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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

QUEM QUER SER ÁRBITRO DE FUTEBOL EM PORTUGAL?

 


"A Opinião de hoje é sobre o clássico da passada sexta-feira entre o Futebol Clube do Porto e o Sporting Clube de Portugal.
A avaliação geral deste jogo só pode ser a de que foi um desastre. A GoalPoint demonstrou como o tempo útil do jogo foi de 43 minutos. Num jogo que chegou aos 105 minutos contando com as compensações.
Está tudo dito.
Ainda, segundo a GoalPoint, a média da Liga Portuguesa é de 49 minutos.
Penso que podemos concordar que foi um espetáculo desolador no relvado e fora dele. Não quero falar de aspetos e decisões concretas deste jogo, mas de uma tendência no nosso campeonato que a mim muito me preocupa.
É inegável a constatação que temos craques que jogam nos melhores clubes do mundo e treinadores de enorme qualidade. Fala-se muito da Liga Inglesa: basta pensarmos em Diogo Jota, Bernardo Silva, Bruno Fernandes e outro Bruno, desta feita, Lage.
Mas, para além de jogadores e treinadores, a pergunta que me inquieta é esta: temos também das melhores arbitragens no nosso campeonato?
Das três equipas em campo os árbitros são e serão os menos populares. Quem nunca vociferou contra uma decisão (ou mesmo várias ...) de arbitragem enquanto vê um jogo, no Estádio ou em casa, que atire a primeira pedra. Eu faço, desde já, mea culpa.
Mas, acabando os 90 minutos, viro a página e começo logo a pensar no próximo jogo da minha equipa. Não tenho paciência para conversas de e da conspiração.
Mais do que olhar para os penalties, os cartões e as decisões que são escalpelizadas ao mais ínfimo detalhe e repetidas ad nauseam durante uma semana, não estará na altura de olharmos para a terceira equipa em campo e constatarmos que temos um desafio em termos de qualidade e de quantidade em Portugal?
No fundo, quem é que hoje quer ser árbitro? Para além de um perfil especial que é preciso ter, quem é que aguenta uma semana de pressão mediática e, dentro de campo, uma cultura de desrespeito constante e de pressão ao minuto, ao segundo? Quem é que quer sofrer represálias na sua vida privada? Olhando para o clássico da passada sexta-feira é justo dizer que a tarefa do árbitro foi muito dificultada desde o primeiro apito.
Para quem tiver dúvidas basta ver a diferença entre árbitros portugueses a atuarem em competições internacionais e no nosso campeonato, tendo Portugal um árbitro no grupo de elite da UEFA.
Para este caldo contribuem e muito duas características que, sinceramente, me ultrapassam: o número sem fim de pessoas da equipa técnica, médica e diretiva que se sentam no banco de cada equipa e que parecem harmónios, sempre a saltar quase e por vezes mesmo para dentro de campo, a cada decisão, a cada momento.
E, por último, a contestação permanente à volta do árbitro e os pedidos constantes de cartões por parte dos jogadores, aos quais se junta o papel lamentável de muitos treinadores e dirigentes desportivos.
Voltando à Liga Inglesa. Os árbitros ingleses erram e muito e são, por vezes, demasiado complacentes com faltas muito duras. Há decisões de pôr as mãos na cabeça. Mas há desrespeito constante pela autoridade do árbitro? Nem pensar. Será da cultura do jogo em Inglaterra?
Será através da liderança pelo exemplo das estruturas associativas que gerem o futebol? Será do papel pedagógico em campo de alguns destes árbitros?
Começar por fazer estas perguntas em relação a Portugal parece-me um bom pontapé de saída.
Se continuarmos a fazer de conta que não há qualquer problema, então não nos podemos admirar se num futuro próximo não tivermos árbitros de qualidade e em quantidade para apitarem jogos na Primeira Liga."

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