"Vieira e Vitória terão, há um mês, acreditando em algo que todos sabiam impossível. E só adiaram um divórcio que se percebia ser inevitável
Rui Vitória não resistiu à primeira derrota depois de voto de confiança que Vieira lhe dera há pouco mais de um mês. De nada lhe valeram as sete vitórias que se seguiram - a que juntou o empate na Vila das Aves que garantiu presença na final four da Taça da Liga. Ao primeiro desaire o treinador caiu mesmo. O que mostra, por si só, quão frouxa era a luz vista pelo presidente naquele noite de insónia no Seixal. Sejamos claros: a saída de Rui Vitória era inevitável. O que Vieira fez há um mês foi apenas adiá-la, embora ninguém tenha ainda percebido bem porquê. Era - depois daquele desastre em Munique e da crise que o antecedeu - evidente que nem Vitória tinha condições para continuar a ser o treinador do Benfica nem o presidente tinha condições para segurá-lo, por muito que quisesse. Foi pena que nem um nem outro tenham percebido que chegara, ali, a hora de se despedirem. Acima de tudo porque, por tudo o que ganhou em três anos e meio na Luz, Vitória merecia uma saída bem mais graciosa. Culpados? Os dois, que terão acreditado em algo que todos os outros percebiam ser impossível. Ou a prova de que o futebol não se coaduna com romantismos.
Por falar em romance. Haverá, porventura, apenas uma falha que Vitória pode apontar a Vieira nesta relação de três anos e meio: a forma como nunca o conseguiu proteger da sombra de Jorge Jesus, fragilizando mais ainda (junto dos adeptos e, até, no balneário) a posição do treinador que lhe dera o tetra. Que fique, pelo menos, a lição para o futuro: seja quem for o treinador que escolha para o futuro, imediato ou mais longínquo (a não ser que seja José Mourinho...), tem Vieira de enterrar de vez esta história. Costuma o povo dizer que não há amor como o primeiro. Talvez seja verdade. Mas quando se está noutro casamento, é contraproducente andar sempre a falar de quão bom eram esses tempos ou, pior ainda, ser incapaz de descartar um possível regresso a outros braços. Pode até pensar-se. Dizê-lo à boca cheia é mais chato. Mais vale negar, mesmo que seja mentira. Que, ao contrário do romantismo, é coisa com que o futebol nem se dá mal.
(...)"
Ricardo Quaresma, in A Bola
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