Numa altura em que a esmagadora maioria dos campeonatos caminha para as grandes decisões, outras foram já tornadas a pensar no futuro do futebol profissional. Em breve, a videotecnologia deixará de ser um projecto meramente laboratorial para tornar-se numa realidade inequívoca do desporto-rei. O Mundial da Rússia do próximo verão será o primeiro palco a sério do ensaio agora tornado realidade.
Depois de dois anos de testes exaustivos, que ocorreram nos quatro cantos do mundo, as conclusões a que chegou o IFAB (International Board) foram avassaladoras: os erros graves diminuíram drasticamente, as intervenções foram mais rápidas do que se temia e o protocolo actual é mais do que suficiente. Por enquanto. Discuta-se ou não a justiça pontual da afirmação - sempre mais política que genuína -, não deixa de ser claro para qualquer pessoa razoável que o VAR, se bem oleado e trabalhado, é um ferramenta de excelência, capaz de apoiar os árbitros e de trazer mais verdade ao jogo. Fiquem com algumas das conclusões da Universidade de Leuven, na Bélgica, responsável por supervisionar ao detalhe e com rigor, todo o projecto (nos seus testes on-line, em pura competição):
1. Ao todo, o VAR foi testado em mais de vinte competições e/ou federações nacionais;
2. Nesse universo, foram escrutinados 972 jogos de futebol;
3. Quase 60% dos lances apreciados foram relativos a pontapés de penálti ou golos (ou seja, dois dos quatro previstos no protocolo);
4. Média inferior a cinco lances verificados por partida (atenção: verificados não significa corrigidos);
5. Tempo médio de cada revisão: cerca de vinte segundos;
6. Eficácia inicial da decisão do árbitro (em campo), confirmada depois pela revisão: 93%;
7. Quase 70% dos 972 jogos sob avaliação não tiveram qualquer decisão revista/alterada;
8. Verificou-se a existência de apenas um erro grosseiro, claro e evidente em cada três jogos escrutinados;
9. Eficácia de decisões acertadas, em cada partida (com recurso ao videoárbitro) foi de... 98.8%;
10. Em 9% dos jogos o VAR teve impacto directo no restabelecimento da verdade desportiva. Ou seja, cerca de 90 partidas viram reposta justiça em situações que passaram despercebidas ou foram mal avaliadas a olho nu;
11. As decisões revistas em campo (pelo árbitro, junto aos écrans) fazem com que o jogo esteja interrompido o dobro do tempo (face às revistas apenas pelo VAR). A tomada de decisão em consultar as imagens e a posterior deslocação ao local são responsáveis por essa perda adicional de tempo;
12. O tempo real (seguido) perdido através do recurso ao VAR é de cerca de 55 segundos. Muito inferior ao que se perde, em média, com substituições, exame de lesões, transporte de lesionados para fora do terreno de jogo, perdas de tempo nas reposições, etc.
Estes são factos. Não são opiniões. São factos concretos. Estamos de acordo que este é apenas o início de uma longa caminhada. Estamos de acordo que o maior obstáculo ao bom uso da tecnologia será sempre a capacidade do homem (árbitro/var) a utilizar adequadamente. Mas os números são animadores e permitem continuar um trabalho firme e sério no sentido de seleccionar e preparar os melhores para a função. é desafiante mas o futebol merece... e os árbitros também."
Duarte Gomes, in A Bola
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