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domingo, 23 de julho de 2017
OCTÁVIO E OS PASSARINHOS
Vivemos numa sociedade onde quem trabalhou numa casa noctívaga não tem credibilidade.
Nestas conversas do futebol, fala-se muito de "credibilidade" como a qualidade sem a qual ninguém pode ser levado a sério. Até nas esferas mais altas da nossa Justiça desportiva é essencial essa qualidade de se poder ser levado a sério de modo a não ferir decisões importantes para a moral pública. Veja-se este caso recente da decisão de um órgão disciplinar da FPF sobre o processo do Apito Dourado em que foi liminarmente desprezada a contribuição de uma testemunha por não lhe ser reconhecida credibilidade. É um facto que vivemos numa sociedade altamente civilizada onde, por exemplo, quem trabalha ou trabalhou numa casa noctívaga não tem credibilidade, enquanto aos clientes da mesma casa noctívaga é reconhecida toda a credibilidade desde que por lá paguem as contas e exijam os seus números de identificação fiscal nas faturas. É assim que o país progride. Todo este relambório vem a propósito de Octávio Machado, o ex-diretor do futebol do Sporting, e da entrevista que concedeu à CMTV tendo como tema central a sua saída voluntária da estrutura do clube de Alvalade que, agora sem ele e segundo as suas próprias palavras, está repleta de "passarinhos", que é a mesma coisa do que dizer que a incompetência campeia. A mudança de campo de Octávio provocou, naturalmente, acesas discussões entre a opinião pública dividida no que respeita à credibilidade a emprestar ao funcionário diligente e leal à presidência que passou, com a mesma verve de sempre, a dissidente leal à dissidência. Feridos pela doença intratável de clubismo, milhares de fazedores de opinião – os profissionais dos estúdios de TV e das redes sociais e os amadores que pululam em todos os cafés e cervejarias do país – fizeram passar as declarações contundentes de Octávio Machado pelo crivo da querida credibilidade e chegaram a dois tipos de conclusão: a primeira, aos olhos dos sportinguistas afetos ao regime, é que o ex-dirigente em causa não tem credibilidade nenhuma, e a segunda, aos olhos da oposição interna e dos rivais externos é que o mesmo ex-dirigente tem toda a credibilidade do mundo. Curiosamente, antes da demissão de Octávio ser uma hipótese a considerar nos terreiros, as opiniões destes grupos em confronto eram em tudo contrárias. E os que acreditavam no "palmelão" que reunia em si o suprassumo das qualidades de que um homem necessita para ser levado a sério são agora os que menosprezam e fazem por ignorar olimpicamente as opiniões do "palmelinho" a quem acusam do ressabiamento dos não-credíveis. E vice-versa. "Olhó passarinho!", gritavam os antigos fotógrafos de feira. "Olhó passarinho!", diz agora o novo Octávio que, em boa verdade, é o mesmo Octávio de sempre.
Leonor Pinhão, in Correio da Manhã
Sempre muito caústica,mas muito lúcida.Obrigado.
ResponderEliminarA credibilidade não foi posta em causa por ter trabalhado numa casa noctívaga, mas sim por ser apanhada em incongruências nas declarações, em mentiras e trapalhadas fruto de uma má preparação para mentir, que a redactora deste texto não lhe deu. Desonestidade intelectual é o termo, e a maralha compra.
ResponderEliminarP.S. O que é feito da "amizade" ocasional entre a trabalhadora noctígava e a redactora?
"tell me pretty lies"
https://www.youtube.com/watch?v=LmWBphAf72g