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segunda-feira, 31 de julho de 2017
ESTAR ACIMA É O CONTRÁRIO DE ESTAR ABAIXO
Conheci o Nicolau Santos da redação do "Público" no outono de 1996, quando os trabalhadores do jornal da SONAE viram sair o seu extraordinário diretor/fundador e viram entrar Nicolau Santos, que foi a escolha de Belmiro de Azevedo para o lugar deixado vago por Vicente Jorge Silva. Foram tudo menos amáveis, esses tempos que Nicolau Santos padeceu naquela que foi a sua curta experiência de dirigir o "Público" num ambiente de motim permanente encabeçada pela ala que haveria, mais tarde, de lhe suceder. Passaram-se, entretanto, 20 anos e o episódio não passa hoje de uma velha reminiscência na história de um jornal com o seu cotejo de decências formais e indecências funcionais de que, provavelmente, já poucos se lembram - e ainda bem - em função da largueza de pormenores e de protagonistas assanhados. Devem contar-se pelos dedos de uma mão as vezes em que, nestes 20 anos, voltei a encontrar ou a conversar fugazmente com o Nicolau Santos, que sempre mereceu a minha simpatia e sempre continuará a merecer a minha amizade (muito distante, é certo) e um justo respeito, sendo que o respeito, ao contrário das amizades, jamais pode ser distante porque o respeito ou é ou não é. E, neste caso, é. A meio desta semana lendo o texto que o atual diretor do "Expresso" escreveu sobre o seu clube e fez publicar na edição online do jornal, dei comigo a recordar a breve passagem do Nicolau pelo "Público". Uma das primeiras e louváveis atitudes enquanto diretor foi a de resignar à posição que tinha no chamado Conselho leonino - o órgão consultivo do Sporting Clube de Portugal - com o fim de exercer o seu novo cargo "acima" e3 com o máximo de distância das turbulências sociais que o futebol gera e gerará. As opiniões sobre a equipa de futebol do Sporting expressas por Nicolau Santos esta semana são legítimas como as opiniões de qualquer outra pessoa sobre esse ou qualquer outro assunto, convenhamos desde já. Sendo o "Expresso", no entanto, um generalista de "referência" e sendo a posição de Nicolau socialmente bem diferente da dos diretores dos jornais desportivos ou da dos comentadores afetos a emblemas, que interesse verá o meu amigo Nicolau em vestir a camisola do seu clube e sujeitar-se a estas baixíssimas guerras da bola? Conhecendo-o, sei que não é por interesse, é por amor que, descendo do altíssimo patamar da equidistância inerente ao seu cargo, acaba por se ver discutido nas tabernas como se de um "híbrido", um "ignorante", falho de "inteligência" e de "bom senso" se tratasse porque foi assim que, logo no dia seguinte, o diretor de comunicação do Sporting rebaixou o diretor do "Expresso". Isto será bom para o prestígio do "Expresso"? Não, não é. E será bom para Nicolau Santos? Muito menos. E porquê? Porque estar "acima" é o contrário de estar abaixo. Um abraço, Nicolau.
Leonor Pinhão, in record
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