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domingo, 1 de novembro de 2020

«O CONHECIMENTO DO DESPORTO É A CHAVE DO CONHECIMENTO DA SOCIEDADE»

 


“O conhecimento do desporto é a chave do conhecimento da sociedade” – Esta frase é da autoria do sociólogo alemão Norbert Elias (Sport et civilisation, 1994, p. 15). De facto, longe de ser uma simples atividade motrícia, o desporto está investido de funções, de papéis e de missões inscritas(os) nos valores da sua organização e do seu desenvolvimento. O desporto moderno está associado à ideia de progresso, de equidade ou de pureza. Estabeleceu-se um consenso em torno dele, prestando-lhe tributos e justificando o desenvolvimento da sua prática. Mas esta ideia de pureza implica lutar contra a corrupção, a violência, a dopagem, etc., no sentido de preservar esta caraterística. É interessante anotar aqui o juramento dos atletas olímpicos: “em nome de todos os competidores, prometo que participaremos nestes Jogos Olímpicos, respeitando e cumprindo as normas que os regem, comprometendo-nos a um desporto sem dopagem e sem drogas, com o verdadeiro espírito do desportivismo, para glória do desporto e em honra às nossas equipas”. A história ulterior dos JO mostrou os limites da eficácia deste juramento, portanto ainda pronunciado, mas releva hoje mais do folclore. Nas suas memórias olímpicas, Pierre de Coubertin destacaria:

“Ó Desporto
Tu és a paz,
Tu estabeleces as relações felizes entre os povos.
Por ti, a juventude universal aprende a respeitar-se e a diversidade das qualidades nacionais tornam-se uma fonte generosa e pacífica emulação”.
Em 1936, um ano antes da sua morte, Pierre de Coubertin completa o seu discurso, solicitando que a elite construída graças ao desporto seja cavalheira. Repetiu que o desporto era um combate que permitia desenvolver uma rivalidade entre os homens e as suas nações. Os valores da rivalidade e de competição estão no coração do projeto educativo do pai do olimpismo moderno. O seu sucesso foi a oportunidade e a faculdade de transformar o velho em novo, mas também do conhecimento aprofundado dos arcanos do poder público da época.
Os anos passam e a relação de forças continua entre o Comité Olímpico Internacional (CIO) e as federações desportivas internacionais e entre os homens do CIO e os regimes políticos. Independentemente de se tratar de países democráticos ou de regimes totalitários, o uso político do desporto não oferece grande contestação. E conhecê-lo é conhecer a sociedade.
Referências:
Coubertin, P. (1912). Revue olympique, décembre, 179-181.
Elias, N. (1994). Sport et civilisation. La violence maîtrisée. Paris: Arthème Fayard.

Vítor Rosa, In a Bola

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