atipicidade" exibicional que, no campeonato, correspondeu a quatro pontos deitados à rua em função de dois empates fora do programa devido ao abissal  desnível de valor entre o Benfica, que é líder, e os opositores que lhe travaram o passo, ambos com os seus méritos (Vitória de Setúbal, na 2.ª jornada e Boavista, na 17.ª) e por isso credores do respeito de quem frequenta os estádios para ver as suas cores valorizadas, mas acima de tudo, para testemunhar espectáculos futebolísticos de qualidade, como se verificou nos dois jogos.
Sem pretender contrariar a ideia do treinador benfiquista, atrevo-me, no entanto, a dizer que, além de atípico, o jogo com o Boavista foi, sobretudo, pedagógico, a vários níveis.
No imediato, contribuiu para diluir a polémica com a arbitragem e os árbitros pelo que de errado se viu em nítido prejuízo do Benfica, em contraposição ao registado na jornada anterior em que o FC do Porto empatou e podia ter perdido e o Sporting ganhou e podia ter empatado, não constando que alguma voz autorizada de um ou de outro clube viesse a terreiro reconhecer e agradecer o benefício do erro. Por isso, depois do que se observou no Estádio da Luz, a que se somam os deslizes da 16.ª jornada, que por acaso até agradaram aos outros candidatos ao título, é pouco provável que se teime na "cantilena do coitadinho", fastidiosamente repetida pelos seus principais intérpretes (presidente e treinador leoninos): pode ser que se convençam a tempo de que é a jogar e não a falar que se conquistam títulos.
Razão, mais uma vez, para aplaudir-se a coragem de Augusto Inácio, que reabraçou a atividade onde se sentirá melhor e onde as pessoas o gostam de o ver, permitindo-me um parênteses para trazer à colação um feito que, de pouco destacado, será mal conhecido por uma boa parte da franja mais jovem da família leonina: foi o último treinador português a dar um campeonato nacional ao Sporting (2000): depois. só Boloni (2002) e... ponto.
Inácio está bem onde está, na área do treino, e já deu importante contribuição para a (boa) imagem do futebol. ao afirmar sem ponta de preconceito que, sobre os lapsos dos árbitros, os treinadores queixam-se quando são prejudicados e calam-se quando são beneficiados. Esta é a verdade pura e dura.
O jogo da Luz fez, também pedagogia ao desaconselhar Rui Vitória a patrocinar euforias traiçoeiras. Os jogadores estão tranquilos e motivados, mas, como ele tantas vezes tem dito, não há campeões por antecipação, de aí o perigo de gestões extravagantes, género tira oito/mete oito, para entusiasmo dos menos avisados, os quais julgam ver uma equipa transformar-se em duas ou mais, sem intermitências no desempenho e na eficácia.
Têm-se cantado hosanas sobre esse suposto milagre da multiplicação e creio que Vitória se deixou embalar pelos encómios recebidos, de aí a oportunidade deste empate para se regressar à terra, todos, desde os técnicos aos adeptos. Há um plantel valioso para gerir, a partir do qual se constrói uma equipa onde devem ser integrados os melhores, conscientes estes de estarem obrigados a exigência máxima, reclamada pela implacável concorrência dos suplentes,
É assim que se ataca uma época desportiva, em várias frentes, sem quebras de rendimento, como se pede aos grandes clubes mundiais, para quem só uma prioridade existe: ganhar, sempre!
Quando se facilita, ou se inventa, como se diz na gíria, emerge o risco de as coisas correrem mal, como foi o caso, Em condições normais, quando há Mitroglou (com Jonas) Gonçalo Guedes deve sentar-se no banco e quando há Cervi e Zivkovic falta espaço para Rafa. Aliás, sem querer intrometer-me onde não sou chamado, mas é meu dever crítico, parece-me que este jogador ainda não justifica o estatuto de titular. Na altura da sua transferência afirmou o treinador Paulo Fonseca que «terá de perceber a realidade do Benfica». E Rafa ainda não percebeu. É só um reparo, mas talvez ajude a explicar o empate providencial com o Boavista...

Fernado Guerra, in a bola

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