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quinta-feira, 22 de agosto de 2024

O AQUI E AGORA DE SCHMIDT E AMORIM




Se Roger Schmidt não encontra explicação para a derrota em Famalicão, condene-se; se Rúben Amorim não encontra explicação para a derrota na Supertaça, absolva-se.
Vivemos no tempo do aqui e agora, sem tempo para pensar ou refletir, sem tempo para perceber que somos prisioneiros do momento, do imediato, sem tempo de olhar em frente, para lá de dois passos, sem tempo de parar ou descansar, sem tempo de escutar ou debater, mas com tempo de sobra para sabermos que de tudo sabemos, com tempo de sobra para que de uma microanálise possamos tirar grandes conclusões, com tempo de sobra para procurar quem diz o que queremos ouvir, com tempo de sobra para não perder tempo com quem diz o que só queremos ignorar.
Esta experiência do aqui e agora, do brilho e das trevas, é ainda mais histérica e sensacional quando olhamos para o futebol, no qual vendas ou contratações, decisões táticas de treinadores ou explicações de presidentes, um remate falhado ou um penálti assinalado por um árbitro são piores que ofensas. Não haverá volta a dar quando se tenta convencer quem convencido está, quando as sentenças são produzidas em julgamentos instantâneos e sumários, sem apelo nem agravo. Não há volta a dar quando se tenta parar o vento com as mãos.
Vem isto a propósito deste início de época, no qual o Benfica começou a perder e tudo já perdeu, o Sporting começou a perder por um acidente que só razões metafísicas poderão justificar mas voltou ao caminho de um sucesso que o esperará, o FC Porto entrou a ganhar e a tudo resistirá.
Se Roger Schmidt não encontrou explicação para a derrota com o Famalicão, condene-se. Se Rúben Amorim não encontrou explicação para a derrota com o FC Porto na Supertaça, absolva-se. Pouco importa que ambos tenham explicado depois as derrotas em conferência de Imprensa. Valide-se a decisão da primeira instância.
Se o Benfica vende David Neres, cujas qualidades Schmidt elogiou, condene-se. Se o Sporting vende Mateus Fernandes, cujas qualidades Amorim elogiou, absolva-se. De nada ou pouco valerá apresentar justificações para quem vai sempre validar o que já julgou.
Não é de agora, e todos sabem, que quando se ganha tudo está bem e pouco ou nada mais importa; e que quando menos se ganha muito ou tudo o resto importa.
Isto não quer dizer, entendamo-nos, que alguém se possa eximir das responsabilidades, que haja escrutínio ou cobrança, críticas negativas ou até protestos, que se questione ou discorde, chame-se Rui Costa ou Roger Schmidt.
O que já parece mais difícil encontrar é quem seja julgado nos termos das mesmas leis. E, entendamo-nos noutro assunto, não é Rúben Amorim, de quem temos de admirar a capacidade de dizer muito mesmo sem poder dizer tudo, que está aqui em causa. Nem Roger Schmidt, que esta época, mesmo que poucos tenham dado por isso, parece esforçado em recuperar a comunicação que tantos convenceu quando ganhou. O que está aqui em causa somos todos, a nossa incapacidade de fazermos o mesmo julgamento para situações idênticas e de não ouvirmos Schmidt como, por exemplo, ouvimos Amorim.
Sendo o futebol um negócio e uma indústria do aqui e do agora, nós, jornalistas, deles somos vítimas, mas também culpados. Muitas vezes aqui errei. Só temo que não fique por aqui.

Nuno Peralvas, in A Bola 

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