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sábado, 3 de outubro de 2020

NÓS, OS ADEPTOS PERIGOSOS



 "Sempre que podia ir ao estádio ver o SL Benfica, fazia-o na companhia de bons amigos e dos seus filhos. Somos malta entre os 15 e os 60 e tais, gente que se exalta, que vibra, que diz uns disparates, mas que não faz mal a ninguém, nem deixa que a violência seja uma realidade nas bancadas. A maioria de nós, que vamos aos estádios, é assim: adeptos fervorosos dos seus clubes, mas pacíficos. Claro que damos uns abraços quando o Benfica marca - e uns high five entre nós e aos desconhecidos que estão por perto. Às vezes lá vai uma cerveja sem álcool entornada degrau abaixo. E até já houve um dia em que uma queijadinha de Sintra saltou do pacote e foi aterrar no colo de um adepto mais idoso, duas filas acima.

Não fazemos parte daquela franja de delinquentes que assaltam bombas de gasolina, que perseguem adeptos de clubes rivais, que marcam encontros para andar à pancada, que ameaçam árbitros, que invadem academias, que picham paredes de casas de treinadores e jogadores quando as coisas não correm bem, que atropelam, espancam e matam outras pessoas por defenderem uma cor diferente. Não são esses, mas nós - os totós dos abracinhos a desconhecidos -, os grandes responsáveis pela falta de público nas bancadas dos estádios de futebol portugueses. Só pode! É porque aos criminosos quase nunca lhe foi proibida a  entrada num recinto desportivo. Já a todos nós, sim. E todas as semanas continuamos a não poder apoiar a nossa equipa, porque podemos aproximar-nos demasiado uns dos outros. Venho por isso pedir-vos desculpa por estes comportamentos que, pelos vistos, têm impedido o regresso do público aos espectáculos desportivos em Portugal. Maldita queijadinha."

Ricardo Santos, in O Benfica

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