Páginas

sexta-feira, 30 de junho de 2017

CRÓNICA FINAL DE RUI GOMES DA SILVA


"COMO DEVEMOS SAIR ONDE PREFEREM TER COMENTADORES DO PORTO E DO SPORTING A INSULTAR OS BENFIQUISTAS DO QUE PESSOAS DO BENFICA A … DEFENDER O BENFICA."
"N – 1
(OU COMO DEVEMOS SAIR ONDE PREFEREM TER COMENTADORES DO PORTO E DO SPORTING A INSULTAR OS BENFIQUISTAS DO QUE PESSOAS DO BENFICA A … DEFENDER O BENFICA)
N – 1
No princípio de 1995, Aníbal Cavaco Silva, então Primeiro Ministro de Portugal, quase a completar 10 anos nessas funções (ele que … “nunca foi politico” e que passou os 10 anos seguintes a condicionar tudo e todos para poder ser Presidente da República, onde esteve mais 10 anos … embora – repita-se – … “nunca tenha sido político”), anunciou a sua saída de Presidente do PSD, não se recandidatando a essas funções, no Congresso que estava já convocado para o mês seguinte.
E, deixando o PSD como deixou, nos dias seguintes à sua decisão explicou, “urbi et orbe” as motivações da sua saída.
De entre todas as explicações, houve uma que me tocou – a mim, Deputado da então maioria, desde 1987, cargo esse que … apoiando o Governo, sendo Ministro de um deles ou na oposição … haveria de exercer até 2009 – de forma especial.
Poucos se lembrarão, até porque essa parte de uma entrevista a Cavaco Silva é pouco (ou muito pouco) recordada, mas ele explicou que a razão principal da sua saída foi ter percebido que, se nas eleições que se realizariam em outubro, ainda tinha condições para ganhar, … já não as teria no ato eleitoral seguinte.
E, assim, teria decidido sair no momento anterior àquele em que seria obrigado a fazê-lo.
Era o que designou da teoria N – 1.
Ouvi e – para além de muitas coisas em que me identifiquei com Cavaco … e com algumas em que me sentia nos antípodas do que ele pensava e fazia – não deixei de concordar com esse princípio de vida em democracia.
Devemos sempre deixar os sítios (ou os cargos) de onde seremos obrigados a sair (não interessam agora as causas nem as razões, porque isso é … outra conversa) no momento anterior em que obrigatoriamente o teríamos de fazer.
Claro que as razões dessas saída poderão ir desde acharmos que não ganhamos as eleições a seguir às próximas (como seria este o caso), de sermos obrigados a sair porque no mandato seguinte deixaremos de ter condições para, em consciência, desempenharmos o cargo para que seriamos eleitos sem violentarmos os nossos valores e os nossos princípios, até à avaliação que fizermos de, se lá continuarmos, a vida se poder encarregar de não deixar que se lembrem de nós como vencedores mas, antes, como vencidos!
Ou seja, N – 1.
Confesso que devo muito – como todos os portugueses – a Cavaco Silva.
Mesmo os que, depois, se desiludiram com ele (e, por maioria de razão, os que nunca se entusiasmaram com a sua liderança).
Mas devo-lhe a teorização deste princípio universal que sempre tive como certo: sair dos sítios antes de nos fazerem sentir a mais!
N – 1 … NA BOLA
Este é – se for publicado – o meu artigo 99 em “A Bola”.
Como – anteriormente, nos anos 90 – já havia escrito em “O Jogo” e no “Record”.
O 99º, desde o dia 13 de agosto de 2015.
Fazendo, dessa forma, o pleno dos jornais desportivos (embora, com toda a franqueza, não sei se daqui a 20 anos … os jornais serão tão relevantes … ou existam, mesmo, como há … 20 anos).
Mas isso são previsões para outros momentos, que não os de despedida.
Em 13 de agosto, era o Benfica bicampeão nacional!
Em 28 de junho – hoje, portanto – o Benfica é tetracampeão nacional.
Com todas as condições para ser … penta!
Por mim, chegou o momento N – 1, em “A Bola”.
Com um agradecimento público, sincero e muito sentido, a 4 pessoas que gostaria de nomear.
Ao Vitor Serpa, pela responsabilidade formal do convite e pela simpatia com que sempre me tratou, a mim, simples “opinador”, ele, um velho monstro sagrado do jornalismo desportivo, … apesar de não ser … do Benfica!
Ao Paulo Cardoso, administrador da empresa proprietária do jornal, velho novo (ou novo velho??) amigo, com quem me cruzo … muitas vezes, nos almoços, no … “Sinal Vermelho”!
O mesmo “Sinal Vermelho” onde me cruzo com o Dr. Arga e Lima, proprietário de “A Bola” e legítimo portador das bandeiras de quem fundou e imaginou o jornal como grande referência da imprensa desportiva nacional, “herdeiro” não só da propriedade, mas, também da superioridade moral e intelectual de quem sabe que há coisas que … se têm ou nunca se terão (e ele tem)!
E, por último, ao José Manuel Delgado, grande amigo dos tempos da Faculdade, em que discutíamos tanto futebol que … passamos a ser amigos para a vida.
Para a vida, independentemente de tudo.
E o tudo significa nunca termos deixado de perceber o papel que cada um desempenhava, o que cada um podia contar, ou, mesmo, o que cada um poderia contar … depois de ter ouvido … muito mais do que que poderia ser contado.
É assim a vida!
Como em tudo, … também na Bola, … N – 1.
E se há “lugares” de onde saímos, por causa do N- 1, para voltarmos, … há outros de onde saimos porque já não queremos lá estar!
Com a perceção certa do eu, no tempo e no espaço, … onde deveremos estar!
É isso a vida!
Conhecendo o nosso mundo (onde somos atores e guionistas) e … as nossas convicções.
Porque, mais do que nós e as nossas circunstâncias, … devemos ser nós e os nosos valores!
Para que, com isso, o tempo volte a ser (todo) nosso!
N – 1 … ANTES DO 100
N – 1 … antes do 100, antes do penta, antes de …
Obrigado aos meus (em termos deste jornal, obviamente) … 4 cavaleiros do Apocalipse (no bom sentido, claro)!
Obrigado a todos os que me … criticaram e – também – a todos os que me … ajudaram!
Mas o maior obrigado, claro, para todos os que … leram!
Obrigado a “A Bola”!
Até … sempre!"

Última crónica de Rui Gomes da Silva, in a bola

1 comentário:

  1. Comprava a "A BOLA" só à sexta-feira; será a última também para mim...

    ResponderEliminar