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quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

JOGA O MANEL?


Há uns anos, perante o cenário de saída de Matic para o Chelsea, Jorge Jesus, numa daquelas formulações exatas em que é vezeiro, garantia estar pouco preocupado com a substituição do sérvio. Se saísse Matic, não havia problema, "jogava o Manel".
A ideia era clara: em certos momentos, quando um jogador essencial deixa de estar disponível, pouca diferença faz quem o substitui – ao ponto de poder, mesmo, jogar o Manel. Para que tal seja possível, é necessário que a equipa tenha uma ideia de jogo, organização coletiva e uma identidade consistente. Só assim mudam os jogadores e, em campo, a diferença quase não se nota.

No lançamento da partida de ontem contra o Belenenses, Rui Vitória revelou a mesma despreocupação, agora com a substituição de outro jogador que se vinha revelando essencial e que está, justamente, associado à melhoria exibicional do Benfica. Não havia Krovinovic, mas o treinador tinha em mente quatro alternativas ao croata: duas mais evidentes (João Carvalho e Zivkovic) e outras menos (Keaton Parks e Gedson). Se tal se tornou possível não se deve, apenas, à qualidade individual dos jogadores. O momento e a dinâmica coletiva explicam, em importante medida, que perante uma dificuldade logo surgissem tantas opções.
Em campo, contudo, aparentemente sentiu-se a falta de Krovinovic. No rescaldo da partida, confrontado com a dificuldade de João Carvalho em substituir o croata, Rui Vitória sublinhava, com razão, que "não valia a pena estar a individualizar qualquer exibição". O ponto é mesmo esse. Não saberemos nunca se, com Krovinovic, o jogo do Restelo teria tido um sentido diferente. O problema foi mesmo coletivo.
Muito por culpa do Belenenses, que teve, em particular durante a primeira parte, uma ocupação de espaços muito inteligente, condicionando muitíssimo o jogo do Benfica, a dinâmica que se vinha vendo nas últimas partidas do Glorioso esteve ausente. Com naturalidade, neste contexto, um jogador pouca diferença pode fazer.
Sintomaticamente, todos os jogadores se apresentaram abaixo do que tem acontecido nas últimas partidas, demonstrando que nem sempre é possível ao Manel afirmar-se. Na segunda parte, a equipa melhorou, revelou maior agressividade e conseguiu explorar, como não havia feito até então, o espaço que surgia nas alas (afinal, os ‘extremos’ do Belenenses jogaram muito por dentro) e o Benfica criou oportunidades e podia ter morto o jogo.
Só que, depois, aconteceu futebol. O Belenenses que tinha estado por cima e que, entretanto, tinha desaparecido do jogo, aproveitou um erro de cobertura defensiva clamoroso, numa reposição de bola favorável ao Benfica!, para se adiantar.
No fim, Jonas redimiu-se. Provando que, apesar de tudo, faz diferença ter em campo jogadores que, pela sua qualidade individual, não são um qualquer Manel.
Pedro Adão e Silva, in Record

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