Duas verdades insofismáveis: no futebol, o poder vem do campo e o momento é tudo. O Benfica era uma equipa deprimida, sem fio de jogo e, era-nos dito, o campeonato estava entregue. Apesar de estarmos todos cansados de saber que as contas só se fazem em maio. Entretanto, também se percebia que, apesar de tudo, o Benfica estava a melhorar ligeiramente e os sinais de que Porto e Sporting já tinham atingido o seu pico exibicional também estavam presentes – ou porque têm um banco menos profundo ou porque têm sido assolados pelas vagas de lesões que vinham afetando o Benfica.
Chegados aqui, o cenário é tal que, na semana de um clássico importante, contra muitos prognósticos, os três grandes podem ficar muito próximos pontualmente, o que deixará o campeonato em aberto.
Haverá algo de estrutural na melhoria de futebol do Benfica ou foi, apenas, uma combinação de felizes acasos a explicar uma exibição conseguida frente ao Vitória e meia-dúzia de golos? Será que, de repente, tudo mudou? O jogo no Dragão funcionará como um tira-teimas.
Mas, de alguma forma, podemos vislumbrar os primeiros resultados dos ajustamentos que Rui Vitória tem feito na equipa. Jonas a 9 com um meio-campo a três deixou de ser um plano b, para utilizar apenas em algumas partidas, para passar a ser o plano a. Com consequências. É verdade que Jonas mais avançado afasta o brasileiro do processo de criação. Contudo, aproxima-o da baliza e permite-lhe continuar com uma média notável de remates enquadrados por jogo, 2,7 (neste momento lidera o ranking europeu, ex-aequo com Messi – dados do goalpoint), e a marcar há dez jornadas sucessivas. Se Jonas surge mais avançado, este novo posicionamento torna possível ao Benfica compatibilizar o brasileiro com um meio-campo a três (cujos mecanismos continuam a precisar de ser muito trabalhados) e, acima de tudo, acrescenta mais jogadores na organização ofensiva.
O Benfica é, agora, menos Pizzidependente, o que, aliás, torna mais fácil a recuperação de forma do bragantino (já há indícios fortes disso mesmo); enquanto Krovinovic se tem revelado notável a unir a equipa, pela forma como recebe, desmarca e, até, recupera a bola. Socorro-me, de novo, do GoalPoint para confirmar a intuição de quem vê o Benfica a jogar com o croata em campo: contra o Vitória, Krovinovic falhou apenas uma das suas 55 tentativas de passe.
Se há paralelismo que podemos fazer entre esta temporada e as duas anteriores é que a Krovinovic pode estar reservado o papel que há dois anos foi de Renato e o ano passado de Gonçalo Guedes. Jogadores que, quando entraram, deram um abanão no jogar do Benfica e que foram decisivos na inversão de tendência, levando o Glorioso a vencer dois campeonatos em que poucos acreditavam.
Pedro Adão e Silva, in Record
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