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sábado, 26 de outubro de 2019

A EMPREGADA COSE E O PIZZI RESOLVE


A empregada cose. Foi esta a resposta que obtive quando, há cerca de 40 anos, fui mandada pelo chefe de redação de "A Bola" entrevistar os fundadores da primeira claque oficial de um clube de futebol. Como qualquer novidade que se preze, despertou curiosidade no público o aparecimento engalanado e ruidoso de um grupo de educandos do exclusivo Colégio São João de Brito, em Lisboa, que passara a acompanhar a equipa de futebol do Sporting sob a égide presidencial da família  Rocha ao som de batuques e sob o estandarte da prontamente chamada juventude Leonina.
"A empregada cose", foi, portanto, a resposta que obtive quando questionei um dos fundadores do garrido e bem aprumado grupo de adeptos. Pretendia saber sobre quem recaíam na simpática organização as responsabilidades da manutenção e conservação das bandeiras e das faixas dando-se o caso de alguma se sujar, estragar ou rasgar. A empregada cose. Ah, pronto, se a empregada cose, não há que recear quanto aos cuidados práticos a dispensar ao material. Esta coisa, esta novidade  de "ter" uma claque não é para quem quer, é para quem pode, terão concluído, tal como eu, os leitores que dispusessem nem que fosse de um  bocadinho de consciência social naquela já tão distante passagem da década de 1970 para a década de 1980, no século passado. tranquilizem-se, leitores de hoje, que não vou maçar ninguém elaborando uma teoria intrincada sobre como as organizações que nasceram elitistas e com todo o conforto podem, em determinados contextos, evoluir muito desfavoravelmente para organizações lapidares de rua, reféns da delinquência do mais alto coturno e do populismo do mais baixo coturno.Mas. de facto, são coisas que acontecem e que dão que contar. Ou não dão?
Muito a custo, o Benfica lá conseguiu ganhar, finalmente, um jogo a contar para a liga dos Campeões. Os 3 pontos arrecadados no jogo de quarta-feira com o Olympique  Lyon permitem agora avaliar o Benfica como um pretendente forte na luta por um lugar na Liga Europa e como um pretendente frágil  na discussão a quatro pelos dois lugares do Grupo G que garantirão a qualificação para os oitavos-de-final da prova.
Ainda assim, a vitória sobre os franceses para além de manter viva uma tradição - o Benfica costuma ser feliz com franceses na Luz - , devolve à equipa de Bruno Lage a certeza de que só depende de si para chegar onde quer na mais importante competição internacional de clubes. "Basta-lhe" ganhar os trés jogos em agenda até dezembro e a coisa resolve-se. Resumidamente, o Benfica precisa de cometer trés pequenas proezas para seguir em frente na Liga dos Campeões, o que, tendo em conta a valia dos adversários e a pouca substância do futebol exibido pelos campeões nacionais na corrente temporada, não é salvo - conduto garantido, antes pelo contrário. Mas sempre é qualquer coisa. É melhor, muito melhor que zero.

Leonor Pinhão, in Record

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