A 10 abril de 1970, Paul McCartney anunciava formalmente que iria deixar os The Beatles. Um rombo irremediável no porta-aviões, até porque ficou a saber-se também que John Lennon, sem anúncio público, já estava com os dois pés fora da banda de Liverpool, restando George Harrison e Ringo Starr. Um soco no estômago para os milhões de fãs da, para muitos, maior banda da história da música.
A 26 de janeiro de 2024 despediu-se o 5.º membro dos The Beatles. Jurgen Klopp comunicou que iria deixar o Liverpool no final da época, colocando ponto final num casamento que se julgava perfeito e, como tal, eterno. E o Mundo, que adora casamentos perfeitos de casais felizes, comoveu-se. Klopp está a ser gigante também na hora da despedida. Escolheu o timing, o modo e a argumentação que anula qualquer ruído ou rumor que pudesse aparecer. Tomou com mestria a mais difícil das decisões de quem está no topo: quando sair e como sair. Entender que não se tem mais forças para acrescentar, sabendo que não ficou nada por dar, é um exercício notável de humildade e humanidade. Pela forma como Klopp colocou a sua decisão, deixa de ser relevante se concordamos ou não, se compreendemos ou não. A único resposta terá de ser o respeito.
Quando se apresentou em Liverpool, em 2015, Klopp poderia ter entoado o Love Me Do, single de estreia dos The Beatles, já com a formação completa depois da entrada de Ringo Star (1962): Love, love me do/You know I love you/I’ll always be true/So please/Love me do. E Liverpool amou-o. E Klopp amou o Liverpool. E sempre foi verdadeiro. Um rockstar sem as fragilidades ou vazios de muitas vedetas. Sedutor. Apaixonado. Vibrante. Irreverente. Empático. Carismático. E, claro, competente, visionário, vencedor. Estive quase para adaptar um slogan do também alemão Roger Schmidt para dizer que quem ama o futebol… ama Jurgen Klopp.
Mas sabe a pouco. Corrijo: quem ama pessoas, tem de amar Jurgen Klopp. Quando sair, no final da época, podia até cantar The Long and Winding Road, último single lançado pelos The Beatles. A estrada foi longa - nove anos de Liverpool, praticamente os mesmos da carreira dos The Beatles -, pode até ter sido sinuosa em alguns momentos, mas foi coroada de sucesso. No adeus de Klopp, prefiro declamar o Soneto da Fidelidade, do genial brasileiro Vinícius de Moaraes, escrito no Estoril, a poucos quilómetros da Lisboa que Klopp não esquece por ter sido onde estava de férias quando recebeu o convite do Liverpool: «Eu possa me dizer do amor (que tive):/Que não seja imortal, posto que é chama/Mas que seja infinito enquanto dure.»
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