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quinta-feira, 24 de outubro de 2019
DEFESA, MEIO - CAMPO E ATAQUE
DEFESA: A saída de Jorge Jesus do Benfica foi um erro. Talvez só ultrapassado pela ideia peregrina de o querer fazer regressar há um ano, contra tudo o que o Benfica havia dito sobre o ex-técnico. Com o passar do tempo, se dúvidas restassem, fica claro que Jesus tem defeitos, mas é um técnico extraordinário - que não perde uma oportunidade para mostrar a diferença que um treinador faz numa equipa. Agora no Brasil, num futebol colectivamente pobre, mas com um potencial incomensorável, JJ fez em campo o que se esperava dele: encurtou as linhas, deu critério na pressão, e colocou a "defender com poucos" de forma superlativa. O resto veio por acréscimo e, no seu estilo irresistível, JJ, entre muitas resistências chauvinistas, conquistou o Brasil. É entusiasmante assistir aos jogos do Flamengo, e para quem construiu, com lampejos de fotografias de revistas, uma imagem mitificada da equipa liderada por Zico no início dos oitenta, há no sucesso do treinador português uma celebração do futebol de infância. Não é coisa pouca. Que além do Brasileirão, venha, também, a libertadores, é o que pedimos aqueles de nós que ficaram do lado errado do Equador.
MEIO - CAMPO: O futebol é simples, só que, por vezes, tornamo-lo complicado. Pense-se em tudo o que se disse sobre o declínio exibicional do Benfica (uma evidência). Haverá, certamente, um fundo de verdade nas várias análises, mas talvez a explicação fosse mais simples: lesões. Sem Gabriel e Florentino, a equipa piora muito. com a dupla de titulares, o Benfica transfigura-se e ganha critério na ocupação de espaços. A defender, o campo torna-se subitamente mais pequeno - facilitando a vida à defesa, que parece logo melhor - e, a .atacar, o brasileiro, naquele seu jeito de "quarter-back", oferece uma circulação de bola que cria espaços que antes pareciam não existir - facilitando a vida ao ataque. Juntos dão dinâmica e qualidade individual no espaço onde se joga com o cérebro (sim, continua a faltar aprimorar a ligação meio - campo ataque em organização). Pelo caminho, ficámos a conhecer um Benfica sem Gabriel e Florentino ( que estão a anos-luz das alternativas no plantel). Agora imaginem o que seria o FC Porto sem Danilo e Uribe durante mês e meio ou o Sporting sem Bruno Fernandes e Doumbia.
ATAQUE: as claques não são o problema de Frederico Varandas, nem um exclusivo do Sporting. De quando em quando é importante recordar o óbvio e, à boleia da posição corajosa do presidente do Sporting, lembrar que as claques são um problema público, que precisa de respostas inteligentes. Pergunto-me quantos mais incidentes, episódios de violência ou mortes vão ser necessários para que os poderes públicos ajam com eficácia? Agir com eficácia implica separar o trigo do joio (quem acompanha de forma apaixonada e incondicional os seus clubes de quem usa o futebol como espaço privilegiado para a delinquência). Se outros países, com problemas bem mais agudos, atacaram o problema, há alguma razão para não sermos capazes?
Pedro Adão e Silva, in Record
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