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sexta-feira, 29 de novembro de 2019

"PÁSSARO" FUGIU...


"O melhor Benfica não teve azar... ai o poder atlético! Jorge Jesus fazedor de campeões (friso o que mais lhe admiro). 'Estrelinha' pagou agora tanto que lhe devia...

Melhor Benfica deste 1.º terço da época esteve pertinho do muito difícil: vencer em casa do forte Leipzig, líder do grupo e 2.º na liga alemã. O melhor Benfica, com ganas, rigor táctico, estratégia. Teve o pássaro nas mãos: vantagem de 2-0 a escassos minutos do final! E deixou-o fugir! Não falem em azar; sim no mérito germânico, em poderosa cavalgada - mudando o seu modelo de ataque para consecutivos cruzamentos sobre a grande área -, e na habitual inferioridade benfiquista quando é preciso apelar a... poder atlético. Estatura, peso, músculo no choque - desde logo, e muito, o meio-campo, nas refregas por posse de bola, sem a qual quase sistematicamente se anda... para trás; e tanta constante alta pressão sobre a retaguarda estava mesmo a ver-se que iria dar naquilo: penálti indiscutível (outro, na 1.ª parte, cometido por Grimaldo, passara em claro) e rasgão no centro defensivo no cabeceamento para empate.
O melhor Benfica desta época, tendo roçado crucial triunfo, foi insuficiente.

Jorge Jesus. Que é grande treinador já todos sabíamos. Várias vezes lhe critiquei, e com firme dureza, despautérios de egocentrismo. Sempre separando essa nefasta característica dos rasgados elogios à extraordinária qualidade técnica/táctica. O que acaba de fazer no Flamengo, em fulgurante mão cheia de meses! - antes de conquistar a Champions sul-americana (!!!), virou atraso de 8 pontos, à sua chegada, em avanço de 13 (!) sobre o Palmeiras que, com Scolari, era campeão; Scolari teve de sair, face à brutal ultrapassagem... -, plenamente confirmou, no dificílimo ambiente do Brasil para um treinador estrangeiro, o que há muito vejo em Jorge Jesus: fazedor de campeões!
Agora, no Flamengo, histórico gigante, mas quase esquecido do seu último título, reergueu Rio de Janeiro, futebolisticamente há muito a pão e água, e deixou a léguas as habitualmente poderosas equipas de Porto Alegre - vide Grémio do rezingão Renato Gaucho, que levou uma sova de 5-0 numa meia-final! -, tal como todos os grandes rivais paulistas; do Palmeiras ao Corinthians, passando pelo Santos. Monumental banho! Épico, face ao ponto de partida! Sim, fazedor de campeões. Assim foi no Benfica, que somava anos de jejum e com ele venceu logo na 1.ª época (o mais esfusiante futebol que Portugal viu em largos anos); dos fracassos, até mais 2 títulos consecutivos, falarei a seguir. E assim quase foi no Sporting por ele vigorosamente ressuscitado para ambicioso futebol de ataque (na 1.ª temporada, vice-campeão, num renhidíssimo duelo que obrigou o Benfica de Rui Vitória a recorde de pontos!; depois, enorme turbulência sportinguista ter-se-á tornado insuperável...).
Friso o que mais admito em JJ e define um treinador: a sua capacidade para transformar jogadores medianos em excelentes. Exemplos não faltam. De Di Maria, bailarino para a bancada, fez craque a sério. A Fábio Coentrão salvou carreira: não passaria de pseudoartista como avançado (andava de empréstimo em empréstimo...) virou-o em forte defesa esquerdo (rumo ao Real Madrid!). Matic chegou à Luz como n.º 8; pela mão de JJ, a quem várias vezes agradeceu, tornou-se estupendo n.º 6 (e, de seguida, o preferido de... José Mourinho). Para mim, ainda mais espectacular: Enzo Perez, de banalíssimo extremo-direito para muito bom... médio central! (titular na Selecção argentina e, claro, no River Plate - tão bem se percebe porquê, na véspera da grande final, Enzo adjectivou JJ como monstro da táctica e, antes de começar o jogo, para ele correu num comovido abraço que disse tudo. E com que treinador teve Bas Dost o seu apogeu?... E Gabigol, puro fiasco no Milan e, em 6 meses, no Benfica?...

Minuto 90+2. Para conquistar o troféu que todo o futebol sul-americano mais deseja (Flamengo levava 38 anos sem o vislumbrar!...), Jorge Jesus teve a estrelinha que lhe virara costas no célebre final de época em que, de rajada, perdeu título nacional e Liga Europa... em ambos os casos ao minuto 90+2. No Dragão, naquele pontapé que Kelvin, vindo do banco, nunca arrancara - e a sua carreira por aí se ficou (escassos minutos antes, JJ falhara ao pôr em campo Roderick, réu no início do lance decisivo?; em tais circunstâncias, visando segurar título tão à vista, sensata decisão para qualquer treinador). De imediato: final com o Chelsea (excelente exibição de ataque, num Benfica de raiva), 1-2 quando cabeçada de Ivanovic, num canto, prosseguiu fatídica sina do minuto 90+2... E eis que, em Lima, aos 89 e... 90+2, a tal estrelinha pagou a JJ o muitíssimo que lhe devia!"

Santos Neves, in A Bola

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