Duplo pivô
1. Tendo como pano de fundo o jogo da primeira mão, as dificuldades esperadas em solo alemão era imensas, exponenciadas pelo golo inicial de Aubameyang, a aproveitar marcação fantasma de Semedo, na sequência de bola parada. Temeu-se o pior, mas o Benfica, equilibrado e personalizado, foi mostrando argumentos convincentes e rapidamente o filme de Lisboa passava à história. Apostando num duplo pivô no meio-campo, Rui Vitória mostrava que, apesar do resultado não ter sido animador, as indicações deixadas no jogo em Nápoles indiciavam que esta roupagem defendia melhor os interesses colectivos, pois André Almeida era a muleta que Samaris precisava.
Esperanças
2. Os primeiros 45 minutos mostravam que a abordagem era correcta, sendo possível ao Benfica discutir a eliminatória em território alemão e mostrar que, apesar de apimentado por grande dose de fortuna no resultado da primeira mão, as diferenças reais entre os dois conjuntos eram passíveis de serem diluídas com exibição perfeita nos vários momentos do jogo. O momento defensivo - à excepção do lance do golo - era quase perfeito, com as entrejudas a revelarem-se determinantes para a coesão do bloco encarnado, assim como o controlo da profundidade - aspecto fundamental para parar as constantes movimentações da armada Aubameyang e companhia. Suspirava-se então para que, na posse de bola e com critério, a equipa pudesse ter capacidade para fazer chegar os extremos para perto do isolado Mitroglou. Era o que faltava para que a primeira parte fosse mais promissora e guardasse legítimas esperanças para a segunda parte, assim como o conjunto da eliminatória.
Ferido
3. Uma oportunidade desperdiçada pelos encarnados logo no início da segunda parte fez aumentar os níveis de confiança para a crença benfiquista, mas o desenvolvimento do seu jogo ofensivo fazia aumentar a exposição espacial da sua estrutura defensiva, convidando às investidas profundas dos exímios executantes alemães. Dois golos em 2 minutos quando o jogo aparentava equilíbrio, fez perceber que mesmo organizado tacticamente e com os sectores muito compactos a realidade revela que infelizmente para nós, portugueses, é realidade crua e que dói: a diferença de valor individual e colectiva entre o Dortmund e qualquer equipa deste canto à beira mar plantado é imensa e a segunda parte trouxe a nu as gritantes insuficiências encarnadas para nivelar esta eliminatória. A capacidade única dos germânicos em interpretar o primeiro tempo da defesa (transição defensiva), o exímio alinhamento do seu sector defensivo na exploração da lei do fora de jogo, a velocidade dos seus processos ofensivos, tudo somado, atropelava as simpáticas intenções de Luisão e suas tropas, sem argumentos para contrariar o valor superlativo dos visitados. Mesmo recorrendo ao habitual 4x4x2, ou chamando a jogo Jonas e Jiménez, o Benfica nunca mais reentrou no jogo, ferido de morte e moribundo, perseguia de forma mais emotiva que elaborada fugir ao destino traçado pelos panzers germânicos, cada vez mais confortáveis na partida.
O que faltou a Aubameyang em Lisboa (eficácia) sobrou-lhe ontem e qualquer analise mais profunda aos erros encarnados e às virtudes alemãs, qualquer tentativa de descobrir responsabilidades pela derrocada, assenta acima de tudo no que se enfatizou ao longo desta crónica: os 180 minutos desta eliminatória revelaram que o percurso encarnado nesta Liga dos Campeões é motivo de orgulho, mas terminou naturalmente ontem porque o adversário é melhor em quase tudo o que uma equipa contém."
Daúto Daquirá, in a bola
Sem comentários:
Enviar um comentário