"Na passada edição abordei o tema de comparação entre a robustez do Glorioso e as medidas em que os nossos rivais têm de se conformar. E nem de propósito. A sete finais de maior decisão de todas; numa época em que, além dos obstáculos naturalmente criados pelos adversários em campo, nos têm sido propositadamente levantadas pelas sedes organizadoras das competições as mais iníquas dificuldades, estamos a viver o crucial momento da época, e nesta quarta-feita defrontávamos o clube do Campo Grande num jogo, afinal, não menos decisivo do que os restantes.
O jogo não correu como esperávamos. E o que agora nos interessa, com a mesma confiança (embora com outra atitude...), são os torneios em que estamos a competir: o campeonato e a Liga Europa.
A dimensão do Benfica, em todo o caso - tal como a ideia-forte em que os nossos Fundadores se basearam logo em 1904 - vai hoje muito para além dos jogos que se ganham e que também se podem perder ou empatar, quando jogamos mal. Essa mentalidade confiante germinou desde cedo e viria a ser, como está à vista, dominantemente assumida e abraçada em todo o país. Mais de um século depois, está disseminada e sedimentada em todo o mundo: jogamos, porque somos amigos e solidários; e ganhamos sempre, porque jogamos. Mesmo quando perdemos.
A solidariedade foi, e mantém-se, princípio fundacional do Sport Lisboa e Benfica. E para lá das vitórias que se somaram a todas as vitórias, empates e derrotas, diria eu que, para já, a maior conquista do momento que agora estamos a viver, ou pelo menos a vitória mais fortemente simbólica, foi a demonstração que os Benfiquistas acabaram de dar fora do campo, a si próprios e a todos os seus concorrentes, acerca do real significado que a solidariedade tem para todos nós e da real grandeza do nosso Benfica: ao mesmo tempo que aqui, na Luz, em Lisboa, no coração do Benfica, vivemos a ansiedade de tempos ainda mais felizes, lá longe, depois dos mares, no centro de Moçambique, os nossos irmãos viam as suas vidas atraiçoadas pela impressionante catástrofe natural.
Nesta circunstância, os Benfiquistas corresponderam de imediato a uma imperiosa convocação de consciência. E perante o apelo do Sport Lisboa e Benfica acorreram às Casas do Benfica, ao Estádio e às escolinhas de futebol ou a estabelecimentos de ensino, e ainda e empresas de proprietários benfiquistas, a outras organizações e até a outros clubes que se associaram à iniciativa da Fundação Benfica para trazerem o seu contributo de ajuda, de modo a minorar as aflições e a profunda tristeza dos moçambicanos.
O resultado desta chamada à solidariedade superou largamente o que poderia supor-se. Nenhuma outra entidade desportiva (associativa, federativa ou arbitral....) em Portugal alguma vez poderá alcançar uma vitória destas e, por isso, esta grandeza do Benfica. Que não se contém em escassas quatro linhas."
José Nuno Martins, in O Benfica
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