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segunda-feira, 3 de julho de 2023

ARÁBIAS, AMÉRICAS E O DIABO DA IDADE

 


"Maravilhosa a conversa do Rui Miguel Tovar com Jorge Valdano, sorvam-na até ao fim aqui no zerozero, memória e paixão, e pensamento também, fazem falta mais escritos desses, bem merece o Rui que insiste como ninguém em rebuscar baús do melhor jogo, ilumina-nos sempre Valdano, que até quando diz o óbvio evita os clichés, não há exercício mais difícil, criativo de causar inveja, escreveu há dias que no PSG “o preço de ser treinador é não ser treinador”, e é mesmo, por isso não deve ir para lá Bernardo Silva, porque é pouco aliciante cada fim de semana, mesmo se há-de ser compensador cada fim de mês, antes Paris que a Arábia mesmo assim, mas não pode ser isso o mais importante aos 28, quando se acaba de tocar o céu. Para quê chegar ao Evereste e desatar a descer cheio de pressa, em vez de desfrutar? Aos 28, não.

É o diabo a idade. Bem diferente é ter 38, mesmo se invejáveis e milionários 38 como os de Cristiano Ronaldo, ou perto disso, que para lá caminha Benzema, para a Arábia e para a idade em que o caminho muda, herdeiro da coroa que o português deixou precocemente em Madrid, Karim vai ao deserto desafiá-lo a abandonar semanalmente o condomínio de luxo para um último duelo ao pôr do sol, não deixará de ser tocante vê-los baralhar o tempo, carregar de passado uma liga que anuncia futuro, dão-lhes milhões, mas restará deles mais um par de emoções, que é o melhor de toda esta história.
Como a de Messi em Miami, um jogador que é agora um sábio, a assim volto a Valdano, que o vê como “caminhante que parece assistir ao jogo de uma torre de controlo e que intervém nos jogos como um bisturi”, vai continuar a ser assim por mais um tempo e para nossa sorte, Tata Martino, que o volta a comandar, garante todavia que ele sabe é para competir e não para férias, não era preciso dizer-lhe, nem a ele nem a Busquets, fiel escudeiro de regresso à aventura ao lado de Lionel, Messi é um animal competidor, como Ronaldo, só isso os manteve tantos anos a um nível que ninguém antes atingira durante tanto tempo.
Mudam cenários e contextos, mas lá estarão como antes, à espreita do momento de intervir no lance, da hora de decidir o jogo, mais lentos de pernas mas mais sábios que nunca, e a fazer do jogo mais global, planetário, gastaremos mais umas horas em televisão de fundo verde, jogos das Américas e das Arábias, quem diria, mas benditas horas, que nos darão os melhores que vimos neste século mesmo até ao fim."

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