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quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

"ESTOU A APRENDER COM OS MELHORES"


FUTEBOL
O jovem lateral-direito já leva 15 jogos pela equipa principal do Benfica.
Aos 18 anos, Tomás Tavares tem sido uma das apostas da formação encarnada para a equipa principal do Benfica nesta temporada e assume que está a viver um sonho. Numa extensa entrevista ao jornal A Bola, o jovem lateral-direito fala da estreia, do treinador Bruno Lage e revela os planos para o futuro.
No jogo Benfica-Famalicão, na Luz, para o campeonato, dois dos golos tiveram intervenção direta do Tomás Tavares. Terá sido esse o melhor jogo desde que chegou à equipa principal?
Sim, provavelmente terá sido o meu melhor jogo. Senti-me com muita confiança e as coisas foram saindo com naturalidade.
Correspondeu melhor àquilo que o treinador Bruno Lage pede para concretizar durante os jogos?
O míster pede sempre aos laterais para subirem e participarem, mesmo que seja numa segunda vaga no ataque da equipa. Contribui bastante para depois a equipa chegar aos golos ou dar origem a iniciativas perigosas.
Como tem sido a integração no plantel? É o mais jovem do onze que tem jogado agora com mais regularidade...
Tem sido muito boa, estou a sentir-me bem, sinto que os meus colegas acolheram-me bem e fazem-me sentir sempre confortável em todas as situações e claro que isso ajuda bastante. Sendo eu o mais novo é normal que procurem transmitir-me segurança, confiança para as coisas saírem com naturalidade e isso claro que me deixa confortável.
O facto de ser o caçula da equipa dá-lhe mais exigência, mais pressão, ou mais liberdade?
Mais liberdade. O facto de ser o mais novo não é desculpa para eventuais erros que possa cometer durante os jogos, mas sinto que quer as coisas corram mal ou bem os restantes companheiros estão sempre a apoiar e isso ajuda-me bastante, deixa-me bastante tranquilo.
A estreia pelo Benfica foi precisamente na Liga dos Campeões, contra o Leipzig. Como é que foi vivido esse momento?
Foi a concretização de um sonho. Não podia ter pedido estreia melhor do que na Liga dos Campeões e ainda por cima no Estádio da Luz, perante os nossos adeptos. Pena o resultado não ter sido o melhor. Houve algum nervoso miudinho ao início, mas depois com o decorrer do jogo acho que fiquei mais tranquilo e as coisas, a nível individual, saíram bem. Infelizmente não conseguimos o resultado que queríamos, mas no final a felicidade pela estreia foi a memória que guardei.
Quando soube que ia jogar a titular nessa partida, houve borboletas às voltas na barriga, o tal nervoso miudinho como se diz?
Sim, é natural que isso aconteça um pouco. Até porque foi assim de repente, soube no dia do jogo... Mas a nossa obrigação é estarmos preparados sempre para quando o míster nos chama. Agora, essas borboletas no estômago... sentem-se sempre.
Como lateral em que estilo de jogo se enquadra melhor, numa vertente mais ofensiva ou mais defensiva?
Mais a atacar, sinto-me bem nessa vertente mais ofensiva e procuro ajudar sempre que posso nesse capítulo.
Muito embora não tenha ainda golos ou assistências...
Não... não sou propriamente um avançado. Mas, como disse há pouco, tento contribuir para dar origem a jogadas ofensivas, no jogo com o Famalicão estive em dois dos golos. Mas o mais importante é a exibição da equipa. Não me importo nada de não ter assistências nem golos desde que a equipa vença e jogue bem e eu dê o meu contributo para isso. Fico contente com isso.
Não tendo feito a pré-época, devido à presença no Europeu Sub-19, estava à espera da notícia de que iria integrar o plantel principal? Qual foi a sensação?
Não estava à espera, confesso. Cheguei mais tarde, como disse, e era suposto integrar o plantel da equipa B. Quando me ligaram a dizer que estava nos planos para entrar na equipa principal fiquei muito feliz, liguei logo à minha família e claro que foi um momento de muito orgulho.
Foi um salto quase direto dos Sub-19 para a equipa principal, praticamente sem escala na equipa B. Sente que aconteceu tudo muito rápido, saltando etapas?
Na formação do Benfica trabalha-se a pensar no futuro e preparam-nos para chegarmos da melhor forma à equipa principal e para estarmos preparados quando essa oportunidade surgir.
E este foi o momento certo?
O momento certo para mim pode não ser o mesmo para quem decide... Aconteceu agora, ainda bem para mim que foi assim e sinto que estava preparado.
Houve um acompanhamento ao longo da carreira, sentia que estava a ser observado e avaliado ao longo das etapas da formação?
Mais ou menos... É assim, quando estamos nos Sub-15 ou nos Sub-16 não nos dizem que o objetivo é chegarmos à equipa principal. Pedem-nos trabalho, mas é claro que nós sonhamos com isso, com o momento em que teremos uma oportunidade para chegar à primeira equipa. Mas sem trabalho nada se consegue. Depois, quando se consegue atingir esse objetivo, como foi o meu caso, naturalmente que há um grande orgulho.
Está a concorrer diretamente com André Almeida, que é capitão e uma das referências da equipa. A responsabilidade é maior?
É uma competitividade saudável, que faz com que tenhamos um plantel mais forte. É bom ter mais de um jogador a lutar pela titularidade em cada posição. Claro que o André é um grande jogador, tem muita história neste clube e aquilo que posso dizer é que é um orgulho ter essa competitividade saudável com ele.
Dá-lhe conselhos, procura ouvir as recomendações que possa ter para dar?
Sim, ajuda-me bastante. Por vezes até em tons de brincadeira, mas sei que alguma coisa de que precise ele ajuda sempre e deixa-me confortável.
Qual foi o ensinamento que reteve dele, alguma mensagem que lhe tenha passado?
Diz-me para fazer o meu jogo, que se estou aqui é porque tenho qualidade e que as coisas irão surgir naturalmente.
Nos escalões de formação e até nas seleções jovens, tem muitos jogos também como lateral-esquerdo. Há alguma preferência entre jogar à direita ou à esquerda?
Estou à vontade em ambos, fiz vários jogos a lateral-esquerdo também, inclusive no Europeu Sub-19 em que joguei mais na esquerda. Claro que há ligeiras diferenças, nomeadamente nos cruzamentos com o pé esquerdo, que não é o meu pé dominante, mas se tiver de jogar nesse setor creio que o consigo fazer sem problemas.
Se o míster dissesse que era preciso jogar no lugar do Grimaldo não ficaria mais pressionado por causa disso...
É um cliché dizer que jogamos onde o míster disser, mas sim, sinto-me capaz de ocupar outras posições.
Que ensinamentos transmite Bruno Lage? Para quem chega da formação é uma almofada de conforto saber que encontra ali um treinador que também passou pela formação do Benfica?
É claro que é sempre um fator mais a nosso favor, ter um treinador que nos conhece melhor. No meu caso particular sinto que foi um treinador que me ajudou bastante, acreditou em mim, diz-me sempre para jogar tranquilo, ser feliz em campo e se assim for as coisas correm bem.
O Benfica atravessou um período em que recebeu algumas críticas devido a exibições que não correspondiam às expectativas. O que transmitia Bruno Lage nessa altura, qual era a mensagem?
Disse sempre para estarmos tranquilos, para acreditarmos em nós, para fazermos o nosso jogo e sermos felizes, pois é isso que nos faz crescer e conseguir jogadas boas que podem dar golo. Fez-nos perceber que temos qualidade para jogar bom futebol.
Desde que Bruno Lage entrou o Benfica tem feito percurso brilhante no campeonato, com vários recordes à mistura a serem atingidos. O balneário olha para esses dados estatísticos ou são situações que passam ao lado?
Ficamos contentes por contribuir para atingir esses recordes, mas não é algo que nos guie, não jogamos para bater recordes, jogamos para nós, porque queremos ganhar. Importante é isso, ganhar. Mas ganhando sempre é natural que se atinjam determinadas marcas importantes. Ficamos felizes quando isso acontece, é sinal de que o nosso futebol está no bom caminho e dá-nos alento para fazermos mais grandes exibições como temos feito até agora.
Ficou algum amargo de boca pelo percurso na Liga dos Campeões e por o Benfica não ter conseguido o apuramento para os oitavos?
Queríamos chegar o mais longe possível também na Liga dos Campeões, infelizmente não conseguimos. Mas temos de estar com a cabeça no lugar. Não podemos dizer que somos os piores por não termos passado na Liga dos Campeões, até porque mesmo assim fizemos também vários bons jogos nessa prova. Continuamos nas competições europeias, o próximo jogo da Liga Europa ainda vem longe, quando lá chegarmos iremos pensar na melhor forma para defrontar o Shakhtar Donetsk.
Mas sentem que podem chegar longe na Liga Europa, tentar atingir a final?
É como disse, tentamos sempre chegar o mais longe possível. Mas até ao próximo jogo na Liga Europa temos ainda bastantes jogos pela frente, só quando lá chegarmos é que nos iremos preparar para o ganhar.
O Benfica nos últimos anos formou laterais-direitos como João Cancelo e Nélson Semedo. Vê-se a seguir as pisadas deles a nível de carreira internacional ou de Seleção?

Espero que sim. São grandes jogadores e estão a conseguir carreiras muito boas, tanto o Cancelo como o Nélson Semedo. Mas claro que é uma responsabilidade muito grande tentar estar ao nível deles. Mas encaro isso sem pressões. Sei que estou num clube que me ajuda bastante a evoluir, ainda tenho muito para aprender, sou novo, mas também sei que estou no melhor sítio e a aprender com os melhores jogadores e com a melhor equipa técnica. Sinto-me bastante confiante para continuar a aprender e a evoluir cada vez mais.
Vê-se a ir ao Marquês lá para maio?
Sim... Mas ainda temos muitos jogos, muito campeonato pela frente. E temos que nos guiar pelo exemplo da época passada, em que o Benfica esteve sete pontos atrás do líder e foi campeão. É como diz o míster, pensar jogo a jogo, ter os pés bem assentes na terra. Mas claro que seria momento bastante especial ir ao Marquês desta vez como jogador. Já lá estive como adepto.
Se há um ano lhe dissessem que em breve seria titular na equipa principal do Benfica acreditaria?
Provavelmente iria rir... Até porque no ano passado não cheguei a estrear-me pela equipa B. Mas como sempre disse, temos de estar preparados para quando as oportunidades surgirem. Se não tivesse trabalhado, se não estivesse preparado as coisas não teriam acontecido como estão a acontecer. Estou feliz com o que está a acontecer.
João Félix é um exemplo que tentam seguir...
Claro que o vemos como exemplo da aposta que o Benfica tem feito na formação. É alguém que esteve e jogou connosco e nesse sentido é um orgulho poder vê-lo estar onde está agora e constatar os valores pelos quais saiu. Tem muita qualidade. Pensamos sempre que pode acontecer algo semelhante connosco. No meu caso estou muito bem aqui no Benfica e penso apenas no que posso conseguir neste clube.
De central a lateral-direito
Está há dez anos no Benfica. Quais eram os sonhos quando aqui chegou?
Sempre foi o de poder ser jogador profissional, chegar à equipa principal. E estando no Benfica sentimos sempre que temos melhores condições para concretizar os nossos sonhos e concretizar as ambições de poder chegar aqui.
Quais foram os treinadores que o marcaram mais durante as etapas da formação?
O míster Luís Araújo, quando era Sub-16, e também o míster Renato Paiva, que foi com quem comecei a jogar mais.
Que mensagens transmitiam, que ensinamentos reteve deles?
Éramos mais novos, miúdos que tudo o que queríamos era jogar. Pediam-nos para nos divertirmos, para sermos felizes dentro de campo, para nos ajudarmos e não termos medo de nada, pois tínhamos qualidade para mostrar o nosso futebol.
Qual foi o momento em que houve o clique, o perceber que aquilo que pretendia para o futuro era ser futebolista?
Desde muito pequeno que aquilo que queria era ser jogador. Há sempre aquele bichinho da bola, sonhamos ser profissionais de futebol... Claro que há uma altura em que as coisas começam a ser mais sérias e a ter consciência de que estamos perto de atingir esse objetivo. A partir daí foi continuar a trabalhar e nunca baixar os braços mesmo perante alguma adversidade, nunca desistir do nosso sonho.

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