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sexta-feira, 25 de outubro de 2019

JOÃO SEQUEIRA ANDRADE (1928-2019)


"Deixou-nos, já muito frágil, com os seus formidáveis noventa e um anos que até ao fim viveu João Sequeira Andrade, sempre com o mesmo singular espírito lúcido e vivo e com a dedicação inteira e profunda ao Sport Lisboa e Benfica. Curvo-me perante a sua memória.
Viveu, por sua conta,, setenta e quatro anos de Benfiquismo puro, até poucas semanas antes de ser consagrado com o Anel de Platina - a insígnia que, para si, depois do que eram agora o seu Cartão de Sócio e o Red Pass sob o n.º 426, talvez viesse a ser o mais título importante da sua vida.
João Sequeira Andrade foi o décimo quinto director do nosso Jornal, e na altura cumpriu irrepreensivelmente a sua missão durante centro e vinte edições consecutivas, entre os números 2609 e 2728, que foram publicados de 14 de Outubro de 1992 - ainda o Presidente Jorge de Brito não tinha chegado a metade do seu único e infeliz mandato - até 21 de Janeiro de 1995, quando Manuel Damásio completava o primeiro ano do primeiro dos seus dois erráticos consulados.
O Jornal oficial do Sport Lisboa e Benfica era então publicado às quartas-feiras; tinha um formato diferente (apenas vinte e quatro páginas, mas sete centímetros mais 'comprido') do que é hoje; já era graficamente composto em computador, embora - característica do tempo - constituísse o único meio regular da comunicação oficial do Clube.
Nessa altura ainda não havia SAD, e muito menos estava então criada a SGPS, que só mais tarde ainda - em Fevereiro de 2001 - viria a assegurar o sagrado principio de que o Clube havia de deter para sempre o controlo da Sociedade para o Futebol... Os tempos era outros e bem mais difíceis do que são hoje.
É nessa fase conturbada e desportivamente nada fértil que o experiente jornalista Sequeira Andrade se vê obrigado, pela sua consciência, a aceitar a missão de dirigir o Jornal O Benfica, no seguimento dos serenos mandatos dos seus antecessores directos, José Respício (117 edições) e António Ramos Gomes (interino, 3 números).
Em face do que se passava no universo do Clube e sem grandes motivos para manter olimpicamente o registo sempre elogioso do Jornalismo do semanário, propõe uma decisiva alteração estratégica do modelo: João Sequeira Andrade leva a que a Redacção do Jornal se passe a concentrar de modo prioritário na descrição mais objectiva e enxuta dos jogos, das equipas, dos jogadores e atletas (ah, o seu Atletismo!...), privilegiando a sobriedade descritiva de desempenhos, perfis e resultados dos conjuntos e protagonistas, em detrimento do tom meramente eloquente e predicatório das narrativas dos repórteres e dos espaços de opinião, até então sempre usuais nos textos das primeiras cinco décadas do nosso Jornal. Naquela época tão difícil e incaracterística do Glorioso, essa sábia e hábil intervenção que, com a sua experiência, Sequeira Andrade inculcou na Redacção revelar-se-ia oportuna e decisiva para resgatar o essencial desempenho informativo do Jornal O Benfica e a sua recredibilização junto dos leitores. E, ao assegurar definitivamente um novo registo de rigor quanto aos factos e dados jornalísticos, Sequeira Andrade talvez não imaginasse quão determinante essa sua 'marca de água' viria a tornar-se, relativamente às futuras aventuras do Centro de Documentação e Informação e do próprio Museu Benfica - Cosme Damião, no Grande Benfica do séc. XXI."

José Nuno Martins, in O Benfica

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