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quarta-feira, 31 de maio de 2017

NUDEZ DA VERDADE, MANTO DA FANTASIA


"Morreu a velha época, viva a nova época. Foi sempre assim e sempre assim será. O futebol tem, pois, uma virtude vital: renova-se nos encantos e nos desencantos. A uma época perdida sucede a esperança de uma época ganha. Daí, a natureza perdurável do negócio. Daí a razão de ser desse milagre da transformação da lástima em crença, da desolação em convicção de sucesso.
É também por esta tão irrazoável racionalidade que os presidentes e os treinadores perdedores apagam tão facilmente da memória de todos projectos e promessas por cumprir. Na ideia de futuro, o que conta, para os adeptos antes desiludidos e decepcionados não é, como escreveu o Eça na 'Relíquia', a nudez crua da verdade, mas o manto diáfano da fantasia.
Porém, há uma altura em que a repetição falhada da ideia de esperança e de sucesso de torna letal. Penso que Pinto da Costa e Bruno de Carvalho têm a consciência de que entraram em zona de perigo, caso o Benfica chegue ao penta.
Para o presidente do FC Porto, preso a um complexo emaranhado de soluções económico-financeiras para evitar o colapso desportivo, a perda do próximo campeonato torna-se-ia dramática; para o presidente do Sporting, atado de pés e mãos a uma jura de títulos no imediato e continuação do insucesso desportivo levá-lo-ia ao universo de um simples pantomineiro.
Julgo que tanto Pinto da Costa como Bruno de Carvalho têm a exacta consciência da delicadíssima situação em que se encontram e sabem que a questão decisiva do momento será a de como conseguir ganhar. Sendo certo que não podem ganhar os dois."

Vítor Serpa, in a bola

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