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sexta-feira, 29 de outubro de 2021

O FUTEBOL NÃO FOI CHUMBADO

 


"Grande jogo de futebol em Guimarães, com Vitória e Benfica a empatarem 3-3 em 90 minutos de futebol de ataque, intenso, de olhos postos na baliza. Os encarnados entraram melhor, mas a mão de Pepa viu-se na subida de nível da equipa da casa depois do intervalo, onde chegou a um resultado que fez por merecer. O Benfica está agora obrigado a ganhar por pelo menos dois ao Sp. Covilhã para continuar na Taça da Liga

Sobre o Vitória de Pepa parecem sempre pairar duas questões: o que seria esta equipa se 1) tivesse mais qualidade individual na defesa e 2) fosse mais eficaz no ataque. É claro que esta é uma daquelas discussões estéreis, o futebol não é um jogo de ses, não há cenários hipotéticos mas sim realidade e a realidade diz-nos, sobre este Vitória, precisamente, que os erros contam quase tanto quanto os golos.
E se calhar é por isso mesmo que os vimaranenses não saíram esta noite do seu estádio já com a qualificação para a final four da Taça da Liga no bolso, num grande jogo de bola em Guimarães, em dia de contas chumbadas, mas de maioria absoluta para o futebol. Se na 1.ª parte o Vitória deu-se à morte com vários erros defensivos, uma passividade pouco compreensível na hora de pressionar um Benfica a jogar com as suas segundas linhas e falta de acerto na frente, depois do intervalo as alterações de Pepa levaram as negociações para outro rumo - sempre para as imediações da baliza de Hélton Leite, leia-se.
Durante os 90 minutos, apenas uma constante: a intensidade e o ritmo fortes, olhos espetados na baliza de parte a parte, num jogo de alta voltagem, com golos, oportunidades, emoção e muito trabalho de treinador - e um empate 3-3 que deixa o Benfica com a obrigação de ganhar por pelo menos dois ao Sp. Covilhã para garantir sem contas a passagem aos jogos decisivos da Taça da Liga.
Com um onze com oito alterações, o Benfica teve em Pizzi e em Radonjic (estreia a titular) as bússolas nos primeiros minutos. O sérvio mostrou-se a Jesus, que nele apostou a ala direito, dando ao encarnados drible e poder de fogo. Logo ao minuto 1, o primeiro aviso, num remate fora da área após cruzamento de Grimaldo. O golo não demoraria, na verdade foi um auto-golo de Alfa Semedo, numa má abordagem após um canto e um desvio de Gonçalo Ramos, ao minuto 8.
Por esta altura o jogo não se encontrava propriamente definido, o golo vinha de um erro individual e o 2.º do Benfica, aos 15’, de um erro coletivo do Vitória, mansinho a defender, pouco comprometido na pressão, a deixar fugir Everton pela lateral, com o brasileiro a encontrar Pizzi no meio. O médio, muito ativo na 1.ª parte, rematou e Bruno Varela talvez tenha também a sua quota-parte de culpa no cartório e nas contas dos erros.
É com o 2-0 que o Vitória começa a acordar, a projetar-se para a frente e é numa dessas tentativas de chegar à área encarnada que João Mário aparece isolado frente a Varela num contra-ataque - o guarda-redes formado do Benfica redimiu-se, ao defender o remate algo trapalhão do médio e logo a seguir o Vitória marcou. Numa jogada de insistência, Rochinha tirou Lucas Veríssimo do caminho, passou atrasado para a área e André André, à segunda, reduziu.
O Vitória entrava então na sua melhor fase na 1.ª parte, galvanizado pelo golo, mas mais uma vez aquilo que a equipa tentava criar lá na frente parecia destruído lá atrás. Aos 28 minutos de um jogo imparável, Pizzi teve todo o espaço à entrada da área, encontrou Radonjic na direita e o sérvio, com um trabalho notável, trocando as voltas a Borevkovic e Alfa Semedo, enviou um míssil de pé esquerdo para a baliza de Bruno Varela. Assim se chegou ao 3-1.
Os erros defensivos pareciam pesar e muito no Vitória, o jogo entrou então numa fase menos interessante, mas tudo mudaria com a última jogada da 1.ª parte, em que um cruzamento tenso de Sacko encontrou a cabeça de Estupiñán entre os centrais do Benfica - e com 3-2, o jogo entrava noutra dimensão.
E que dimensão. A 2.ª parte é toda ela definida e manobrada por Pepa, porque ele assim o quis - leia-se, ganhar - e porque Jesus deixou, protelando alterações enquanto a sua equipa ia ficando mais e mais desconfortável no jogo.
As entradas de Tiago Silva e Quaresma em campo e a colocação de Edwards no meio, ali pelos 60 minutos, deram a bola ao Vitória que partiu então em busca de ser feliz, faltando, ainda assim, a eficácia na área, outro dos clássicos desta equipa onde a qualidade do meio-campo para a frente não falta. Estupiñán ainda marcou aos 69’, mas estava adiantado, e dois minutos depois Quaresma, ainda com muita magia naqueles pés, rematou ao ferro, com Hélton Leite a olhar, confiando erradamente no golpe de vista.
Só então Jesus percebeu que precisava de voltar a ganhar o meio-campo: Weigl saltou lá para dentro, mas por esta altura já o Vitória estava a todo o vapor, olhar completamente em frente. Aos 83’, apareceu o golo que o Vitória já justificava, com Bruno Duarte a emendar à segunda um remate/cruzamento de Rúben Lameiras. Daí até final os lances de ataque repartiram-se, mas sempre com o Vitória a mostrar mais querer, crer e critério - a última cartada de Jesus foi a entrada de Yaremchuk já perto dos descontos, mas do ucraniano viu-se mais trapalhada que perigo e foi de Bruno Duarte a grande oportunidade nos derradeiros minutos, num remate potente que foi ligeiramente acima da barra.
Em suma, uma belíssima noite de futebol de ataque em Guimarães, um empate com muitos golos e o Benfica agora encostado à parede para continuar em prova. Depois da derrota do FC Porto em São Miguel e do susto do Sporting nos minutos finais frente ao Famalicão, esta Taça da Liga que tanto gostamos de criticar está a sair-nos melhor do que a encomenda."

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