"Na primeira viagem olímpica do basquetebol angolano, dois benfiquistas fizeram parte da equipa
No verão de 1992, José Carlos Guimarães e Jean-Jaques foram chamados pela sua terra natal para os Jogos Olímpicos de Barcelona. Foi uma tripla estreia, pois nenhum tinha participado numa prova olímpica, tal como o basquetebol angolano.
O país, campeão africano, foi o quinto a representar o continente-berço no basquetebol masculino dos Jogos Olímpicos, sendo a única seleção africana a fazê-lo entre 1992 e 2008.
O sorteio deu-lhe como adversários a Croácia, a Alemanha, o Brasil, a Espanha e os Estados Unidos da América, com quem calhou jogar na primeira jornada. O basquetebol norte-americano estava nos píncaros na década de 90 com a dream team, onde figuravam Magic Johnson e Michael Jordan.
Embora tenham perdido por 116-48, os angolanos foram aplaudidos pelo 'seu forte espírito'. Para eles, foi 'um sonho', segundo Guimarães: 'Um dia vou poder dizer aos miúdos: e joguei contra o Magic Johnson!'
Na jornada seguinte, Angola perdeu pela diferença mínima frente à Alemanha (63-64) e vinha a ser 'motivo de chacota da imprensa espanhola'. Os espanhóis manifestavam que Angola 'praticava um básquete primitivo' e que só ali estava 'porque era obrigatória a presença de representantes de todos os continentes'.
Num autêntico plor twist, Angola derrotou a Espanha por 83-63, fenómeno que ficou conhecido como 'el Angolazo'! Jean-Jaques e Guimarães foram os melhores marcadores da partida, encestando 22 e 18 pontos respectivamente. Juntos, semearam o escândalo no país anfitrião, que ficou fora da corrida às medalhas. Para os espanhóis 'foi o fim': consideram o basquetebol espanhol um lixo ao mesmo tempo que condescendiam perante os angolanos, pois perder contra uma selecção com três profissionais era 'más cómico que trágico'. Os 'veinte puntos de venguenza' valeram 'uma humilhação espanhola'.
Na fase de grupos, Angola acabou à frente de Espanha. Na lua pela 9.ª posição, bateram ainda a selecção Chinesa (79-69). Terminaram a prova em 10.º lugar nos Jogos Olímpicos, depois de sofrerem a desforra espanhola (75-78), num jogo que Jean-Jaques afirmou não ter sido 'de basquetebol', mas sim de futebol americano'.
Os jornais falavam dos atletas angolanos 'como se tratasse de ganhadores olímpicos', ofuscando, por vezes 'os basquetebolistas americanos'. Com Guimarães e Jean-Jaques no comando, 'dignificaram o nome do seu país e da modalidade', contando com 'honras especiais de primeira página', entre os melhores do mundo.
No Museu Benfica - Cosme Damião, pode saber mais sobre as estrelas da dream team do Benfica na área 4 - Momentos Únicos."
Pedro S. Amorim, in O Benfica
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