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quarta-feira, 16 de novembro de 2022

AUTOGOLO TÁTICO

 


"Vão jogar-se dois mundiais. O de Portugal e o de Ronaldo. Caso o primeiro não corra bem, esta entrevista poderá ter sido o autogolo tático na carreira do segundo… que quis sempre ser (o) primeiro.

Ao leitor mais atento não terá passado despercebido o neologismo autogolo tático, expressão na ordem do dia futebolístico. É Luís Freitas Lobo quem reclama direitos de autor, numa epifania motivada pela ousada saída de bola do Famalicão que culminou em golo do Sporting.
Ora a expressão cunhada pelo comentador da Sport TV assumiu uma ubiquidade que me exorta a escrever este texto, ou não tivesse sido dita ao mesmo tempo em que, por terras de Sua Majestade, o jornal The Sun divulgou partes da entrevista de Cristiano Ronaldo a Piers Morgan.
Outrora auto-descrito como rei – para os anais fica o comentário “Domingo o Rei joga” numa página de fãs na antecâmara de um amigável na pré-época –, a coroa do mais alto título da nobreza deu lugar à carapuça que Ronaldo enfiou quando percebeu que um neerlandês recém-chegado à monarquia inglesa lhe tirou o trono pelo banco.
À boleia de uma frase celebrizada por Pablo Picasso, o quadro pintado pelo internacional português foi de uma natureza morta desde a saída de Sir Alex Ferguson, trazido para a mesa desta última ceia entre CR7 e os red devils.
Aos 80 anos, o treinador mais vitorioso da história do futebol mundial tem aqui um belo quebra-cabeças para continuar a estimular o raciocínio lógico na reforma.
Qual Judas Iscariotes, Erik ten Hag foi acusado pelo madeirense de traição. “Penso que não deveria dizer isto, mas não quero saber”, completou, sobre o líder da equipa que afirmou ter preferido em detrimento do rival.
Mas nem tudo são rosas, ou túlipas, e o santo e senha inicial foi galopando até o atacante se tornar num cavalo de Troia no balneário.
Consciente do alcance planetário que teria a entrevista, esta foi a tática escolhida por Cristiano Ronaldo, de 37 anos e a menos de uma semana do Mundial, contar a sua versão da história.
No Catar, vão jogar-se dois mundiais. O Mundial de Portugal e o Mundial de Ronaldo. Sendo certo que, caso o primeiro não corra bem, esta entrevista poderá ter sido o autogolo tático na carreira do segundo… que quis sempre ser (o) primeiro."

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