"Podemos justificar o futebol paupérrimo que o Benfica tem apresentado com equívocas tácticos, erros estratégicos, com lesões e declínio de forma de alguns jogadores-chave. Certamente, todos estes factores têm contribuído para as más exibições e piores resultados. Contudo, a explicação de fundo é outra.
Tal como aconteceu na época em que o Benfica perdeu o penta, o planeamento desta temporada foi descuidado e, uma vez mais, deixou entrever alguma soberba na política desportiva. Só isso pode explicar que, numa fase decisiva não exista solução alternativa, minimamente competitiva, para nenhuma das cinco posições da defesa. Se é assim com campeonato e Taça, imagine-se o que seria se fosse para levar a sério a tão propalada ambição europeia. Como bem demonstram os extraordinários resultados financeiros, o problema não é falta de recursos. Logo, terá de ser outro.
Há, desde logo, um padrão. Nas últimas temporadas, de cada vez que o Benfica perde um jogador fundamental, demora-se demasiado tempo a encontrar um substituto. No ano do tetra saíram Ederson, Lindelof e Nélson Semedo e foi preciso esperar pela temporada seguinte para contratar Vlachodimos, ainda não se contratou um substituo para a lateral direita e nos centrais recorreu-se, com sucesso desigual, à formação. Aliás, o padrão é mesmo esse: o Benfica olha para o Seixal primeiro. E faz bem em fazê.lo. Só que não pode ficar paralisado quando manifestamente não há na formação jogadores de qualidade prontos para a equipa principal.
Ainda mais extravagante é a directriz não escrita que recomenda que nunca, em circunstância alguma, se invista significativamente em defesas (a excepção na última década foi Morato - que claramente ainda não está preparado para outros voos). Ora, não é necessária particular astúcia para se compreender que contratar defesas não só era necessário desportivamente como, aliás, até é um investimento que recompensa financeiramente (pense-se nas vendas de David Luíz, Lindelof e Nélson).
Além do mais, este ano, contra todas as evidências, não se procurou um substituto para Jonas e João Félix (dois jogadores determinantes na manobra ofensiva). De facto, o Benfica investiu quase 40 milhões em De Tomas e Vinícius, avançados de perfil bastante diferente. Só que, entretanto, Lage manteve o sistema que dependia de Félix (e, antes dele, de Jonas). A consequência tem sido evidente: não mais o Benfica se encontrou em organização ofensiva e estamos em Março e já foram testadas todas as possíveis combinações possíveis do meio-campo para a frente.
Como o último fim de semana deixou claro, o título está completamente em aberto. Mas, como ficou também evidente, o Benfica não lidera este campeonato porque não soube ou, pior, não quis planear a época no Verão."
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