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sexta-feira, 24 de maio de 2019
QUATRO MEMÓRIAS DE UM CAMPEONATO
Este não foi um campeonato qualquer: há uma satisfação redobrada quando se vence o que demos por perdido. Para memória futura, quatro momentos marcantes da reconquista. A iluminação: depois de um agosto positivo, os fantasmas da temporada anterior regressaram. Bastaram umas semanas para termos de voltar a uma ideia de jogo em acelerado processo de empobrecimento, à qual se juntou uma política de contratações com muitos erros. Depois, não foi preciso muito para chegar o momento em que o futebol jogado expôs as suas debilidades coletivas. Em outubro, também por força da ressaca física das pré - eliminatórias da Champions, a equipa parecia ter entregue a época. Entretanto, os equívocos persistiam, com Luís Filipe Vieira, primeiro, a proletar o óbvio (a saída do treinador) e, logo de seguida, a ameaçar com o espectro do regresso inusitado de Jesus, para tudo culminar numa iluminação que transformou o treinador de principal a interino,. Com atraso, em janeiro, o Benfica entregou a Bruno Lage uma tarefa hérculea: ganhar um campeonato improvável. A bola do Rafa: a receita do 37 assentou em alterações no sistema de jogo, na colocação dos jogadores certos nas posições certas e numa combinação surpreendente de jovens da formação com jogadores proscritos. O futebol dominante quando a equipa tinha bola (103 golos!) ajuda a explicar a sequência impressionante de vitórias. mesmo a perder, o Benfica passou a ser capaz de ir buscar os resultados. Poucas reviravoltas foram tão importantes como a do Dragão. Na altura, foi muito glosado o modo exuberante como João Félix celebrou o golo do empate, enfrentando de braços cruzados, os adeptos adversários. Mas recuperem a imagem e notem na forma como Rafa, de bola debaixo do braço, vem resgatar Félix, reconduzindo a equipa para o seu meio-campo. No Benfica do passado, alcançado empate, a equipa recuaria linhas, procuraria controlar o jogo e começaria a expor as suas fragilidades sem bola para, num ápice, estar a sofrer. Não foi o que aconteceu. Foi naquela bola do Rafa que se começou a desenhar a reconquista. A serenidade de Lage: impressiona a cadência pausada como fala e o modo como centra o essencial das suas intervenções no jogo. Este título é mesmo da sua autoria. Na hora da vitória, pediu exigência aos portugueses para além do futebol e disse que é necessário reconhecer o mérito de quem vence. Terá de estar à altura quando um dia perder. Fomos campeões: já lá vão trés dias de felicidade imensa. É altura, portanto, de deixarmos de afirmar, somos campeões. Na verdade, fomos campeões. Agora é preparar o 38.
Pedro Adão e Silva
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