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sábado, 31 de agosto de 2019

ERA DE VIDA QUE SE TRATAVA


"Benfica tirou o rival do seu estado comatoso. Esperemos que não se verifique a velha máxima «quem seus inimigos poupa às suas mãos morre»

O FC Porto venceu com justiça o clássico. Foi a melhor equipa e está de parabéns Sérgio Conceição. Como reflectia no passado domingo a capa de um jornal desportivo, com uma linha editorial afecta ao FC Porto: «Vivos». Era de vida que se tratava para o nosso adversário. Foi um Benfica irreconhecível que tirou o rival do estado comatoso em que se encontrava. Esperemos que não se verifique a velha máxima «quem os seus inimigos poupa às suas mãos morre».
É injusto procurar culpas individuais com tanto desacerto colectivo. É mais útil reconhecer as limitações, os erros e redobrar na ambição para voltar a ganhar. Centrar no Benfica, no que podemos e devemos fazer para continuar a vencer os adversários. No fim só interessam os títulos e este ano ainda só ganhamos tudo.
Este fim de semana, em Braga, vamos ter um jogo dos mais difíceis da Liga, uma oportunidade de mostrar que o último fim-de-semana foi a excepção.
Há uma vantagem que aprecio em Bruno Lage, mesmo quando erra e perde, vê os mesmos jogos que nós, assume e explica. Não são precisas justificações, são precisas correcções e Bruno Lage é o primeiro assumi-lo. É muito boa a razão porque a derrota na era Lage custa mais aos benfiquistas, é por ser muito rara. Mas se há uma análise correcta do jogo e da justiça da vitória portista há um gigantesco erro de paralaxe na análise do momento dos dois clubes. O excelente FC Porto está fora da Liga dos Campeões e em igualdade com o Benfica em pontos e golos. O limitado Benfica está na Liga dos Campeões com vitórias no prestigiado ICC de pré-época, com uma Supertaça conquistada e em igualdade pontual com o rival.
Ou se admite uma diferença muito grande de dimensão dos dois clubes ou há um erro de paralaxe monumental na análise efectuada esta semana. Reconheço, que pode até haver, um bocadinho de cada.
O resultado de um sorteio da Liga dos Campeões nunca pode ser fácil, estão as melhores 32 equipas da Europa. Mas ter o adversário mais difícil do pote 3 e o mais difícil do pote 4 é um sorteio madrasto. Vamos ter um grupo aberto, ironia talvez seja o clube oriundo do pote 1 ser aparentemente o menos forte dos adversários. O Benfica terá que jogar e lutar por vencer os seis jogos porque mau mesmo era não estar neste sorteio onde o Benfica esteve pelo décimo ano consecutivo, facto apenas reservado aos clubes muito grandes."

Sílvio Cervan, in A Bola

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"Esta semana foi um ver se te avias com os corifeus do desatino vergados à tontice que nem sequer sabe o que é o Benfica, nem (ainda menos!) terá a menor ideia do que seja a História do Sport Lisboa e Benfica.
Por muito que alguns se queiram fazer passar por essa condição sublime em ocasiões como esta, não foi certamente de benfiquistas autênticos que ouvimos e lemos toda a caterva de disparates que nos foi dado observar com profundo nojo e desprezo, na maior parte das catastróficas pseudo-análises que atulharam as televisões, as páginas de jornais e bastantes minutos de rádio: ainda que a surpresa ou a tristeza diante de uma adversidade inesperada os faça soçobrar temporariamente, os verdadeiros benfiquistas não se deixam abater. E são eles - como foram, de novo - os primeiros e reerguer-se, sempre com veemente indignação, perante os hipócritas que, então, costumam pregar a miséria da desunião, da dúvida e da incerteza.
A nossa equipa não jogou sozinho. E não jogou bem. Foi concludentemente derrotada perante um adversário que, desta vez, lhe foi superior. O que mais nos custou foi que tenha sido surpreendida diante de nós.
Em todo o caso, perante uma situação tão profundamente desagradável como inesperada, não nos resta senão começar de imediato a tirar partido da circunstância de termos sido confrontados com o peso dos nossos erros, equívocos e insuficiências, quando se jogava apenas a terceira jornada do campeonato. Isto é, que certamente não os voltaremos a repetir. Tanto mais que, para a definitiva questão dos pontos, a verdade objectiva é termos agora pela frente um total de noventa e três pontos para disputar com aquele rival e com todos os restantes...
Noventa e três pontos não serão coisa pouca, quando, de um momento para o outro, as nossas expectativas aumentaram fortemente e os nossos encargos se terão melhor definido na adversidade temporã. Mas noventa e três passou a ser outro número mágico para os verdadeiros benfiquistas, que jamais descrêem do Benfica.
Os benfiquistas de raiz, os benfiquistas genuínos jamais vacilarão no esforço que há de empurrar a nossa equipa de elite para a consagração da grande vitória final. Essa determinação de unidade em torno dos nossos atletas e técnicos, em todos os campos e em todas as modalidades, não se nos desvanceceu. E mais do que nunca, não lhes faltará a eles, em circunstâncias alguma.
Com os outros (ainda mais claramente isolados e que, agora, cada um de nós passou a conhecer até bem demais...) já nós não contávamos. Porque não prestam. Só servem para reforçar as ilusões dos nossos inimigos e dos nossos adversários e rivais."

José Nuno Martins, in O Benfica

PRIMEIRAS PÁGINAS


JOGO LIMPO - BTV - 30 AGOSTO 2019

                                           

1 SEMANA DO MELHOR - BTV - 30 AGOSTO 2019

                                           

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

AQUECIMENTO - BTV - 29 AGOSTO 2019

                                           

AS LANÇAS APONTADAS - BTV - 28 AGOSTO 2019

                                           

CONTAS FEITAS, DÚVIDAS DESFEITAS - BTV - 28 AGOSTO 2019

                                           

105 x 68 - BTV - 27 AGOSTO 2019

                                           

A CHAMA IMENSA - BTV - 26 AGOSTO 2019

                                           

SEGUNDA BOLA - BTV - 26 AGOSTO 2019

                                           

domingo, 25 de agosto de 2019

PRIMEIRAS PÁGINAS


UM AZAR DO KRALJ


O Benfica foi comido de cebolada, carpaccio, como melão fatiado enfiado goela abaixo. Talvez seja bom chamar o Nhaga (Um Azar do Kralj)
Vasco Mendonça era, até agora, um desconhecido fã de alta culinária. O jogo com o FC Porto de sábado alterou tudo. Esta é a análise amargurada de um benfiquista.
VLACHODIMOS
Fala-se muito do jogo de pés de Vlachodimos, mas fica difícil criticar quando o guarda-redes é um dos jogadores que acerta mais passes. Fora isso, evitou uma goleada.

NUNO TAVARES
Acho que se visse o André Almeida neste momento dava-lhe um abraço e começava a chorar convulsivamente.
RÚBEN DIAS
Ao contrário de Pizzi, apareceu bem na manobra da equipa, mas confundiu-se e assistiu o adversário para o segundo golo. Erros à parte, pareceu dos mais incomodados.
FERRO
A maior parte das pessoas desconhece este facto, mas existem seis variedades de melão. Por exemplo, os benfiquistas são especialistas numa variedade cultivada por sucessivas equipas do FCP ao longo dos últimos anos. Comemo-lo como calha: às fatias, às vezes cortadas em pequenos cubos, outras vezes são-nos enfiadas inteiras pela goela abaixo. Chega a dar a sensação de que apreciamos o fruto, tal é a frequência com que o degustamos.
GRIMALDO
Chegou-se à frente como sério candidato ao lugar de suplente, que até aqui parecia reservado para Nuno Tavares. Agora só falta saber quem será o titular.
FLORENTINO
Acompanhou bem com cebolada.
SAMARIS
Infelizmente foi servido em carpaccio aos centrocampistas e atacantes do FC Porto, que saborearam e pediram para repetir, mesmo sabendo que era só a entrada. Depois admiram-se que o Marega engorde.
PIZZI
Se alguém o vir por favor entre em contacto com os muitos familiares e amigos que desconhecem o seu paradeiro.
RAFA
Caçaram-no e bem. Há que admiti-lo. Foi ver o Pepe já no balneário a tirar fotos com a carcaça do Rafa, qual caçador de espécies supostamente protegidas.
RDT
Eu começaria por alterar o nome da camisola para um simples Raul. O resto logo se vê. Talvez seja necessário voltar a chamar o Nhaga.
SEFEROVIC
Já este nem com um bruxo vai ao sítio.
TAARABT
Até o Taarabt compreenderá que alguma coisa está mal quando ele é o único jogador esclarecido na sua equipa. Esqueçam as bebedeiras. Aqueles pés estão mais do que reabilitados para a sociedade. Neste momento justifica a titularidade.
CHIQUINHO
Entrou para ocupar o espaço entre linhas e dotar a equipa de novas formas de ser comida pelo adversário. Bem, pelo menos foi isso que eu vi. Não obstante, merece mais minutos.
Vinicius
Entrou numa fase da partida em que muitos adeptos já tinham percorrido várias estações da linha azul rumo à depressão que os aguardava no lar, pelo que mais não se podia pedir.
Um Azar do Kralj, in Tribuna Expresso

PORTO VENCE CLÁSSICO NA LUZ


Supondo e ficando-nos, por momentos, no mundo das coisas hipotéticas, ver um treinador a optar por colocar a lateral direito um jogador que, no bilhete de identidade, tem extremo escrito à frente da profissão e, em campo, se comporta como as fintas e o drible fossem um vício irremediável a correr-lhe nas veias e injetar um pouco de parcimónia um veneno, faria-nos pensar em risco. Em que ele se estaria a pôr a jeito para algo correr mal.
É certo, sabido, vulgarizado, há muito tornado lugar-comum e comentado na televisão que, no futebol, é assim: pensar-se que o risco é muito arriscado para quem o comete porque pode gerar consequências más. E, fazendo o fast-forward, seria comum pensar que as hipóteses de consequências boas para o FC Porto aparecerem por o lateral direito ser o extremo Jesús Corona é como se não existissem.
Afinal, é da esquerda do ataque do Benfica, o defendido pelo mexicano mais habituado a atacar e ter que se concentrar sem a bola uns bons 40 metros mais à frente, que ia partir Rafa, o mais perigoso, rápido e vertical extremo em Portugal a conduzir transições em velocidade e sempre rumo à baliza. Projetar Corona como seria inevitável que ele o fizesse era descompensar a equipa, vagar muitos metros de relva, expor o FC Porto a contra-ataques.
Ou, obrigar Rafa a comprometer-se sem a bola e a fixá-lo tão dentro do meio campo do Benfica, a defender, que isso retiraria à equipa mais eficaz do campeonato no ataque à baliza, pós-recuperação de bola, o tipo em quem mais dependem quando o querem fazer.

Foi, sobretudo, este risco a limitar o Benfica durante uma parte. Cada vez que a equipa recuperou bolas - e a maioria apareceu em campo próprio -, Rafa estava perto da área errada, de costas para a certa, quase encostado a Grimaldo e rodeado por jogadores do FC Porto. Nem sempre Danilo ou Uribe compensavam a posição de Corona, à direita, mas quem para lá ia dar a opção lógica de saída rápida para o Benfica era o pouco ágil Seferovic, que Pepe anulava.
Com bola, o par de médios portista mantinha-se ao centro, muitas vezes alinhados, onde centravam as atenções de Florentino e Samaris, davam-lhes referências de pressão e faziam com que eles não virassem a cabeça para verem Romário Baró a pedir a bolas nas suas costas. O ex-júnior das rastas na cabeça fugia, quase sempre, da direita, onde apenas ficava quando o FC Porto defendia em 4-4-2 as poucas posses de bola em que o Benfica foi capaz de tentar sair em ataque calmo e organizado.
Ele deu tabelas ao meio, fartou-se de criar dúvidas aos centrais (entre o ir apertar ou ficar na linha) e recebeu para ligar o jogo a Luis Díaz, que caía sobre o pé trocado de Nuno Tavares enquanto Marega fixava Grimaldo e Zé Luís jogava no espaço entre Ferro e Rúben Dias.
O 1-0 apareceu (22’) porque o segundo central cabeceou contra as costas do primeiro, num canto, e o avançado cabo-verdiano rematou a sobra disparatada. Mas Zé Luís finalizou um contra-ataque contra Vlachodimos depois de Nuno Tavares se condenar a uma perda de bola, por se limitar a uma opção de passe ao receber sempre para o lado do pé preferido. Baró rematou em jeito à entrada da área. Marega tirou dois cruzamentos tensos e rasteiros que ameaçaram.
E o Benfica, não conseguindo sair pela via automática que é Rafa, sofreu com a pressão alta contrária. A construção de Grimaldo não saía, porque essa pressão era muito virada para o obrigar a decidir rápido e tentar levar a bola a ser filtrada pelo outro lado, o mais previsível e fácil de contrariar. A equipa não tinha a bola tempo suficiente para Pizzi ter jogadores perto, para se associar, então batia longo tudo o que lhe chegava. De Tomás aparecia só para ganhar faltas e tempo.
Não rematou à baliza até ao intervalo e o risco do FC Porto, portanto, só tinha consequências más para o Benfica.
A forma de a equipa de Bruno Lage lidar com os problemas ficou condicionada, logo, pela lesão de Samaris, que fez Taarabt ter 45 minutos em que teve, mais de metade do tempo, a sofrer como todos tinham sofrido: Pizzi nunca apareceu no jogo interior e só participava para cruzar a bola, Florentino já nem se virava para o jogo, com bola, quiçá temendo a pressão; e Rafa, mesmo já não acompanhando tanto Corona, só conseguiu arrancar um par de vezes para, nos últimos 30 metros, Pepe o anular com desarmes nas coberturas.
O FC Porto contrariou, ainda com maior sucesso, as saídas de bola do Benfica - Marega a cortar a linha para Grimaldo, Zé Luís a colar-se nas receções de Florentino - e levou o jogo para Nuno Tavares, que somou passes errados e corridas com bola desastradas. Danilo raramente falhou em tudo o que tentou fazer. Uribe acompanhou-o sempre bem na reação às perdas de bola.
Em bloco, os portistas continuaram a anular o Benfica, obrigando-o a ter as bolas longas como primeira solução e não último recurso até à entrada nos últimos 20 minutos, quando o autor do golo e Baró saíram, quem vestia de encarnado apenas vivia da luta pelas segundas bolas a meio campo.
A maneira que o Benfica teve de, também, injetar risco no seu jogo foi avançar a linha defensiva, aproximá-la da linha de metade do campo, deixar o trinco mais na frente dos centrais e deixar os laterais avançarem no campo do FC Porto, em simultâneo. Taarabt fixou-se mais perto de Grimaldo, com quem era mais fácil atrair pressão, evadi-la e variar a bola para fora dali.
O marroquino, mesmo sem o alcance e rapidez em bola longa de Gabriel, foi capaz de colocar a bola em Pizzi com o português mais perto da área. Ele cruzou mais vezes, com mais alvos presentes na área, a presença do Benfica nessas redondezas cresceu, mas sem que alguém ficasse com bolas para rematar. O risco deu-lhes um pouco de avanço territorial, mas houve consequências más, que tem a ver com o facto de ter sido Marega a ficar em campo e não Zé Luís.
O potente e explosivo sprinter, com mais metros entre a linha de quatro do Benfica e Vlachodimos, esperou por bolas para galopar na profundidade. A primeira, dada por Soares, deixou-o com 25 metros de ninguém e cinco segundos à-vontade para correr, espaço e tempo que o deixaram abrandar e não acertar com a bola na baliza. A segunda, vinda de Corona, pediu-lhe para acelerar com Ferro por perto e, tendo que pensar e executar em velocidade, fez o 2-0 bater no poste (86’) antes de entrar.
Ainda faltava o relógio andar, mas, se não acabava com o resultado, o FC Porto fechava a vitória. Antes, já Luis Díaz rematar um míssil em drop, caído da casualidade de um ressalto após uma bola longa. Depois, o Benfica teve o primeiro remate perigoso do jogo, só aos 90’, e ainda teve uma bola dentro da baliza, anulada por fora-de-jogo quando já jogava com menos um - Chiquinho lesionou-se sem mais substituições para Bruno Lage tentar remediar o que não consertou durante hora e meia.
O clássico terminou com um minuto e 30 segundos de posse de bola portista, facto redutor porque foram ene passes trocados já nos descontos, perseguidos por jogadores do Benfica moribundos, mas evidência, também, que serve de prova final de como Sérgio Conceição e o FC Porto controlaram o adversário, anulando o que de mais forte tem.
Eles asfixiaram o raio de ação de Florentino-Samaris, criaram superioridade de números na zona dos médios, retiraram Grimaldo do jogo atacante, absorveram Rafa para o defensivo, obrigaram Nuno Tavares a tocar mais na bola do que desejaria, naquele lado do campo e, depois, envolveram Romário Baró entrelinhas, deram bolas aos avançados e conseguiram que as ações de Luis Díaz, em posse, fossem o colombiano a ir contra só um adversário (e a ganhar quase todos os duelos).
O Benfica não gerou jogo, criou nenhuma oportunidade de golo. A relação entre o que fez em campo e o que isso lhe valeu em hipótese esperadas para marcar, métrica conhecida por expected goals (xG), já não era tão reduzida, em jogos contra o FC Porto, desde o início de 2017/18.
Há muito tempo que o Benfica de Bruno Lage não jogava tão pouco. Há muito que o FC Porto não rendia tanto em clássicos - e uma das explicações deste desbalanço esteve nos proveitos que se podem retirar (e pensar, e valorizar e focar) quando se arrisca.

sábado, 24 de agosto de 2019

INÚTIL INVENTAR FAVORITISMO


"Uma vitória do Benfica era muito boa, para o Sporting mudava a crise de latitude e daria paz para um emblema em depressão

O Benfica venceu no Jamor o Belenenses num jogo tradicionalmente difícil, com uma arbitragem tradicionalmente adversa e um relvado tradicionalmente impraticável. A escorregadela do Rúben não foi suficiente para o Benfica escorregar e a troca de pés do Nuno Tavares não trocou as voltas ao destino de vitória.
Foi uma vitória importante, muito justa dum Benfica que ainda vai melhorar para ficar mais perto das ambições de Bruno Lage. Gostei bastante do jogo contra o Belenenses porque senti o Benfica muito comprometido com a vitória, muito focado no objectivo onde nem os penáltis por marcar e os golos mal anulados desviaram a equipa da rota.
Mais uma bela resposta com a entrada de Chiquinho, hoje não restam dúvidas nos adeptos sobre o acerto e utilidade desta contratação. Ficam os avisos de um campeonato com um início atípico, onde qualquer conclusão arrisca-se a ser precipitada. No nosso futebol, longo prazo tem três dias.
O Benfica - Porto de amanhã não decide nada mas marcará o ambiente futebolístico do próximo mês. Uma vitória do Benfica era muito boa, para o Sporting mudava a crise de latitude e daria paz para um emblema em depressão.
Uma vitória do Porto enchia os Aliados e ninguém notava se houvesse desconto de receitas futuras. Para os adeptos o futebol é momento, para dirigentes competentes tem que ser mais qualquer coisa.
Os adeptos só olham para os números da tabela classificativa, aos dirigentes exige-se que vejam outros números, aqueles que asseguram a continuidade dos emblemas. Um clássico é sempre um jogo de tripla, qualquer resultado é possível e é tarefa inútil inventar favoritismo ou vantagens. Neste momento a única realidade palpável e de relevo são os três pontos a mais na tabela classificativa.
Impossível parece ser a tarefa de Frederico Varandas. Os adeptos pedem-lhe para segurar Bruno Fernandes, mesmo vendendo outros jogadores menos determinantes mas na primeira tentativa do presidente de cumprir este objectivo caem-lhe em cima sem misericórdia.
Nem era suposto ser eu a defender o presidente leonino, mas reconheço que assim é impossível governar uma casa que não aceita governo. Agora é que eu percebo aquela idade antiga que «o Sporting é um clube diferente»."

Sílvio Cervan, in A Bola

PRIMEIRAS PÁGINAS


JOGO LIMPO - BTV - 23 AGOSTO 2019

                                           

1 SEMANA DO MELHOR - BTV - 23 AGOSTO 2019

                                           

AQUECIMENTO - BTV - 22 AGOSTO 2019

                                           

AS LANÇAS APONTADAS - BTV - 21 AGOSTO 2019

                                           

105 x 68 - BTV - 20 AGOSTO 2019

                                           

domingo, 18 de agosto de 2019

UM AZAR DO KRALJ


Um Azar do Kralj saúda Luís Miguel, que se levanta da cama apostado em melhorar a sua vida e as vidas daqueles que o rodeiam
O Benfica venceu "o Codecity", como diz Vasco Mendonça, que só tem elogios para Pizzi - também conhecido como Luís Miguel - e para Rafa, cujo futebol "é um refrescante e necessário pirete ao analista técnico-táctico que reside em nós"
Vlachodimos
Esqueçam qualquer jogo contra adversários diretos ou final de competição europeia. O verdadeiro teste de Vlachodimos acontecia hoje no Estádio do Jamor. Da última vez que jogara frente ao Belenenses um erro seu fez Bruno Lage parecer um treinador vulgar, pior, um treinador vice-campeão nacional. Hoje quase não teve oportunidade para tirar as teimas, tal foi a avalanche ofensiva do autocarro Codecity, mas a bola lá apareceu na sua cara e Vlachodimos fez uma mancha muito competente, assim garantindo a sua continuidade neste planeta.
Nuno Tavares
Os seus dois jogos na Liga são um autêntico thriller psicológico: o filme arranca com a visão de um jogador talentoso que faz milhões apaixonarem-se pelo seu pé esquerdo, para logo depois pontapear a atmosfera com o pé direito e semear o pânico nesses mesmos adeptos, que vivem agora a angústia de não saber quando é que aquele pé direito voltará a atacar.
Rúben Dias
Muito bem a assistir Kikas para um dos momentos da tarde, a reconciliação definitiva de Vlachodimos com os adeptos. Agora é hora de preparar os pitons e os neurónios para o tal Zé Luís.
Ferro
Combinou de forma muito interessante momentos de falsa lentidão com outros de verdadeira lentidão, mas nunca lhe vi um cabelo fora do sítio ou uma gota de suor a mais do que deveria ostentar. É notável. Enquanto exibir esta personalidade tranquila e lhe juntar aqueles passes de quarterback como o ataque do golo anulado, estará tudo bem.
Grimaldo
Alguém devia perguntar a Grimaldo como é jogar numa equipa tão bonita com sete portugueses em campo, mais que não seja para podermos constatar esse facto. O último a pisar o relvado parece ser um dos favoritos de Grimaldo. A jogada desenhada com Chiquinho e companhia fez algumas das suas combinações com Cervi na época passada parecerem um treino com pinos.
Florentino
Como ultrapassar um adversário que parece estar em todo o lado, nomeadamente no sítio certo, e ser capaz de desarmar qualquer um? Não se ultrapassa. Na melhor das hipóteses, falece-se a tentar. Paz à alma de mais um colectivo de nobres adversários. Os meus sentimentos às famílias metaforicamente enlutadas. Quanto a Florentino, talvez o melhor seja limitar-se a exibições medianas, pelo menos até 2 de setembro.
Samaris
Um pouco distante do pandã a que nos vínhamos habituando com Tino e Gabriel, razão mais do que suficientes para arrancar uma exibição fundamental no próximo sábado e assim reafirmar a diversidade de opções à disposição do mister Lage.
Pizzi
Continua preso no seu Groundhog Day. Longe vão os dias em que duvidava de si próprio e questionava o estranho mundo que o coloca sempre no sítio certo à hora certa. A cada dia que passa, e a verdade é que já não sabemos bem quantos são, Luís Miguel levanta-se da cama apostado em melhorar a sua vida e as vidas daqueles que o rodeiam, procurando sempre um final cada vez mais feliz. Enviem isto a um amigo no Whatsapp, quando no vosso ecrã surgir a legenda "Hater está a escrever…"
Rafa
Cada arrancada de Rafa é um pedido aos adeptos para que pousem os seus smartphones, esqueçam Jonas ou João Félix, e corram com o nosso génio rumo ao trigésimo oitavo título nacional. Numa altura em que muito se fala de ataque posicional, transições e jogo entre linhas, o futebol vertical de Rafa, com vontade de levar tudo à frente, é um refrescante e necessário pirete ao analista técnico-táctico que reside em nós. Mandemos o modelo de jogo às malvas ou, vá, deixemos isso para Bruno Lage. Antes que a cerveja fique morna e nos esqueçamos dos motivos e dos jogadores que nos fizeram apaixonar por isto.
RDT
Na primeira jornada pedi que lhe dessem a cheirar o sangue dos centrais da Liga NOS. Ao invés de ler o meu texto, a estrutura do Benfica optou por manter a protecção ao jogador, que continua a ser caracterizado como um jogador talentoso (que é) e um avançado trabalhador (sem dúvida) que em breve irá dar muitas alegrias aos adeptos. Certo. Ainda assim, teve momentos em que pareceu um talhante vegan. Na hora de matar o borrego deixou que os sentimentos falassem mais alto e rematou frouxo para rejubilo do animal.
Seferovic
Esqueçam os rancores. Agradeçam a Fábio Veríssimo e Carlos Xistra pelo golo anulado. O jogo dera-nos um Seferovic apático ao longo de quase 90 minutos, pelo que foi mais do que justa a lição do árbitro da partida, que, mais do que tomar uma decisão acertada do ponto de vista regulamentar, está no relvado para tomar as melhores decisões do ponto de vista moral. Tens bom remédio, Haris, já no próximo sábado. Vemo-nos lá, amigo.
Chiquinho
Sabem aquele tipo tímido que tem sempre uma solução para tudo? É o Chiquinho, um simples canivete suíço em forma de ser humano, sempre atento à oportunidade, humildemente disponível para servir. Precisas de abrir uma garrafa? O homem tem um abre-garrafas na sola do sapato. Queres fumar uma? Ele tem murtalhas num bolso secreto do casaco. Precisas de um preservativo? Precisavas, ele já está com a tua miúda.
Vinicius
Mais alguns minutos em campo. Discreto, mas também não comprometeu. O seu passe vale agora 23 milhões.

Um Azar do Kralj, in Tribuna Expresso

PRIMEIRAS PÁGINAS


sábado, 17 de agosto de 2019

COMEÇA BEM


"Benfica precisa de foco e ambição, sem qualquer soberba ou distracção com rodinhas alheias

O campeonato iniciou-se de forma interessante para o campeão. Vencer o Paços de Ferreira por números claros, até exagerados para o jogo do Paços, e ouvir as notícias vindas de Barcelos constituem um óptimo início e algum galo para o adversário. Verdade que o FC Porto estava mais concentrado no apuramento para a Liga dos Campeões quando jogou em Barcelos e não era esperada aquela eliminação frente aos modestos russos, estreantes nestas andanças. No fim do encontro, a conferência de imprensa de Sérgio Conceição esclareceu os adeptos e as rodinhas no fim dos jogos dão uma certa tranquilidade. No fundo, dada a conjuntura azul e branca, pode-se dizer que o FC Porto é, nesta fase, um clube de rodinhas.
Passadas as rivalidades de tertúlia de café, há sempre alguma(s) graça(s) nestas coisas, a eliminação do FC Porto foi péssima para o Benfica. Desde logo, porque o FC Porto, com uma deslocação a Atenas na próxima quarta feira, jogaria na Luz dia 24 muito mais limitado e cansado.
Depois é uma derrota contra uma equipa do país que disputa connosco o lugar no ranking da UEFA, a Rússia. Por fim, porque sem Liga dos Campeões o FC Porto coloca as fichas todas na prova nacional e nas disputas contra o Benfica.
Este plantel portista parecia curto para fazer uma Liga dos Campeões e três provas nacionais a topo. A derrota contra o Krasnodar devolveu um adversário mais forte ao campeonato, como anunciou o treinador azul e branco no fim da segunda derrota. Sérgio Conceição é um bom treinador e o FC Porto vai ser um forte adversário.
Fica a boa notícia de ver o Benfica subir ao Pote 2 no próximo sorteio europeu. Ao Benfica resta uma enorme concentração competitiva a começar já amanhã. Vamos jogar onde costumamos perder (recentemente) e contra o único emblema que roubou pontos para o campeonato a Bruno Lage.
Queremos vencer no Jamor este ano pelo menos duas vezes. Marítimo e Gil Vicente já mostraram que ao mínimo deslize os favoritos perdem pontos e Bruno Lage foi esclarecedor na conferência de imprensa onde reconheceu estar abaixo do pretendido. Foco e ambição, sem qualquer soberba ou distracção com rodinhas alheias. Só o Benfica nos interessa, só o Benfica nos deve (pre)ocupar, pois como ameaçam os rivais nas televisões isto não é como começa é como acaba. Mas, já agora, começa bem..."

Sílvio Cervan, in A Bola

UMA NO CRAVO E OUTRA NA FERRADURA


"1. Na semana passada referi aqui que, a viver o conforto e a euforia após cada vitória, é essencial sabermos conservar a reserva de serenidade que nos prepara melhor para cada próximo desafio. A moderação é própria de quem sabe vencer e confere ao vencedor o devido respeito pelo valor do adversário vencido. Mas o reconhecimento pelas virtudes da contenção dos vencedores também acaba por transceder as nossas cores e irá inevitavelmente alastrar ao campo dos restantes competidores: gradualmente, todos eles aprenderão a saber perder melhor.
A favor desta unanimidade dos comentadores dependentes e independentes, de todo o arco cromático, que hoje enxameiam o espaço mediático e, até, a própria barafunda das redes sociais, ao fim dos dois primeiros jogos oficiais do Benfica de elite, já não hesita em tecer convictamente os maiores encómios, seja aos jogadores mais experientes e aos mais jovens da equipa; seja, afinal, ao consistente desempenho colectivo deles (agora retroactivamente, desde a pré-época); seja, ainda mais, às excelentes capacidades e méritos da personalidade do treinador; seja, mesmo (mirabile visu!) aos milagres da visionária e coerente gestão do Sport Lisboa e Benfica, personificada em Luís Filipe Vieira.
Isso deve-se, senão, a quê? A meu ver, deve-se, evidentemente, a que, sempre cada vez mais felizes e mais acostumados com a sequência de vitórias e de objectivos sucessivamente atingidos, temos sem dúvida vindo a apurar o registo das nossas celebrações. Hoje comemoramos as nossas vitórias e conquistas muito mais frequentemente do que os outros. As alegrias que os nossos melhores nos franqueiam são cada vez maiores e mais intensas. E as tristezas dos que nos perseguem acentuam-se progressivamente.
A nós, para já, basta-nos competir e manter as cadências de esforço. A eles, competir também. Mas, ao mesmo tempo, como já fazem, apenas reconhecer que não conseguem vencer-nos lealmente.

2. Os dirigentes eleitos do Sport Lisboa e Benfica têm responsabilidades acrescidas no que respeita às ideias expendidas no espaço público. Um deles, o vice-presidente da Direcção do Clube e da SAD, José Eduardo Moniz, persiste em empreender sentenças singulares e não devidamente fundamentadas, fora dos lugares convenientes e, sobretudo, excêntricas a ocasiões adequadas.
Evidentemente que, numa instituição de raiz e praxis profundamente democráticas, aqui, até 'a asneira é livre' ... Sendo que, no nosso contexto, o usufruto do conceito possa até ser mais tolerável, se aproveitado por quem, talvez, não disponha do conhecimento profundo de tudo quanto realmente seja e de como se estará já a desenvolver o futuro do Benfica.
Mas, precisamente quando, no Benfica, estamos a viver as presentes circunstâncias casuísticas e históricas, certamente não é aceitável para os sócios benfiquistas que um vice-presidente da Direcção do Clube e da SAD se ponha, por exemplo, a questionar daquelas maneiras os Estatutos que estão em vigor.
Mesmo que, com algum cuidado, pareça pretender dar, como os ferreiros, uma no cravo e outra na ferradura."

José Nuno Martins, in O Benfica

PRIMEIRAS PÁGINAS


segunda-feira, 12 de agosto de 2019

O ESSENCIAL DE ONZE MESES DE FUTEBOL


"No meu caso carrega Benfica! Carrega mesmo! Concretiza os sonhos de cada um de nós. Sabendo sempre que o Benfica nunca perde

1. O pontapé de saída já se multiplicou. E depois da goleada na Supertaça temos de acreditar que vamos viver uma época desportiva com resultados tão inesperados quanto surpreendentes! Em quase todos os estádios, mesmo nos estádios emprestados. Estamos igualmente em plena primeira jornada das duas competições profissionais. E das trinta e seis equipas que participam quinze são acima do Douro! E próximo do Tejo ou abaixo dele apenas catorze! E se olharmos para o Mondego serão vinte e uma acima desse Rio tão emblemático para mim, para os beirões, para Coimbra e para a Figueira da Foz. Que em cada Agosto me faz regressar à infância! Mas esta Liga também acolhe a Madeira e os Açores. Uma Liga NOS, mas do quase encolhida ao Atlântico! E o que constamos é que só o Benfica está envolvido nas três principais competições: Nas duas ligas profissionais (como Benfica B) e na Liga Revelação organizada pela FPF! Já que, nesta prova, o Futebol Cube do Porto não participa! Mas também já vivemos os primeiros jogos das fases de (pré) qualificação para as duas competições europeias. E, hoje mesmo, a Volta regressa ao Porto, e às suas margens, para um final em verdadeira apoteose. Mas centromo-nos no futebol. Neste Agosto temos as três primeiras jornadas e, no seu final, e antes de sabermos quem vai entrar na fase de grupos da Liga dos Campeões e da Liga Europa, teremos um Benfica - Futebol Clube do Porto. Depois da Supertaça Europeia que para a semana, e com uma arbitragem feminina, se disputará em Istambul. E vivendo a fase final do primeiro e intenso - a todos os níveis... - período de transferências. E com transacções de peso e transferências de largos milhões.

2. Em Setembro, para além do duplo regresso da Selecção Nacional - deslocações à Sérvia e à Lituânia -, viveremos as emoções das primeiras jornadas da Liga dos Campeões e da Liga Europa. Mas importa ter desde já presente que a quarta jornada da Liga ocorre no primeiro dia de Setembro e só teremos futebol doméstico quinze dias depois. É a primeira grande pausa. Mas com Cristiano Ronaldo e Fernando Santos a chamarem, entre tantos nomes ilustres e de referência - mesmo longe -, a nossa atenção.



3. Chega Outubro e com ele a realização de eleições legislativas mas sem que os programas desportivos dos partidos políticos tenham qualquer interesse ou relevância mediática. O que fica para este mês são duas jornadas da fase de grupos da Liga dos Campeões e da Liga Europa e uma nova pausa de quase quinze dias para os compromissos da nossa Selecção rumo à reconquista do Europeu. Com o determinante encontro com a Ucrânia!



4. Novembro pode - deve! - ser o mês do nosso apuramento directo para o singular Europeu 2020! Agora com uma pausa de cerca de dez dias nas competições internas e sempre com uma eliminatória da Taça de Portugal depois dos compromissos da Selecção. Já tinha ocorrido em Outubro e ocorre agora em Novembro com a realização dos jogos da quarta eliminatória da Taça rainha do futebol português.



5. Dezembro é o mês das classificações finais da fase de grupos da Liga dos Campeões e, logo, com os primeiras contas dos valores arrecadados. Que podem ser ou bem estimulantes ou bem perturbantes. Mas é o mês e que haverá, pela primeira vez nos últimos anos, uma justa pausa natalícia. A décima quarta jornada decorre no fim de semana de 14 de Dezembro e a décima quinta apenas a 5 de Janeiro de 2020! E, decerto, já com algumas chicotadas psicológicas ocorridas e com alguns lances polémicos do VAR  a serem vivamente dissecados. Havendo, no entanto, e em termos de jogo jogado - e não do múltiplo e diferenciado jogo falado! -, os oitavos de final da Taça de Portugal e jogos da fase de grupos da renovada e reconhecida Taça da Liga!



6. E entramos no ano Novo. E Janeiro já é o mês da disputa do dito campeão de Inverno, ou seja, e lá para o seu final, o momento da realização das meias-finais e da final da Taça da Liga. Com Braga a ser o centro e o epicentro! Mas antes teremos as emoções de o Sporting a receber o Porto e, poucos dias depois, receber o Benfica! A que acrescem os quartos de final da Taça de Portugal e, também, e naturalmente, o fecho do segundo período de intermediação de jogadores. Que ganhará uma dimensão específica já que estamos em ano de Europeu. E haverá alguns que se querem mostrar aos diferentes seleccionadores. Participar num Europeu é uma montra de efectiva valorização!

7. E chegaremos a Fevereiro. Aos oitavos de final da Liga dos Campeões e aos dezasseis avos de final da Liga Europa. E às meias-finais da Taça de Portugal. E com realização de quatro importantes jornadas da Liga, incluindo a ida do Benfica ao Dragão!

8. Em Março, e para além das jornadas da nossa Liga, e dos oitavos de final da Liga Europa, apenas está programada uma pausa para os play-off  de acesso ao Europeu. Como acredito que já estaremos apurados decerto teremos uma pausa nos finais desse mês de Março.

9. Abril é o mês do principio das grandes decisões. Internas e europeias. No seu final chegarão as meias-finais da Liga dos Campeões e da Liga Europa e teremos cinco importantes jornadas das nosas Ligas.

10. Maio é o mês de todas as finais. A 17 a última jornada com um Benfica - Sporting. Uma semana depois a final da Taça de Portugal. A 27 a final da Liga Europa em Gdansk, na Polónia. Uma marcante cidade e referência na luta pela liberdade. E no dia 30 o regresso a Istambul, e a um bonito estádio para a final da Liga dos Campeões. E, assim, o futebol europeu escolhe Istambul para a Supertaça - na próxima quarta-feira! - e regressa a uma cidade marcante na história da Humanidade do Mediterrâneo mesmo nos finais de Maio de 2020!

11. E, depois das finais de clubes, Junho é o mês do Europeu de 2020. Com um formato especial e visitando diferentes cidades desta grande Europa. O que sabemos é que somos os campeões europeus em título. E o que sei é que estava em Paris, no emblemático Estádio, naquele 10 de Julho de 2016! Vibrei e chorei. Sofri e aplaudi. Abracei e fui abraçado. Beijei e fui beijado. E cantei, a plenos pulmões, a Portuguesa. E esse dia está sempre presente na minha - nossa - memória. E no futebol, como na vida, ter memória é bem importante. Já que ela nos ajuda a olhar o passado, a sentir o presente e a agarrar o futuro! Boa época desportiva 2019/2020! Nestes onze pontos. Já que o onze é o número, a essência, do Futebol!

12. Onze meses! Mas o décimo segundo jogador é fundamental. Ele é a essência da existência. Ele motiva e embala. No meu caso carrega Benfica! Carrega mesmo! Concretiza os sonhos de cada um de nós. Sabendo sempre que o Benfica nunca perde. De vez em quando não ganha! Mas hoje como ontem acreditamos mesmo! Em cada jogo! Em cada mês. E no final e afinal sorrimos!"

Fernando Seara, in A Bola

UM BENFICA COM IDENTIDADE


"Foi um jogo interessante com dois momentos que justificaram o resultado pesado para o Paços

Penalizador para o Paços
1. Foi um jogo muito interessante, com um resultado que demonstra a superioridade do Benfica, mas penalizador para a atitude do Paços de Ferreira. No fundo, assistimos a um Benfica muito dinâmico, com mais bola, iniciativa ofensiva, contra uma atitude positiva do Paços que tentou sempre chegar à baliza adversária.

O golo e a expulsão
2. Houve dois momentos decisivos para o resultado na Luz: o grande pontapé de Nuno Tavares. Mérito dele e dos seus colegas, pois não é fácil entrar numa equipa da dimensão do Benfica, com todo o seu grau de exigência; por fim, e não menos importante, a expulsão de Bernardo Martins. À margem desses dois momentos, houve um Benfica com excelente controlo da profundidade defensiva, perante um adversário que conseguiu reduzir espaços e impedir o excelente jogo interior encarnado. O Paços mostrou ter chegado à Luz com um plano bem claro de jogo. O resultado pesado justifica-se, sobretudo, pela superioridade numérica do Benfica. Porém, nota para a coragem do treinador pacense por colocar jovens em campo, mesmo estando a perder, e também para o Benfica e para o seu projecto desportivo assente na qualidade da sua formação. Penso que houve mérito de parte a parte num jogo que foi interessante em grande parte do tempo.

Bem diferente da Supertaça
3. Podemos olhar para este jogo, até porque o resultado foi igual, à recente vitória do Benfica na Supertaça. Porém, cada jogo é diferente. Neste caso, aliás, penso que igual terá sido apenas o resultado. Tratou-se, obviamente, de uma abordagem diferente, dinâmicas bem distintas, é impossível fazer comparações. Há algo que, convém sublinhar, pois é evidente neste momento inicial da temporada: nota-se um Benfica muito forte na recuperação de bola, em tentar reduzir ao máximo as dinâmicas do adversário, a atacar e defender de forma compacta, com uma identidade e ideia de jogo bem vincada. Mais do que olhar para a motivação da conquista da Supertaça, dessa confiança, é o traço de identidade que existe. Creio, aliás, que o Benfica será quase sempre assim durante a época. Com estas qualidades.

Mais uma vez... Pizzi
4. É igualmente impossível não destacar o homem do jogo, novamente Pizzi. Voltou a demonstrar que pode jogar como ala tão bem como partindo da sua posição. Mas, mais importante que isso, é a qualidade na sua tomada de decisão. Consegue não só retirar o ritmo de jogo quando é necessário, como fazer o inverso com igual mestria. Depois, nota para o entendimento perfeito que vai fazendo com os restantes colegas de equipa, imprimindo dinâmicas, colocando, quase sempre, um ritmo elevado e que deixa os adversários em dificuldades. Mesmo estando numa fase inicial da temporada, o excelente entendimento demonstrado com Nuno Tavares é algo assinalável e... decisivo, como foi o caso de ontem."

João Carlos Pereira, in A Bola

O CÉU E AS GRANDES AMBIÇÕES, EXCELÊNICIA


"Trabalhar, treinar, esforçar-se? Não, não, nada disso. Estou só a falar de olhar, ver, observar, contemplar, etc.

Céu e ambição
1. - É preciso olhar para o céu na noite escura, ver as estrelas e o seu brilho e ter ambição.
- Isso, que lindo. As estrelas, o céu. Quase me comove, excelência. Se eu tivesse algum jeito para os sentimentos já estaria aqui com o coração a bater.
- Não exagere. Mas sabe, excelência, gosto muito de olhar para o céu e sonhar com vitórias. Abro um buraco e olho para o céu.
- Como?
- Um buraco, para baixo.
- Eu sei que um buraco é para baixo. Mas abre um buraco para olhar para o céu, porquê? Não entendo.
- Devemos descer o mais possível e daí sim, olhar para o céu.
- Porquê, excelência?
- Vou mudar o tom de voz.
- Mude, excelência, mude de tom de voz.
- Aqui vai. Devemos olhar para o que é alto da posição mais modesta possível.
- Bonito. Uma lição. Vou escrever isso aqui no meu bloco.
- Subir para uma torre e daí olhar para o céu, uma hipótese.
- A primeira.
- A primeira. E, no meu entender, hipótese errada.
- Segunda?
- Segunda hipótese: abrir uma cova, um buraco bem fundo, um poço e daí sim: olhar para o céu.
- De um buraco, o céu fica mais alto. É isso, excelência.
- Sim, podemos fazer as contas.
- Vamos a isso.
- Se uma torre tiver cem metros...
- Sim?
- ... E se virmos o céu daí, o céu fica mais baixo cem metros. Isto tendo como referência o nível do mar.
- Exacto. Estou a apontar.
- E se o céu fica mais baixo cem metros podemos ficar com uma ideia errada da grandiosidade do céu.
- Sim, um erro de 100 metros.
- Não é um erro gigante, mas é um erro.
- Já se vossa excelência vir o céu de um poço de dez metros...
- Dez metros.
- O céu fica mais alto...
- Mais alto 10 metros.
- Exactamente.
- Portanto, a questão é esta: Vossa excelência, quer engrandecer o céu ou tirar-lhe força? É esta a questão.
- Ok.
- Portanto, como dizia a vossa excelência: gosto muito de olhar para o céu e sonhar com vitórias. Abro um buraco e olho para o céu.
- Modéstia: abrir um buraco. Ver de baixo.
- Isso.
- E grandes sonhos: olhar para o céu, para o longínquo.
- Isso mesmo.
- Modéstia e grandes vontades.
- E já começou a trabalhar para alcançar essas grandes vitórias com que sonha quando olha para o céu?
- Trabalhar? Não entendo. Como?
- Trabalhar, treinar, esforçar-se?
- Não, não, nada disso. Estou só a falar de olhar, ver, observar, contemplar, etc.
- Então, excelência? Só olha para o céu? E o resto?
- Penso que houve um mal-entendido.
- Sim?
- Sabe qual é o meu lema, excelência? Vou esclarecê-lo.
- Diga. Estou em pulgas.
- Quer ouvir o meu lema de vida?
- Diga, diga!
- Pois bem, é este: a noite é para dormir, o dia para descansar.
- Como?

A noite e o dia


2. - Que bela expressão!
- A noite é para dormir, o dia para descansar.


- Sim, temos de ser implacáveis.
- Mal acordo começo a logo descansar.
- Sem pausas?
- Sem pausas.
- Abro os olhos e Zás.
- Zás? Zás não é demasiado abrupto, excelência?
- Pois. Não é bem zás. É mais ziuuuuuuuu, assim baixinho.
- Vossa excelência acorda e ziiuuuuuu, começa logo a descansar.
- Sim, exacto. Uma transição brusca mas controlada.
- Com os olhos abertos?
- Semicerrados. Para ver a realidade a metade.
- Metade?
- O dia está à minha frente e eu vejo mais ou menos metade do dia. Fico com os olhos assim, semicerrados.
- Estou a ver, excelência.
- Descansar não é dormir.
- Claro que não. Nada disso.
- A noite é para dormir, o dia para descansar... Por vezes acordo mesmo com uma raiva enorme para descansar.
- Raiva?
- Uma raiva mansa, eu diria, uma raivinha.
- Sim, não exageremos, excelência.
- Mas para mim é claro, sempre foi um ponto de honra: ou fazemos as coisas com vontade ou não fazemos.
- Canalizar, portanto, a vontade do homem para essa actividade de baixo esforço que é o descanso.
- Sim, enquanto a noite não chega.
- Descansar até dormir.
- E dormir até acordar para descansar.
- Uma vida repleta.
- Sim, excelência.

O céu, de novo
3. Ou seja, quando vossa excelência olha para o céu, afinal não vê conquistas futuras...
- Não. Nada... Na verdade, agora já posso ser verdadeiro consigo: quando olho para o céu, de noite fico com sono, e de dia fico cansado.
- Entendo, excelência, entendo perfeitamente."

Gonçalo M. Tavares, in A Bola