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sábado, 28 de março de 2020

QUARENTENA


"Levado à letra, Almada Negreiros estava enganado. Aos portugueses, tendo todos os defeitos, não é necessário a coragem por só lhes faltarem as qualidades para serem um 'povo completo'. A forma ordeira empenhada e quase massificada com que a recomendação de distanciamento social foi acolhida e respeitada contradiz esse pessimismo acerca de Portugal, não obstante o previsível bota-abaixismo que se seguirá, afinal uma das actividades predilectas dos nossos tempos livres.
Teremos, porventura, limitações de toda a espécie, mas compensamo-las com resiliência, voluntarismo e serenidade, entre outros, além da propensão para um certo fatalismo que, embora geralmente indutor de entropias várias, é agora, em tempos de crise extrema como a que vivemos, uma virtude. Aceitar a inevitabilidade de consequências nefastas será o primeiro passo para combatê-las e, pelo menos, mitigá-las. Haveremos de enveredar por um chorrilho de acusações, mas no final do dia interessarnos-á, sobretudo, que possamos juntar-nos à mesa para convivermos, comermos, bebermos e desdenharmos seja lá o que for.
E há o Sport Lisboa e Benfica, exemplo bastante para refutar a tal citação do Almada, pois foram portugueses que o criaram a desenvolveram, inspirados numa visão utópica, logo incumprida, mas continuamente perseguida e almejada.
Cada benfiquista tem uma visão para o Benfica, sabendo que o nosso querido clube estará sempre aquém do que projectamos para ele. Nesta catástrofe, a acção da Fundação Benfica e das Casas do Benfica, os planos de contingência e sua imediata implementação no Clube e avultada doação ao Serviço Nacional de Saúde aproximam o Benfica, indubitavelmente, da minha visão do Benfica."

João Tomaz, in O Benfica

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