"Fracasso a toda a linha, a temporada do SL Benfica pode acabar em lampejo de sucesso, com a Taça de Portugal, prova válida mas de pouco volume dada as expectativas do universo benfiquista.
A um plantel apetrechado por 100 milhões de euros de investimento a todos os setores, melhorando (e muito) um plantel de consumo interno herdado do antecessor, a Jorge Jesus caberá agora nova reestruturação da equipa – ao jackpot prometido que chegaria da Liga dos Campeões e posteriormente encaminhado para cofres gregos concilia-se a falta de garantias quanto ao próximo prémio, situação caricata que expõe a fragilidade das finanças encarnadas e obriga a concentrar atenções na matéria prima a seu dispor, sob contrato.
Repetir as grandes movimentações ao estilo do Verão passado é miragem dependente de uma precoce mas competente performance desportiva, alta rotação exigida logo em agosto sob pena de não comprometer mais um planeamento e evitar outra venda desesperada como foi a de Rúben Dias. É nestas condições, sem regalias, que os benfiquistas se prepararão. Os mesmos luxos serão, assim, irrepetíveis para já.
Sem certezas nem garantias, a duas eliminatórias de distância, há que arrumar a casa e varrer o excesso de salário ou, pelo contrário, de falta de compromisso com o clube. A nível de contratos a prazo só Jardel, situação previsível dada a decadência da forma física do brasileiro que deu tanto ao clube em dez anos, mas que sai com o sentimento de dever cumprido.
A massa adepta assim o reconhece, entregando-lhe o respeito que não entregou a outros, mais espampanantes mas com metade do brio. Em situação semelhante encontra-se Andreas Samaris, ainda que o seu contrato se prolongue até 2023 – por agora, recupera de lesão impertinente na duração e gravidade.
Um dos nomes na porta da saída por opção poderá ser Jan Vertonghen, o central belga que viu recentemente o seu nome a ser incluído dos 26 “Diabos Vermelhos” belgas que tentarão a sua sorte no Euro 2020 – ele, como capitão, seguirá viagem com o futuro clubístico certamente ainda por definir.
Chegado ao SL Benfica em agosto de 2019 depois do término de contrato em Londres, a mudança surpreendente foi justificada, pela imprensa, como conjugação ousada entre tentação quanto a nova experiência cultural, preferência por clube ambicioso e num projeto que o mantivesse à tona da elite europeia – a chamada ao Euro confirmou o SL Benfica como escolha acertada, apesar da fraca época global.
Contudo, apesar do contrato de três anos e das 40 participações em campo (primeiro lugar na tabela de minutos jogados), viu o futuro ser ameaçado pela chegada de Lucas Veríssimo. O brasileiro obrigou a equipa a mudar para um sistema de três centrais e não é certo que assim se mantenha na próxima temporada.
A Vertonghen interessa sobretudo jogar e ter protagonismo em contexto de Liga dos Campeões, chamariz dos grandes craques, e continuar a sua carreira ao mais alto nível, como fez no FC Ajax e ao serviço dos Spurs. E se em Portugal não lhe agradar por muito mais tempo a convivência do Seixal, há sempre uma porta aberta em Amesterdão.
Aliás, em fevereiro de 2020 era essa a mais forte hipótese como destino de Jan Vertonghen em 2020-21, quando até Erik Ten Hag se mostrou complacente com a sugestão. “Jan tem história no Ajax. Claro que vamos seguir a sua situação de muito perto”, afirmava ao programa Rondo do portal Ziggo, principal patrocinador ajacied, rematando de maneira inequívoca – para canto – uma hipotética limitação quanto à sua idade e tendo em conta a prioridade holandesa de valorização do talento jovem: “Neste caso, a idade é uma não-questão. Se alguém é bom o suficiente como ele é, a idade não interessa”.
Outro caso bicudo para a gestão encarnada é o de Luca Waldschmidt, alemão contratado ao SC Freiburg por 15 milhões mas que teimou em consagrar-se como o “nove e meio” pelo qual a equipa implorou em muitas fases – as opiniões divergem quanto à sua capacidade futebolística, numa discussão em que até Jorge Jesus parece entrar. Dos 41 jogos em que foi utilizado, a mediana quantia de 26 titularidades – nas quais foi 22 vezes substituído!
Na Primeira Liga, de possíveis 2430 minutos, completou 1400, tempo que ainda assim lhe permitiu marcar sete golos, que acrescem a dez no total das competições. Não foi, consequentemente, convocado para o Euro 2020, golpe baixo nas suas aspirações, premeditado pela ausência na convocatória dos últimos jogos da qualificação da Maanschaft, em março.
E apesar do seu score internacional desde a chegada a Portugal não parecer vergonhoso (chamado em setembro, outubro e novembro, participando em quatro de oito jogos possíveis – titular duas vezes, em amigáveis com a República Checa e a Turquia), um dos seus objetivos primordiais nesta mudança para a Primeira Liga fica assim comprometido – a grande afirmação em contexto europeu, fora da Bundesliga, para servir como rampa de lançamento para a seleção.
O mesmo se pode dizer de Julian Weigl, ainda que o seu estatuto na equipa se tenha consolidado a partir de janeiro e seja, neste momento, o único com lugar cativo no meio-campo. É, portanto, um dos intocáveis.
Outras incógnitas situações como a de Svilar (que até termina contrato em 2022), Grimaldo (sempre com muitos pretendentes para a compra do seu passe e a possibilidade de gerar encaixe avultado), Gabriel, Cervi (o namoro do RC Celta de Vigo prolonga-se, sem fim à vista) ou Pizzi ainda não foram resolvidas e estima-se que apenas Odysseas Vlachodimos tenha a sua saída consumada.
Ao penúltimo dos citados, cabe a si a decisão perante as evidências – a perda da titularidade no onze, o acumular da idade e a cada vez menor preponderância na manobra da equipa.
Pizzi foi o jogador com mais participações do plantel (47 jogos), porém é uma estatística que não atesta bem a sua desvalorização: apenas 31 titularidades, 19 no contexto da Primeira Liga, números sem paralelo nos últimos sete anos (só comparáveis aos da primeira época na Luz) e que retratam bem a fase de menor fulgor. Altura certa para mudar de ares?
Do onze inicial, Helton Leite, Lucas Veríssimo, Otamendi, Julian Weigl, Rafa, Everton – com um final de época acima da média – e Diogo Gonçalves serão certamente valores seguros na próxima construção do plantel e sob os quais se rodearão as restantes peças do tabuleiro.
A base parece finalmente estar definida para Jorge Jesus, à qual poderemos acrescentar Darwin Núñez, pelas características ao gosto do técnico, e Haris Seferovic, que viu Pedro Gonçalves roubar-lhe o segundo prémio de melhor marcador no sprint final. Ao avançado suíço o futuro ficará definido pela prestação no Europeu: exibições bem conseguidas nas titularidades mais do que prováveis que acrescentará ao currículo internacional e um grande contrato poderá aparecer, numa idade (29) em que são imperativas decisões de futuro imediato, contrabalançado as necessidades profissionais e pessoais. "
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