"Escrevo ainda "em convalescença" do empate contra o Moreirense. Um empate cedido por culpas próprias, por falta de intensidade em demasiados momentos do jogo e, aqui ou ali, um pouco de azar (outros dirão aselhice), além de um golo incompreensivelmente validado ao adversário com um claríssimo fora-de-jogo. Mas, se bem que desiludido com o resultado, reflexo de um "estado de espírito" que nada augura de bom, na sequência do folhetim "Jesus/Flamengo" e de tudo o que depois sucedeu, não é sobre futebol que quero hoje escrever. Ou se calhar, até é, porque o futebol é indissociável de tudo no Benfica.
Tivemos eleições há escassos 3 meses. Alguém ouviu falar durante a campanha eleitoral na "Cidade Benfica"? Eu não! Ou estaria tão distraído que nem me apercebi? Seja como for, Rui Costa atirou o tema para cima da mesa e obriga-me a escrever umas linhas sobre o tema.
Comecemos pelo princípio, ou seja o Seixal, local que foi escolhido por Vale e Azevedo, depois de polémicas transações com a Euroárea. A Direção de Vilarinho herdou, nas eleições vitoriosas de 2000, este local como o escolhido para erguer a futura Cidade do Futebol do Benfica e, em 2001, em diversas conversas havidas com elementos dessa Direção e Conselho Fiscal (sobretudo com Vilarinho) referi, de forma até veemente, que a localização não seria a mais lógica, exclusivamente pela distância ao Estádio da Luz. Estas conversas terminaram quando, a partir de maio de 2001, LFV entrou no Benfica enquanto Diretor Geral.
Passados mais de 20 anos, para minha estupefação, vejo o assunto regressar de novo à ribalta, curiosamente até com a argumentação por mim defendida em 2001, quando apenas há escassos meses se planos houvesse para o Seixal seriam os de construir novos campos, um Hotel e, pasme-se, uma Universidade… De repente, mudam-se os gestores e equaciona-se a possibilidade de construção de raiz de uma Cidade Benfica (dizem que algures por Sintra), certamente até com uma amplitude bem maior ao juntar outros polos de interesse e, assim nos vamos distraindo do principal: melhorar a qualidade desportiva do futebol e das modalidades, também estas a passar por períodos difíceis do ponto de vista competitivo.
De facto, não consigo ser visionário… Habituado a vidas empresariais, a raciocínios de relação custo vs benefício e de realização de investimentos com análises de pay-back e rentabilidade, tudo isto ultrapassa a minha compreensão. 20 anos depois, em que temos uma obra construída e altamente meritória, vejo gestores a equacionar a demolição do "Benfica Futebol Campus" no Seixal, com argumentos que o Benfica vai fazer milhões com esses terrenos? Alguém me consegue explicar esta lógica, numa altura em que se há certezas são: (i) da incerteza de receitas, num momento de pandemia Covid em que constatamos que nos últimos 2 (dois) anos têm descido significativamente o valor das transferências, a bilhética e a venda de cativos; (ii) que a demolição do Seixal também custaria uns milhões e (iii) que o novo projeto custaria umas dezenas de milhões de euros que nos tempos atuais teria seguramente enormes dificuldades de financiamento?
Não imagino a intenção. Se atirar para o ar uma realidade nova para distrair dos insucessos desportivos, se estão mesmo a falar a sério. Se for este o caso, as perspetivas sombrias de hoje poderão tornar-se em sérios pesadelos amanhã. A não ser que a ideia seja mesmo de termos um qualquer acionista a bancar o investimento e, a prazo, ser questionada a maioria do capital social da SAD.
Por falar nisto, devo dizer que ter um parceiro acionista minoritário não me faz qualquer confusão, quando as vantagens são mútuas. Olho para o Bayern que tem a Allianz, a Adidas e a Audi, cada um com percentagens minoritárias (8,33%). Acordos "win x win", são sempre vantajosos e o Benfica tem de os aceitar, até como consequência do seu futebol profissional estar numa SAD. Por isso não me confunde que apareça um qualquer Textor com 16% ou mesmo 25% do capital. Mas já me confunde o Sr. Textor afirmar que poderá considerar investimentos noutro clube em Portugal (soa a ameaça desnecessária) ou até que não está interessado em investir num Clube em que a sua Direção (Administração) não está alinhada com as suas ideias. Como diz que disse? Quem é afinal o minoritário? Eu, se hoje estivesse nos Órgãos Sociais do Benfica jamais permitiria este tipo de afirmações num potencial Partner e convidá-lo-ia "amavelmente" a afastar-se.
É por estas e outras que o futebol também está como está… andamo-nos a dispersar com o acessório em vez de nos focarmos no essencial: o futebol profissional, a 6 pontos do Sporting e a 9 pontos do FC Porto. Um treinador temporário nomeado como definitivo, um balneário que despede treinadores e ninguém a dar um "murro na mesa" e a dizer: "BASTA"!
Sócio nº 2794"
Também não entendo muito a ideia por detrás da cidade do futebol, que relação vai haver com o Seixal, será mesmo uma substituição? Se sim não vejo sentido. É aguardar as cenas dos próximos capítulos.
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