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terça-feira, 26 de dezembro de 2023

CRAQUES DE OLHOS FECHADOS



  Numa iniciativa solidária, António Silva e João Neves partilharam o relvado com jogadores de futebol para cegos. Recebidos com entusiasmo, jogaram de olhos vendados e até ficou uma promessa no ar...

Numa iniciativa solidária, António Silva e João Neves protagonizaram um momento diferente com jogadores de futebol para cegos, ação testemunhada pela reportagem do BPlay. António Silva e João Neves jogaram futebol para cegos → myslb.pt/r49kzy
Lado a lado, os dois atletas da equipa de futebol profissional do SL Benfica caminham já no interior das instalações do Clube Atlético Cultural (CAC). Os jovens internacionais portugueses entram no balneário e cumprimentam os jogadores de futebol para cegos, que aguardam por ambos.
Recebida com entusiasmo, a dupla encarnada prepara-se para uma experiência diferente: jogar de olhos vendados. Um dos companheiros de ocasião decide questionar o defesa-central relativamente à altura. "1,89m", responde António Silva, enquanto veste um casaco do Benfica.




Já no relvado, tudo fica às escuras. As vendas colocadas nos olhos impossibilitam ver o que os rodeia. Para ter uma melhor perceção, bate-se nos postes. A audição é, naturalmente, essencial para aferir de onde surge o som, antes de tentar o remate.
Pontapé na bola e... "Defendeu, eu ouvi", exclama António Silva para João Neves. É a vez de o médio atirar. A bola entra! "Foi na baliza, não foi"?, pergunta, enquanto tira a venda.




"Como não tenho a audição tão apurada como eles, parecia que o som dos postes vinha sempre do mesmo sítio. Não tinha a noção se era mais à esquerda ou à direita. Se não dissessem, não conseguiria perceber", afirma João Neves, à reportagem do  BPlay.
"Quando quero passar a bola a alguém, ter o meu colega a dizer eu, é para saber onde está. Claro que é difícil saber com que velocidade é que atiro a bola, mas é através do guizo que tento perceber", constata António Silva.
"Estás onde?", pergunta João Neves. "Atrás de ti, de calcanhar", pede António Silva, que recebe o esférico. "É muito difícil para eles. Devem ter sofrido muito, principalmente no início. Eles são uns guerreiros. Mesmo sem conseguir ver, estão a jogar e a tentarem divertir-se com outras pessoas que têm o mesmo problema que eles. Uma palavra para eles pela ambição e pelo espírito guerreiro", observa o central.




Jogador de futebol para cegos do CAC, Daniel Cardoso não se recorda do dia em que perdeu a visão, mas hoje não é por isso que deixa de entrar no Estádio da Luz em dia de duelos das águias.
"Desde pequenino que assisto aos jogos do Benfica. Os meus filhos são do Benfica, vibram muito comigo e já fui diversas vezes ao Estádio da Luz. Eles relatam o jogo e é fantástico", conta Daniel Cardoso, encantado com a disponibilidade da dupla benfiquista com a qual partilhou o relvado por momentos. "Até nisso são formidáveis", confessa.
Acabado de contactar com uma nova realidade, António Silva ficou sensibilizado. "Poder ver este tipo de realidades é algo muito importante, para pensarmos que nem tudo corre como queremos. Partilhar momentos com estas pessoas é muito bom, e ajudar ao máximo deixa-nos muito orgulhosos."
Também João Neves considerou que a experiência foi "incrível". "Talvez eu e António possamos repetir", diz o médio, acrescentando que este foi um momento "importante" para sentir o que é este jogo.
A terminar, surge o pedido para uma ideia de festejo futuro. Um dos jogadores de futebol para cegos tapa os olhos com a mão e... fica prometido. "Se um de nós marcar, faremos isso", garante António Silva. "Fazemos os dois", replica João Neves.

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