"Dificilmente Rui Vitória reconquistará adeptos só pelos resultados. E mais dificilmente ainda os reconquistará pelo discurso
Nem mesmo um mau resultado, esta sexta-feira, na Vila das Aves, num jogo que é para a Taça da Liga, e que conta, portanto, para a parente ainda pobredas competições nacionais, tira razões aos benfiquistas para, apesar de tudo, fecharam 2018 com um sorriso bem menos amarelo do que na verdade se estava à espera. A goleada sobre o Braga foi realmente uma espécie de Pai Natal benfiquista que madrugou pela chaminé da Luz na tarde de 23 de Dezembro e levou particularmente a Rui Vitória uma consoada bem mais tranquila do que o próprio Rui Vitória estaria, provavelmente, a pensar ter, sobretudo tendo em conta o novelesco folhetim em que se viu e de algum modo quis ver-se envolvido quando, depois de levar cinco do Bayern, esteve quase, quase despedido e foi, por fim, apenas agarrado pelo presidente, num momento que facilmente ganharia no futebol o prémio confusão do ano.
O que sucedeu com o Braga foi uma goleada verdadeiramente inacreditável para quem se habituou a ver nos últimos meses o Benfica a ir delapidando o seu talento como equipa e a perder capacidade de competir a um grande nível.
O Benfica - Braga foi mesmo um jogo estranho na medida que andava mal e tudo mal a um Braga que andava bem. Fez o Benfica quase tudo ao contrário do que vinha fazendo e fez na realidade o Brava bem menos do que nos tinha mostrado na maioria das jornadas anteriores.
Já se sabe que há quase sempre dois pontos de vista em jogos com resultados desta natureza. Há os que defendem que o verdadeiro mérito foi do Benfica, porventura a maioria, mas nunca faltam os que resolvem reduzir o derrotado à menor das expressões e atribuir-lhe a total responsabilidade do resultado.
Nem oito nem oitenta. O Benfica jogou surpreendentemente bem, sim, mas apenas bem; e o Braga acabou esmagado pela tremenda eficácia dos encarnados - sempre que tentou reagir não foi capaz de equilibrar.
É bom lembrar, aliás, que podia o Braga ter feito o 1-1 por mais de uma vez; que sofreu o 0-2 quando estava mais próximo do nível do Benfica e o 3-0 logo no arranque da segunda parte, reduzindo três minutos depois para tentar reentrar no jogo e sofrendo novo golo (4-1) apenas mais três minutos decorridos. O golpe final.
Depois, em quatro minutos, o Benfica faz 5-1 e 6-1 e o Braga rende-se à inesperada evidência de ver o Benfica ser premiado com a lotaria de Natal.
Do lado dos encarnados, deu para tudo, até deu para Grimaldo fazer um golo com o pé direito e André Almeida um com o pé esquerdo, naquele que foi uma espécie de golo da noite que ninguém, no estádio, queria acreditar que fosse acontecer mesmo quando André Almeida lançou intencionalmente o pé esquerdo àquela bola que vinha, pelo ar, para a entrada da área, aliviada por um defesa do Braga, como se ninguém acreditasse que André Almeida fosse capaz, dali, de fazer um golo com o pé direito quanto mais com o esquerdo.
A verdade é que, quando se deu por ela, a bola estava dentro da baliza do Braga, após entrar rigorosamente no canto em que a trave se une com o poste. Miraculoso.
O quê? Grimaldo marcou com o direito e André Almeida com o esquerdo? E o Benfica fez pressão alta? E reagiu rápido à perda de bola? E envolveu quase sistematicamente três, quatro, cinco jogadores no ataque à baliza do Braga?
Mas o que é que deu, afinal a este Benfica para, subitamente, fazer quase tudo ao contrário do que andava a fazer?
O que se passará, afinal, para o Benfica não conseguir jogar mais vezes como jogou com o Braga? Porque não consegue ser mais constante? Falta-lhe confiança? Falta-lhe preparação? Falta-lhe mais trabalho?
Ou é só do treinador e da mão que tem, ou não tem, para organizar o jogo da equipa, construí-la e ir tomando as respectivas opções?
Pelo menos Jardel, agora o capitão, e André Almeida - que acredito que seja figura importante no balneário - quiseram mostrar afinidade com o treinador e de algum modo protegê-lo um pouco, aos olhos de quase 60 mil pessoas na Luz, de toda a pressão sofrida por Rui Vitória sobretudo nos últimos dois/três meses.
Se não quisessem mostrar que estão com o treinador não teriam Jardel e André Almeida (ainda por cima dois dos mais antigos no balneário) ido a correr para os braços de Vitória quando fizeram os seus golos.
Mas será isso, mais a defesa de Vitória feita também por jovens jogadores da casa como Rúben Dias ou Gedson, suficiente para mudar o tom das criticas que se têm abatido sobre o treinador do Benfica? Não creio. É preciso que a equipa jogue, é preciso que mostre muito mais o futebol que mostrou com o Braga, é preciso que dê muito mais do que tem dado a ideia de ser uma equipa trabalhada, coesa e consistente.
Caso contrário, saberá Rui Vitória o que o espera. Porque a ganhar mal e a perder como chegou a perder, Rui Vitória já dificilmente reconquistará adeptos só pelos resultados. E muito menos pelo discurso.
Veremos o que lhe trará 2019!"
João Bonzinho, in A Bola
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