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segunda-feira, 1 de junho de 2020

BENFICA ATÉ DEBAIXO DE ÁGUA


"Um adepto do Benfica preferiu ficar com a cabeça à chuva do que usar um barrete dos holandeses

Dias antes do Benfica defrontar o Feyenoord para a 1.ª mão dos quartos de final da Taça dos Clubes Campeões Europeus 1971/72, o treinador dos holandeses, Ernst Happel, teceu declarações acerca dos 'encarnados' que inflamaram o ambiente da partida, 'uma perfeita mistificação futebolística, que não passava de equipa medíocre, de onze cultivado tecnicamente e ao nível de uma escassa instrução primária'. As palavras do técnico criaram enorme mal-estar junto dos adeptos benfiquistas e foram um tónico para os jogadores, que entraram em campo motivados para provar o contrário.
Com um excelente início de jogo, 'o Benfica meteu num chinelo o Feyenoord', contudo, por falta de acerto dos atacantes 'encarnados', a partida terminou com a vitória dos holandeses por 1-0. A boa imagem deixada pelos portugueses fez com que, no final do encontro, o treinador adversário se retratasse: 'estou, sinceramente, arrependido daquilo que disse sobre o Benfica (...) é muito mais forte do que pensava'.
Porém, o orgulho dos benfiquistas estava ferido. Não havia nada a fazer! Na 2.ª mão, os adeptos prepararam uma recepção monstruosa: «o Estádio da Luz, que apresentava o aspecto ciclópico de uma das suas maiores enchentes, o 'velho Benfica'. O Benfica das noites de gala europeia». Se nas bancadas os 'encarnados' apresentaram a sua melhor versão, em campo também não foi diferente. A equipa entrou muito forte e precisou apenas de cinco minutos para inaugurar o marcador.
A chuva intensificou-se e, na bancada à frente das cabines da rádio, estava 'um garoto que assistia ao jogo, ao lado de um holandês que obviamente se 'despistara' do seu lugar'. Ao aperceber-se que o miúdo tinha a cabeça encharcada, o rival ofereceu-lhe o seu barrete. No entanto, o 'rapaz olha para a barrete, lê o dístico «Feyenoord» e esboça um sorriso amarelo e recusa'. O holandês insistiu e o garoto 'acabou por aceitar, mas continuou com a cabeça descoberta à chuva'. Há feridas que demoram a sarar!
Em campo, os 'encarnados' responderam com golos à provocação do técnico holandês, marcaram três golos em 'quinze minutos de ouro e de aço (o ouro da técnica e o aço da determinação) (que) perdurarão por muitos anos na memória de mais de setenta mil pessoas', triunfaram por 5-1 e apuraram-se para a fase seguinte.
Nessa época, o Benfica sagrou-se campeão nacional. Saiba mais na área 6 - Campeões Sempre no Museu Benfica - Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica

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