"Em Espanha celebram-se, por estes dias, os 25 anos dos Jogos Olímpicos de Barcelona. E têm nuestros hermanos boas razões para recordarem não só o evento desportivo que teve lugar em 1992, mas sobretudo as consequências altamente benéficas que tal organização teve no desporto espanhol e não só. Barcelona deu um salto quântico com os Jogos, abriram-se vias, melhorou a mobilidade e surgiram novos bairros, preparando a Cidade Condal para enfrentar as décadas seguintes (Lisboa fez o mesmo com a Expo-98 de boa memória). Mas para o desporto espanhol a ideia de sediar os Jogos esteve muito para além das três semanas de eventos ou dos benefícios para a capital da Catalunha.
Tendo os Jogos Olímpicos de 1992 por meta, a Espanha criou um plano de desenvolvimento desportivo em todas as modalidades que hoje, um quarto de século volvido, continua a dar frutos, fazendo com que nos sintamos, neste particular, tão perto e cada vez mais longe. Tenho vontade de confessar que sinto inveja do desporto espanhol; mas, para ser preciso, mais do que inveja sinto admiração pelo que fizeram e pela convicção que colocaram na causa.
Em Portugal, quase nada se fez por uma política desportiva séria, vista como um investimento e não como uma despesa. Em 43 anos de democracia não houve um governo, que há um partido que possa dizer que fez uma tentativa honesta na criação de um modelo desportivo global, que apostasse na escola e criasse condições de massificação de onde surgissem, com naturalidade, as elites. De quatro em quatro anos, não é por acaso que passamos quase incógnitos pelos Jogos. É por falta de visão política."
José Manuel Delgado, in A Bola
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