Tema anunciado, divulgado, um debate a vários níveis.
Porém é exclusivamente de futebol que se trata.
De situações de corrupção, de viciação de resultados, de suspeição generalizada e de uma onda de caos previsivelmente oportuna – os campeonatos aproximam-se do fim e em causa estão: quem vence e quem desce de divisão.
Essa é uma das motivações que nunca se podem esquecer.
Com regulamentos adequados, com exigências e responsabilidades bem definidas, o exercício sistemático de “pensar futebol” de forma global, integrada e sem impedir o contraditório, certamente será sempre uma boa opção. Pelo menos, transparente e imparcial.
Por estes dias, assistimos a reuniões de capitães de equipa, acompanhados por elementos do seu sindicato, com a LIGA, FPF e Secretário de Estado do Desporto (sugestões de campanhas educativas e alteração de regulamentos – muito pouco, atendendo que não se trata de surpresa mas de hábitos que se prolongam), bem como à conferência na sala do Senado da Assembleia da República, com a presença de várias personalidades do futebol e não só.
Essa conferência foi organizada pelas Comissões de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias e de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto.
Vários oradores, diversos contributos, uns que permitiram o conhecimento da situação, outros sem consistência e contribuindo para a confusão reinante.
Por exemplo, o superintendente da PSP de Lisboa, na sua intervenção, forneceu factos, números e identificou origens dos diversos incidentes: fundamental base de trabalho.
Dirigentes desportivos responsabilizam os organismos que tutelam o futebol português; estes, por sua vez, defendem o aumento das multas e penas mais pesadas para quem criticar a arbitragem colocando em causa a seriedade dos árbitros.
Chegou-se ao extremo de ouvir o líder federativo a defender a criação de uma autoridade autónoma administrativa específica, com atribuições de responsabilidade pela segurança e combate à violência no desporto.
Seguiram-se vários apelos para uma mudança de comportamentos e acusações à comunicação social numa tentativa de desculpabilização de falhas próprias.
Não merece a pena recordar atitudes concertadas de agentes desportivos, nem a introdução de projetos inovadores mas sem uma adequada fase experimental, e que se tornou um dos maiores focos de tensão contínua.
Sempre aprendemos que há sequências que devem ser analisadas, com ponderação e cuidado.
O que temos e como chegamos a isto?
Casos em justiça por decidir, sobre corrupção e a torpe invenção planeada de calúnias anónimas, vão surgindo sem que se consiga controlar, limitar e penalizar.
Sempre ouvimos dizer que, em situações deste tipo, é passo importante descobrir:
- quem lucra?
- qual o objetivo principal?
As calúnias anónimas podem ter 2 objetivos principais:
- desestabilizar/enervar adversários na luta pelo título.
- motivar os adversários dos rivais diretos para darem sempre máximos e se livrarem de suspeições (atuando como doping psicológico) e evitarem a tenebrosa mancha da calúnia – está em causa o jogador mas também a dignidade pessoal depois de acabar a carreira e ainda a tranquilidade da família.
A comunicação social, ao contrário de quem prefere um controlo total, faz o seu papel e não esconde as realidades. A liberdade de escolha é um direito de cada cidadão.
A justiça, se morosa e sem critério preciso nos casos ainda em análise, potencia um crescimento imparável das suspeições.
Acreditamos que hoje, com os avanços tecnológicos constantes, alguém só fica anónimo se não houver investigação profunda: anónimos descobrem-se com trabalho eficaz e competente.
O problema é que por estas bandas, tudo parece rolar a ritmos diferenciados e sem uniformidade.
Tudo dá a impressão de estar ligado a vitórias, a enriquecimentos, a pagamentos e favores.
Pobre futebol, que mesmo a criar maiores receitas se tornou uma fonte de lucro, onde alguns pensam e agem como se valesse tudo.
No ano passado, para além do treinador Luís Castro e de alguns de nós, não detetamos uma onda de vontade em enfrentar acusações infundadas, injustas, miseráveis. Apenas silêncios…
Vimos muita passividade, inclusive das instituições que tutelam o nosso futebol.
O Presidente da FPF, no passado, foi ao Parlamento e falou com várias entidades sobre o “clima de ódio” sem apresentar plano estruturado de ação, a não ser a sugestão de aumentar multas, traduzindo-se em medidas avulsas e sem contexto.
Temos dúvidas de que falando sem apresentar soluções rigorosas, o resultado seja o contrário do pretendido.
Porquê só agora? Que gestão de tempo é esta?
Os jogadores e o seu sindicato não poderiam já ter levantado a hipótese de greve?
Certamente que não faltam interesses económicos que, se pudessem, controlavam tudo inclusive a liberdade dos profissionais.
Os árbitros ameaçaram greve aos jogos da LIGA o que deu uma triste imagem de braço de ferro com apoio da FPF… pelo menos, ficou essa impressão pelas comunicações feitas, que foram imprecisas e pouco refletidas, unicamente conjunturais.
Permaneceu uma imagem de conflito de interesses entre LIGA e FPF, o que não favoreceu o clima de paz.
Na sessão do passado dia 3 de Abril, no Parlamento, o Presidente da FPF voltou a fazer o mesmo que tinha feito na anterior deslocação à Assembleia da República (onde, desta vez, ecoaram laivos de apoio a governamentalização do desporto – o que nunca pensamos não ser vantajoso nem permitido pelas instâncias internacionais do futebol); voltamos a ouvir afirmações gerais, redondas, ocas, repetindo com a solenidade formal, o que todos os cidadãos repetem na rua com a simplicidade natural.
Novidade, muito pouco, quase nada.
Os conhecedores desta situação não se interrogam:
- como foi possível chegar aqui?
- como estão a decorrer os processo de corrupção?
- o que fazer com caráter de urgência?
Para que serve esta poeira que cega e desvia olhares e atenção do essencial?
Há países onde, no passado, grandes clubes de dimensões internacionais foram despromovidos para a segunda divisão e aí recomeçaram a competição: alguns com pontos negativos e com responsáveis na prisão.
Será assim tão difícil identificar as origens das calúnias, quem está verdadeiramente por trás de tudo?
Fingir que tudo vai bem, que tudo vai ser feito, é garantia de que nada muda.
Cada vez será sempre mais grave.
Tragédias não se anunciam, previnem-se.
Por que tarda em aparecer uma agenda desportiva competente, para salvaguardar a ética e o espírito desportivo?
De que está o Governo à espera?
Sem isso, a “barbárie” reforça a saga destrutiva, mesmo que muito lucrativa financeiramente para alguém.
Para já, importa unir esforços e resolver com eficácia e frontalidade estes problemas, evitando que esta incrível “futebolização-negócio ilimitado” prolongue a contaminação do amplo universo do desporto bem como da política.
Aníbal Styliano, in a Bola
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